A trajetória de Luis Franco Nogueira, 20 anos, demonstra como disciplina e resiliência podem transformar qualquer realidade. Diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ele enfrentou desafios no aprendizado, mas nunca permitiu que isso limitasse possibilidades. Em 2025, conquistou aprovações em Medicina na Universidade Federal do Tocantins (UFTN) e na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), onde garantiu uma bolsa integral pelo ProUni.
Apesar das aprovações recentes, Luis optou por não se matricular nessas instituições. O objetivo do estudante era cursar Medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac), e, após muito esforço, conquistou a vaga por meio do Sisu 2, no final de novembro de 2024. Ele integra a última turma do curso de Medicina da Ufac admitida pelo sistema. “Eu estava na lista de espera de medicina pelo sisu, mas não sabia se iria ser chamado, por via das dúvidas eu decidi realizar a minha inscrição para o enem 2024 e testar meu conhecimento”, declarou o estudante.
Natural de São Luís, no Maranhão, Nogueira veio para Rio Branco em 2018, quando a família se mudou após o padrasto ser aprovado em um concurso público. No entanto, a convocação demorou a acontecer, e a família precisou se reinventar. O padrasto começou a trabalhar como porteiro em uma escola particular, onde o jovem conquistou uma bolsa de estudos para um cursinho pré-vestibular.
Esse foi um ponto de virada. Com acesso a um ambiente mais estruturado e professores que o incentivaram, ele percebeu que poderia alcançar objetivos maiores. “Meu padrasto é músico, e ele passou para a banda de música da PM aqui. Mas como era ano de eleição, ele não foi chamado. Então ficamos aqui, sem ninguém, só eu, minha mãe, meu pai e minhas irmãs”, relembra.

Os desafios do ensino remoto
Luis sempre estudou em escola pública e, ao chegar ao ensino médio, viu a rotina ser transformada pela pandemia. O ensino remoto impôs desafios que tornaram o aprendizado ainda mais difícil, e a falta de acompanhamento adequado fez com que ele concluísse os estudos sem a base que considerava essencial para ingressar na universidade.
“Saí da escola sem nenhuma base, enquanto alguns colegas conseguiram entrar direto na faculdade”, relembra. Além das dificuldades com o ensino a distância, foi nesse período que recebeu um diagnóstico mais preciso sobre sua condição. Com isso, iniciou um tratamento adequado, que não apenas trouxe impactos positivos para sua vida pessoal, mas também abriu novas perspectivas para sua trajetória acadêmica.

A rotina intensa de estudos
No primeiro ano de vestibular, o estudante conquistou aprovações em Direito na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e em Relações Internacionais na PUC. Optou por cursar Direito com bolsa, após ser aprovado em terceiro lugar no Enem 2023, iniciando o curso em 2024. No entanto, logo percebeu que a área não o satisfazia plenamente — sentia que podia ir além. Com o incentivo de professores e o apoio da família, decidiu se desafiar e buscar um novo caminho: Medicina.
Para alcançar esse objetivo, ingressou no cursinho público MedaProva e intensificou os estudos. Refazia todas as provas do Enem e, ao longo da preparação, resolveu mais de 30 mil questões. “Frequentemente estudava mais de oito horas por dia, além do tempo de aula”, relembra. A rotina exigia sacrifícios. À noite, pegava ônibus para estudar, muitas vezes sem acesso a um ambiente climatizado e silencioso. Mas nada disso foi um obstáculo.
O esforço deu resultado: Luis foi aprovado em Medicina na Ufac antes do esperado. Além disso, alcançou 960 pontos na redação do Enem 2024. A marca representa uma evolução significativa em relação à sua primeira participação na prova, em 2020, quando obteve 600 pontos. Quando a tão sonhada aprovação chegou, ele não conseguiu acreditar. “Até agora nem caiu minha ficha que tô fazendo Medicina, acho que vai demorar pra cair. Mas é muito gratificante ver seu esforço dando resultados”, disse.

A conquista e os planos para o futuro
Agora estudante de Medicina do 1° período da Ufac, o jovem já traça planos para o futuro. Ele tem interesse em Psiquiatria, pois quer atuar em uma área carente no Acre e ajudar pessoas que, assim como ele, enfrentaram dificuldades no aprendizado.
“Notas escolares ruins não definem seu progresso. Não deem ouvidos às pessoas negativas. Antes da minha primeira aprovação no Enem, fui reprovado dois anos seguidos e nunca fui aluno destaque, mas olha onde cheguei. Que isso sirva não só para pessoas com TEA, mas para todos os neurodivergentes!”” , afirma.
Ele destaca que a sociedade ainda precisa compreender melhor o espectro autista e os desafios de quem tem dificuldades de aprendizado. “Muitas pessoas acreditam que todo autista é super inteligente, mas cada um tem suas particularidades. Meu QI foi avaliado como abaixo da média, minha memória é ruim, mas não deixei que isso me definisse, pelo contrário, isso me deu mais forças.”

Atualmente, Luis cursa Medicina na Ufac e não pretende sair de Rio Branco após a formação. O interesse pela Psiquiatria reflete a própria experiência. Ele lembra que, durante a pandemia, chegou a duvidar de si mesmo, sentindo-se desmotivado. Mas encontrou forças e inspirações para não desistir.
De um jovem que lutava para passar nas recuperações escolares a um estudante aprovado em um dos cursos mais concorridos do país, o estudante prova que barreiras podem ser superadas.
Com informações A Gazeta Net