booked.net

Inflação encolhe venda de leite longa vida, que tem queda histórica

Declínio foi de 3,5% em 2021; essa foi apenas a segunda vez que o segmento fechou um ano com retração.

Compartilhe:

As vendas da indústria de leite longa vida diminuíram 3,5% no ano passado, para 6,7 bilhões de litros, segundo levantamento que a Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV) acaba de concluir. A receita do segmento foi de R$ 23 bilhões, afirma a entidade, que reúne as maiores empresas do segmento.

O declínio em 2021 foi histórico. Até então, as vendas da indústrias só haviam caído em 2018, quando a greve dos caminhoneiros prejudicou o transporte. Ainda assim, naquele ano, o recuo foi de 2%.

“Com a diminuição da renda da população e a alta dos preços das matérias-primas, o ano de 2021 representou um grande desafio para a indústria de alimentos e para a cadeia láctea em particular”, resume Laércio Barbosa, presidente da ABLV.

A associação chegou a projetar uma queda até maior, de 8%. Em novembro do ano passado, a pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Rosana de Oliveira Phitan e Silva, disse que, em muitos anos pesquisando as indústrias da cadeia, nunca tinha escutado tantos relatos de retração nas vendas como naquele momento.

Mas a projeção do percentual de queda calculada pelas empresas não se confirmou. Barbosa avalia que a recuperação no fim do ano impediu que o declínio fosse mais acentuado.

Leves sinais de melhora

A queda histórica das vendas do longa vida — ou UHT, a commodity dessa cadeia — evidencia a corrosão do poder de compra do brasileiro. O cenário econômico segue complicado em 2022, mas a indústria já espera um ano melhor. Segundo o dirigente, programas de auxílio do governo e a melhora de alguns indicadores, como o do emprego, acabam tendo reflexos sobre o consumo de alimentos mais básicos, como o leite.

“O ano de 2022 começou com um ligeiro otimismo para a cadeia, com uma pequena redução dos preços das commodities [soja e milho] e do dólar e também uma discreta retomada do consumo”, disse.

Para a indústria, no entanto, o desafio para comprar a principal matéria-prima, o leite cru, poderá prosseguir nos próximos meses. O volume de produção no campo diminuiu por causa do clima desfavorável e da alta generalizada dos insumos, sobretudo os relacionados à alimentação animal — os quais, na visão dos produtores, ainda estão em patamares elevados.

“A nova safra está custando o dobro da anterior”, afirma Roberto Jank Jr., diretor da Fazenda Agrindus, que está entre as cinco maiores produtoras de leite do país, e vice-presidente da Abraleite, que reúne produtores. Com o aumento dos custos e o clima desfavorável, a produção está em queda há três trimestres seguidos.

Jank lembra que o leite tem o agravante de absorver os aumentos de custos em dólares sem capturar valor de vendas em exportações, como ocorre com outras cadeias, a exemplo de carnes e ovos. “Trata-se de uma proteína animal exclusiva de mercado doméstico”, diz. As companhias que atuam no Brasil têm buscado espaço no mercado internacional, mas o movimento ainda é incipiente.

Por Valor Econômico

Compartilhe:

LEIA MAIS

Rolar para cima