
Redação Juruá Online
Durante toda esta semana, lideranças dos 14 territórios indígenas do Juruá estão reunidas em Cruzeiro do Sul para debater estratégias de desenvolvimento ecológico que conciliem a proteção das terras indígenas com o avanço econômico e social da região. A iniciativa é organizada pela Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ) e segue até esta sexta-feira (09).
Francisco Piyãko, coordenador da OPIRJ, explicou que o encontro busca compartilhar experiências, analisar projetos em andamento e articular novas parcerias que possam atender as demandas específicas de cada povo. “Cada território tem sua realidade. Discutimos proteção territorial, fortalecimento das tradições, segurança alimentar e estratégias de desenvolvimento. É um processo longo porque é um espaço de escuta e aprendizado coletivo”, destacou Pianko.

Entre as ações já em execução, estão projetos voltados para segurança alimentar — como a criação de galinheiros e sistemas agroflorestais —, além de iniciativas culturais, como festivais e encontros que ajudam a manter vivas as tradições dos povos da floresta. Um dos próximos eventos previstos é o Festival dos Povos da Floresta, que será realizado em Cruzeiro do Sul.


Preservação cultural e combate às invasões
O encontro também tem sido espaço para o debate sobre os desafios enfrentados pelos territórios indígenas, como o combate às invasões e a fiscalização das áreas. Edilson Nukekuin, representante geral do povo Nukekuin, da Terra Indígena Campinas-Catuquina, reforçou a importância de manter a identidade cultural de seu povo e proteger as aldeias de pressões externas.
“Mesmo com a BR-364 passando próxima e a cidade perto, o nosso povo mantém 100% do idioma, nossas pinturas, artesanato, medicina tradicional. Não temos famílias morando na cidade, todos estão na aldeia. Isso é fundamental para preservar quem somos e garantir um futuro digno às próximas gerações”, disse Edilson.
Ele também apresentou no encontro a implantação de casas de monitoramento em seu território e a formação de jovens indígenas como monitores ambientais. “Hoje temos entre 25 e 40 pessoas preparadas para essa atividade. Mas isso precisa caminhar junto com a atuação da FUNAI, Polícia Federal, IBAMA e outras autoridades, pois são áreas legalmente protegidas e merecem respeito”, afirmou.

Mobilização regional
Além das discussões internas, as lideranças indígenas destacaram o papel da UPIGE — a União dos Povos Indígenas do Vale do Juruá — como voz articuladora junto a instituições governamentais e organizações parceiras. A expectativa é que, a partir dessas reuniões, novas estratégias sejam desenhadas para ampliar a participação dos povos indígenas nas decisões sobre o futuro da região.
O debate segue até sexta-feira, reunindo cerca de 80 representantes de diversas etnias, reafirmando o compromisso com a proteção territorial, o fortalecimento cultural e o desenvolvimento sustentável no Juruá.