“Não desistam da educação, ela é o começo e não vai ser o fim”. Essa declaração é do estudante de mestrado Douglas Mero, de 25 anos, que vende pirulito na Universidade Federal do Acre (Ufac) para conseguir se manter até que a bolsa no valor de R$ 1,5 mil que ele vai receber comece a ser paga.
O mestrando, que é natural de Rondônia (RO) e não tem familiares no Acre, mora na capital acreana, se formou em artes cênicas na Ufac, e começou a cursar mestrado também em artes cênicas na instituição, em agosto deste ano.
Sem receber o benefício, e impedido de conseguir um emprego, já que os horários do curso são integrais, a saída que encontrou foi vender pirulitos a R$ 0,50 a unidade para ajudar nas despesas. “Como os nossos horários não são definidos, não consegui arrumar emprego esse período e por isso acabei ficando bem apertado financeiramente.”
O mestrando é um dos estudantes que têm sido afetados pelos cortes no orçamento de instituições de ensino, mas, segundo ele, vai continuar fazendo o que pode para não abandonar os estudos. Assim como muitos estudantes brasileiros, ele enfrenta diariamente as dificuldades de quem busca educação. Para os mestrandos, essas dificuldades se tornam ainda piores devido ao nível de exigência, a grande quantidade de trabalhos acadêmicos, dificuldades financeiras e de conciliar trabalho e estudo.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Ufac para saber quando a bolsa vai começar a ser paga e se o pagamento ainda não começou a ser efetuado por causa do corte de verbas que as universidades federais sofreu e aguarda retorno.
Mero mora no bairro Apolônio Sales em uma casa cedida e compartilhada com outras pessoas e fala que precisa ajudar nas despesas, além de conseguir se alimentar e pagar o transporte até a faculdade. Por isso, ele passa o dia todo na Ufac e faz as três principais alimentações no Restaurante Universitário.
“Eu moro muito longe, venho para cá [Ufac] no primeiro horário do ônibus, às 6h, às vezes quando perco venho no das 7h. Quando chego, tomo café, depois almoço e também janto. O ticket é R$ 1 e a passagem de ônibus para estudante também é R$ 1. Aí, com a venda dos pirulitos eu consigo comprar os meus tickets e pagar as minhas passagens de ônibus. Tenho que comprar comida para casa, tem que pagar conta de energia, água, então tá bem apertado mesmo”, desabafa.
A Ufac teve a verba reduzida em mais de R$ 8 milhões com o bloqueio orçamentário de 14,5% anunciado pelo governo federal no dia 27 de maio desta ano. O bloqueio nas verbas para universidades e institutos federais foi anunciado pelo Ministério da Educação. No dia 6 deste mês, um novo corte de R$ 2,2 milhões foi anunciado, mas o governo voltou atrás e disse que ia liberar orçamento.
‘A educação é o melhor caminho’
Enquanto o valor da bolsa não é disponibilizado, Mero conta que vai continuar se mantendo e vendendo os pirulitos. Mesmo com todas as dificuldades, ele acredita que a educação é o melhor caminho e diz que vai continuar vendendo os doces para ajudar quem precisar de alimento ou dinheiro para transporte.
“Não desistam da educação, ela é o começo e não vai ser o fim, ela é o começo porque vai abrir muitas portas e não vai ser o fim porque depois de nós virão outros. Durante a minha graduação houve momentos em que eu não tinha dinheiro para comprar um RU, então, eu vou continuar fazendo isso pelas pessoas que não têm. Então, eu deixo aqui um recado para as pessoas que estudam aqui na universidade que quando precisarem de um real para comprar um RU podem contar comigo que eu vou estar ajudando vocês.”
Com informações g1