Ladeira do Bode, Ladeira da Remela, Morro dos Quibes e estrada Tiro ao Alvo. Não é à toa que Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do Acre, é conhecida como a cidade das ladeiras. Com um revelo que difere do restante dos municípios acreanos, a cidade foi se desenvolvendo em meio aos altos e baixos e chama a atenção com ladeiras que ultrapassam os 10 metros de altura.
Algumas ladeiras foram batizadas pelos próprios moradores com nomes inusitados. Um dos morros mais altos de Cruzeiro do Sul é o Morro da Glória, localizado na região central. O nome é uma homenagem à padroeira Nossa Senhora da Glória, que teve a primeira igreja construída no alto do morro por arquitetos alemães, na década de 1930.
As ladeiras e morros espalhados por toda a cidade chamam atenção até mesmo de pesquisadores, como o engenheiro agrônomo e mestre em ciência do solo, Elízio Ferreira Frade Júnior, da Universidade Federal do Acre (Ufac), que realiza um estudo sobre o solo da região.
De acordo com o pesquisador, a resposta para a formação do relevo ondulado de Cruzeiro do Sul pode ser encontrada no Peru, país que faz fronteira com o município. Isso porque, a formação geológica seria resultado do choque entre duas placas tectônicas: a Placa de Nazca e a Placa Sul-Americana, fenômeno que deu origem ainda a Cordilheira dos Andes, cerca de 4 milhões de anos atrás.
“O fato desses municípios do Vale do Juruá estarem perto do Peru onde aconteceu esse fenômeno entre as placas tectônicas, causou um abalo na estrutura da terra nesta área de fronteira. E quando acontece esse choque, o impacto causa uma contração na terra formando ondulações” ,explica.
Ele diz ainda que outros estudos feitos por pesquisadores da Ufac, indicam que antes do movimento das placas tectônicas, o Vale do Juruá, região onde fica Cruzeiro do Sul e mais quatro municípios, era uma bacia sedimentar coberta por gelo. Com o passar do tempo, parte da Amazônia foi se transformando em savana e a terra foi ficando seca.
As famosas ladeiras de Cruzeiro do Sul. Foto: Cassiano Marquez/Facebook-Acre e suas belezas
Mas não é apenas na cidade que as ondulações predominam. De acordo com Elízio Ferreira Frade Júnior, os mesmos fenômenos geológicos que deram origem aos morros de Cruzeiro do Sul, também influenciaram a formação de uma bacia hidrográfica diferenciada.
“Os rios do Acre, principalmente nesta região do interior, têm características diferentes dos rios de outros estados do Brasil. Essa diferença é em virtude da mudança que ocorreu na formação do solo. Quando a terra encolhe, a água dos rios procura outros caminhos para continuar sua passagem”, comenta.
Essas características do revelo, segundo Frade Júnior, limitam o setor da agricultura familiar, mas, em contrapartida, favorecem o desenvolvimento de atividades como a piscicultura.
“Estamos na região próxima ao Oceano Pacífico, onde ainda existe a maior concentração de floresta nativa do mundo, o volume de água que cai aqui é elevadíssimo, cerca de 2,2 mil milímetros por ano, enquanto em outros estados que estão fora da Amazônia, esse volume é no máximo de 1,3 mil milímetros por ano. Quanto mais chuva, o solo fica mais fraco para o plantio, por outro lado, o relevo nas partes baixas da terra retém a água o que facilita a construção de tanques para a criação de peixes” diz.
Com informações G1