O sindicato que representa mais de 150 mil atores de cinema e televisão anunciou nesta quinta-feira (13) uma greve a partir da meia-noite, em solidariedade aos roteiristas, que já tinham cruzado os braços em maio — forçando com isso a primeira paralisação total de Hollywood em 63 anos.
Veja aqui o que você precisa saber sobre o movimento.
1) Por que os atores e roteiristas estão em greve?
Normalmente, a motivação é financeira, e aqui não é diferente. Acontece que a ascensão do streaming e os desafios impostos pela pandemia complicaram a vida dos estúdios, muitos dos quais enfrentam dificuldades financeiras — como os atores e roteiristas, que exigem remuneração mais adequada e novas proteções em um ambiente de trabalho que vem mudando rapidamente.
As duas categorias exigem um aumento no pagamento dos residuais (uma espécie de royalty) por parte dos serviços de fluxo contínuo, uma vez que suas séries normalmente têm menos episódios que as de TV. Antes, quando um seriado de televisão fazia sucesso, tanto atores como roteiristas podiam contar com uma longa sequência de pagamentos, mas o esquema de transmissão contínua mudou o sistema a tal ponto que os prejudicou. Ambos os grupos também exigem proteções agressivas em relação ao uso da inteligência artificial para a preservação de empregos.
Em junho, o alto escalão dos astros enviou um abaixo-assinado à administração do sindicato, reiterando sua disposição de engrossar a greve e se referindo ao momento atual como “um ponto de inflexão sem precedentes no setor”.
2) Qual a posição dos estúdios de Hollywood?
A Aliança dos Produtores de Cinema e Televisão, representante dos grandes estúdios e empresas de streaming, diz ter oferecido “aumentos históricos de salário e residual”, limites mais altos de contribuição para aposentadoria e plano de saúde, proteções em testes, uma proposta “revolucionária” em relação à IA (inteligência artificial) e outros benefícios para suprir as reivindicações.
Os estúdios de Hollywood frisam que a turbulência no setor também lhes é prejudicial. Uma vez que o público está voltando aos poucos aos cinemas e os telespectadores deixaram de lado os canais abertos e de cabo em nome do streaming, muitos viram o preço de suas ações despencar e as margens de lucro encolherem. Alguns apelaram para as demissões em massa ou cancelaram projetos (às vezes, ambos).
3) O que vai acontecer com meus seriados e filmes?
Vai demorar um tempo para o público notar alguma mudança, pois a maioria dos filmes programados para lançamento neste ano já foi rodada — o que não é o caso da TV, que já sente os efeitos da greve. Se esta se prolongar, algumas atrações populares podem experimentar atrasos nas próximas temporadas.
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Os programas de entrevistas de fim de noite já estão na base da reprise por causa da paralisação dos roteiristas (mais longa), e a grande maioria das produções já parou ou foi suspensa. Grandes atrações como Jaqueta Amarela, Ruptura e Stranger Things travaram logo depois do início da paralisação dos roteiristas; ainda não se sabe se as próximas temporadas sofrerão atrasos. A Disney anunciou várias mudanças no calendário de lançamentos cinematográficos de junho pelo mesmo motivo.
Agora, com os atores engrossando o movimento, a confusão só se agravou. Segundo a FilmLA, que monitora a atividade das produções, não foram emitidas autorizações de filmagens externas para TV durante as duas primeiras semanas de julho. As atrações que já finalizaram essa etapa e estão em pós-produção não serão afetadas, uma vez que o trabalho restante não envolve nem roteiristas nem atores.
A participação em produções televisivas ou cinematográficas com qualquer estúdio está fora de questão; as exceções são poucas, o que significa que daqui a alguns meses — no início da programação de outono (setentrional) — o público passará a perceber mudanças mais significativas na programação. No caso do canal ABC, por exemplo, a temporada terá início com atrações noturnas diárias como Celebrity Wheel of Fortune, Dancing With the Stars e Judge Steve Harvey, além de reprises de Abbott Elementary; já a Fox terá Celebrity Name That Tune, The Masked Singer e Kitchen Nightmares, que não seguem roteiro.
4) Quanto tempo a greve vai durar?
Ninguém sabe. Os roteiristas estão fazendo piquete há mais de 70 dias, e seu sindicato, o Writers Guild of America, ainda não voltou a negociar com os estúdios.
A última vez que as duas categorias cruzaram os braços ao mesmo tempo foi em 1960, quando Ronald Reagan era presidente do Screen Actors Guild. Os roteiristas já pararam diversas vezes, às vezes por longos períodos: em 2007, foram cem dias. A última grande greve dos atores foi em 1980 e durou mais de três meses.
5) Como fica a promoção dos programas e filmes atuais?
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Segundo a versão oficial, em curto prazo não haverá promoção de projetos atuais, seja online, seja presencialmente, por isso não espere ouvir Ryan Gosling falando de Barbie tão cedo. Essa decisão pode ser um desastre para a Comic-Com de San Diego, os festivais de cinema dos próximos meses, como Veneza e Toronto, e as estreias já agendadas, como a de Oppenheimer, no dia 17, em Nova York.
Mesmo a 75ª edição do Emmy Awards, cujas indicações foram anunciadas na quarta (12), está ameaçada, com a organização já discutindo a possibilidade de adiar a cerimônia, marcada para 18 de setembro, por alguns meses.
Por R7