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Dia do Livro: presidente da Academia Acreana de Letras dá dicas de como se apaixonar por leitura

Adalberto Queiroz é professor aposentado, cineasta e presidente da Academia Acreana de Letras

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Inca Garcilaso de La Vega, autor de “Historia general del Perú” (1616), é reconhecido como o “primeiro mestiço letrado da América”, devido à sua ascendência peruana-espanhola. Miguel de Cervantes Saavedra, criador de “El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha” (1605), é um renomado escritor espanhol conhecido pela sua obra sobre Dom Quixote e Sancho Pança. William Shakespeare, dramaturgo inglês, é autor de obras icônicas como Romeu & Julieta, Otelo, Hamlet, Rei Lear.

Além de suas significativas contribuições para a arte e literatura global, esses três autores compartilham algo mais específico em comum: todos faleceram em 23 de abril. Por esta razão, em 1995, a UNESCO determinou que este dia seria celebrado como o “Dia Mundial do Livro”, em homenagem a esses clássicos da escrita.

“O livro é o ponto de encontro das mais essenciais liberdades humanas, nomeadamente a liberdade de expressão e de edição”, afirmou a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, em 2018. Neste ano, o ContilNet entrevista Adalberto Queiroz, presidente da Academia Acreana de Letras (AAL), professor aposentado e cineasta, discutindo as atividades da AAL em 2024, sua trajetória e o papel dos livros em um mundo cada vez mais dominado por telas do que por páginas.

Academia Acreana de Letras no Dia do Livro

Fundada em 17 de novembro de 1937, a Academia Acreana de Letras (AAL) nasceu no Palácio Rio Branco por Amanajós de Araújo e um grupo de intelectuais da época. É a instituição cultural máxima do Acre. Conta, nos seus quadros, com as personalidades mais importantes no campo das Letras, das Artes e da Literatura. Ela visa cultivar, estimular o culto ao idioma pátrio, a produção, a divulgação literária, a pesquisa científica e social.

Imortais em pose para a foto oficial com suas vestes talares e o colar da imortalidade/Foto: Selmo Melo

Queiroz exemplifica este objetivo na seguinte fala:

“Temos a oportunidade de visitar diversas escolas, desde o Ensino Fundamental até escolas militares e penitenciárias. Coordenamos um programa que leva mensagens àqueles privados de liberdade. Eles têm a oportunidade de nos ouvir, receber uma palavra, um poema, um modo de comunicação, e até mesmo um livro de Imortais da Academia”, comenta.

A AAL possui 40 membros efetivos e segue o modelo da brasileira que por sua vez é semelhante à Academia Francesa de Letras. A diferença é que a Academia Francesa aceita membros de outros países, enquanto a ABL e a AAL aceitam apenas escritores brasileiros. Em seus 87 anos, a organização teve os seguintes presidentes:

1 – Amanajós de Alcântara Vilhena de Araújo – 1937 -1938;

2 – Paulo de Menezes Bentes – 1938 -1967;

3 – Omar Sabino de Paula – 1967 – 1988;

4 – Mauro D’ Ávila Modesto – 1988 – 1996;

5 – Clodomir Monteiro da Silva – 1996 – 2015;

6 – Luísa Galvão Lessa Karlberg – 2015-2022;

7 – Adalberto Queiroz – 2023- atualmente.

Academia de Letras pela primeira participação na Expoacre/Foto: Junior Aguiar/Secom

A Drª. Luísa Karlberg, ex-presidente da academia, afirmou em 2022 que ela “é sítio onde o passado se faz presente, graças ao poder da palavra, o presente será a memória do passado e a construção do futuro”. Queiroz lista os esforços hoje em dia para a permanência deste legado.

Desde um stand na Expoacre do ano passado, que contou com mais de 2,5 mil pessoas, passando pela sede no Museu dos Povos Acreanos, inaugurada em 2023, que já recebeu mais de 6 mil pessoas, de ministros a turistas. A academia está mais viva que nunca:

“Ainda estamos trabalhando até o final do ano para organizar nossa série. Pretendemos criar a galeria dos Imortais, a galeria dos ex-presidentes e também um memorial para aqueles que faleceram ao longo dos 87 anos”, disse Queiroz.

Com atividades voltadas ao mês das mulheres, dia dos povos indígenas, o Dia Mundial do Livro não será diferente, garante o professor. Apesar de empecilhos de agenda, a comemoração ficou para a próxima segunda-feira (29), no Café do Teatro, com um encontro de leitores e autores.

Adalberto e os Livros

“Desde criança, eu sempre gostei de ler. Comecei com gibis e revistas, como os da época da revista Manchete. Também curtia os livros do Zorro e do Tarzan, além de ter uma grande admiração pelos livros de cordel, que eu comprava com frequência”, fala Queiroz sobre como a literatura entrou em sua vida.

Adalberto Queiroz na cerimônia de posse da nova diretoria executiva da Academia Juvenil Acreana de Letras (Ajal)/Foto Juan Diaz, ContilNet

A partir dessa paixão pelo cordel, por exemplo, Queiroz desenvolveu rimas originais para festas juninas, vivenciando as letras. A escritora italiana Elena Ferrante diz que “tornar-se” sempre foi um verbo que a obcecou; ela queria se tornar, embora nunca soubesse o quê. Queiroz ecoa esse sentimento e se tornou cineasta, professor e muito mais.

Sobre seu trabalho no cinema, escreveu inúmeros roteiros que contam diversas inspirações nos personagens e contos que encontrou nos escritos que teve acesso na sua juventude.

Quando perguntado sobre seu livro favorito, Queiroz afirma que prefere os de filosofia e os clássicos:

“Eu gosto bastante dos best-sellers escritos por grandes autores. Tenho um grande apreço pela literatura produzida por pessoas que deixaram sua marca no mundo, como os americanos e ingleses, como William Shakespeare [um dos que originou a data de hoje]”, comenta.

William Shakespeare/Foto: Reprodução

Ele afirma que com o avanço da tecnologia, os livros estão sendo deixados de lado cada vez mais, o que resulta na perda de potenciais autores, poetas e escritores. Por isso, ações como o fortalecimento da Academia Juvenil Acreana de Letras (AJAL) são essenciais para que os mais jovens possam descobrir este mundo.

“Este ano, vamos abrir a Academia de Letras de Cruzeiro do Sul para promover eventos que atraiam jovens, visando afastá-los do caminho da perdição”, desenvolve.

Para todos os futuros autores, poetas e escritoras

Para Adalberto Queiroz, o dia do livro não é só 23 de abril, mas todos os dias. 

“Se você tem preguiça de ler, faça assim: pegue qualquer livro. Leia apenas uma página, sabe? E se você ler uma página todos os dias, no final de um ano, terá lido 365 páginas. A diferença no conhecimento, domínio da língua, pontuação e tudo que é peculiar à nossa língua, além da diferença cultural e intelectual para alguém que não lê nenhuma, é enorme”, refletiu o professor aposentado.

Adalberto Queiroz é um cineasta com dezenas de roteiros/Foto: ContilNet

Para quem está começando, Queiroz indica três leituras fáceis de encontrar: a Bíblia, a Constituição Brasileira e a Constituição Acreana. Além dos hinos do nosso país e estado, afinal, segundo ele, não há como respeitar a beleza, os deveres e direitos desses documentos sem conhecê-los.

Ao final da entrevista, Adalberto Queiroz reforça o convite para o encontro no Café do Teatro no dia 29, segunda-feira, onde serão realizadas conversas sobre literatura, arte e dramaturgia. Afinal, o presidente da AAL acredita que não há hora ruim para debater cultura, política e dramas humanos, nem para começar um bom livro.

Fonte: ContilNet

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