A questão dos domicílios vagos no Brasil é um tema complexo e urgente, especialmente considerando o déficit habitacional significativo que o país enfrenta. No Acre não é diferente, de acordo com o Censo 2022, cerca de 18,2% dos seus domicílios estão desocupados, totalizando aproximadamente 57,8 mil domicílios, principalmente casas e apartamentos.
Na tabela a seguir destacam-se os números para o Acre e para todos os seus municípios.
Acre e Municípios: Domicílios ocupados e não ocupados (Domicílios) – Censo demográfico de 2022 | |||||
Acre e Município | Total de domicílios | Total de domicílios ocupados | Total de domicílios não ocupados Total | Não ocupado – de uso ocasional | Não ocupado – vago |
Acre | 318 758 | 261 001 | 57 757 | 20 281 | 37 476 |
Acrelândia | 5 690 | 4 461 | 1 229 | 367 | 862 |
Assis Brasil | 2 992 | 2 426 | 566 | 320 | 246 |
Brasiléia | 10 917 | 8 665 | 2 252 | 1 048 | 1 204 |
Bujari | 5 832 | 4 193 | 1 639 | 812 | 827 |
Capixaba | 4 209 | 3 468 | 741 | 351 | 390 |
Cruzeiro do Sul | 31 818 | 26 737 | 5 081 | 2 035 | 3 046 |
Epitaciolândia | 8 110 | 6 477 | 1 633 | 720 | 913 |
Feijó | 11 407 | 9 366 | 2 041 | 1 090 | 951 |
Jordão | 2 444 | 2 003 | 441 | 248 | 193 |
Mâncio Lima | 7 043 | 5 678 | 1 365 | 831 | 534 |
Manoel Urbano | 4 002 | 3 242 | 760 | 334 | 426 |
Marechal Thaumaturgo | 5 313 | 4 321 | 992 | 559 | 433 |
Plácido de Castro | 7 229 | 5 552 | 1 677 | 600 | 1 077 |
Porto Walter | 3 278 | 2 611 | 667 | 459 | 208 |
Rio Branco | 148 672 | 123 861 | 24 811 | 4 989 | 19 822 |
Rodrigues Alves | 5 343 | 4 197 | 1 146 | 560 | 586 |
Santa Rosa do Purus | 1 607 | 1 344 | 263 | 144 | 119 |
Senador Guiomard | 9 208 | 6 961 | 2 247 | 625 | 1 622 |
Sena Madureira | 14 851 | 12 627 | 2 224 | 1 117 | 1 107 |
Tarauacá | 13 592 | 11 273 | 2 319 | 1 217 | 1 102 |
Xapuri | 7 943 | 6 090 | 1 853 | 1 042 | 811 |
Porto Acre | 7 258 | 5 448 | 1 810 | 813 | 997 |
Fonte: IBGE – Censo Demográfico – 2022 |
Municípios como Bujari, Porto Acre, Senador Guiomard, Xapuri, Plácido de Castro, Acrelândia, Rodrigues Alves, Brasiléia, Porto Walter e Epitaciolândia, possuíam, em 2022, mais de 20% de seus domicílios de uso ocasional ou vagos, durante a realização do censo. Os maiores municípios do Acre, Rio Branco e Cruzeiro do Sul possuíam, respectivamente, 16,6% e 16% de seus domicílios desocupados, totalizando quase 30 mil. Desses, quase 23 mil estavam vagos. Como o déficit habitacional do Acre foi estimado em 24 mil unidades, somente a utilização desses domicílios vagos, nos dois maiores municípios do Acre daria para cobrir a quase totalidade do déficit.
A maioria dos domicílios vagos são constituídos de casas e apartamentos. São 93,2% do total, sendo 47,2 mil casas e 6,8 mil apartamentos. Na tabela abaixo destacam-se os números de casas e apartamentos vagos, em todos os municípios, durante a pesquisa realizada pelo censo, em 2022. Observa-se que além de casas e apartamentos o IBGE pesquisou outras espécies e tipos de domicílios, como: casa de vila ou em condomínio, habitação em casa de cômodos ou cortiço, habitação indígena sem paredes ou maloca e estrutura residencial permanente degradada ou inacabada.
Acre e Municípios: Domicílios não ocupados, por espécie e tipo de domicílio (Casa e apartamento) – Censo de 2022 | ||||
Acre e Municípios | Casas | Apartamentos | ||
número | % | número | % | |
Acre | 47 208 | 81,4 | 6 835 | 11,8 |
Acrelândia | 1 124 | 91,5 | 6 | 0,5 |
Assis Brasil | 526 | 92,9 | 16 | 2,8 |
Brasiléia | 1 832 | 81,4 | 295 | 13,1 |
Bujari | 1 608 | 98,1 | 4 | 0,2 |
Capixaba | 696 | 93,9 | 16 | 2,2 |
Cruzeiro do Sul | 4 567 | 89,9 | 442 | 8,7 |
Epitaciolândia | 1 423 | 87,1 | 120 | 7,4 |
Feijó | 1 918 | 94,0 | 30 | 1,5 |
Jordão | 401 | 90,9 | 6 | 1,4 |
Mâncio Lima | 1 322 | 96,8 | 19 | 1,4 |
Manoel Urbano | 702 | 93,4 | 14 | 1,8 |
Marechal Thaumaturgo | 945 | 95,3 | 2 | 0,2 |
Plácido de Castro | 1 495 | 89,2 | 25 | 1,5 |
Porto Walter | 661 | 99,1 | 5 | 0,8 |
Rio Branco | 17 120 | 69,0 | 5 416 | 21,8 |
Rodrigues Alves | 1 074 | 93,7 | 2 | 0,2 |
Santa Rosa do Purus | 197 | 74,9 | 0 | 0,0 |
Senador Guiomard | 1 922 | 85,5 | 143 | 6,4 |
Sena Madureira | 2 022 | 90,9 | 131 | 5,9 |
Tarauacá | 2 165 | 93,4 | 60 | 2,6 |
Xapuri | 1 711 | 92,3 | 58 | 3,1 |
Porto Acre | 1 777 | 98,2 | 25 | 1,4 |
Fonte: IBGE – Censo Demográfico de 2022 |
Os teóricos do urbanismo e da demografia explicam que o crescimento dos domicílios vagos se dá pelo crescimento da população e pelo processo de transformação urbana que ocorre quando pessoas com maior renda se mudam para bairros com valores imobiliários mais baixos ou pelas maiores possibilidades de acesso a casas de veraneio e segundas residências.
Os números indicam um desencontro entre déficit habitacional e vacância, que resultam no aumento de domicílios vagos em todo o Acre. Com isso, é preciso que autoridades, e técnicos, principalmente profissionais da arquitetura e urbanismo, compreendam o impacto das políticas públicas voltadas ao tema para a identificação desses imóveis para uma utilização adequada à sua totalidade.
Como a coluna tratou no artigo de 13/07/2023, demógrafos e urbanistas defendem que há alternativas na legislação para estimular a ocupação de propriedades vagas, como o IPTU progressivo (aumento da alíquota para imóveis sem uso), que poderiam ser adotadas junto a políticas para reduzir o tamanho do déficit. Defendem também que o programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, deve ser cada mais seletivo, lançando mão de outras estratégias, como o aluguel social, melhoria de unidades existentes ou transformação do uso de imóveis comerciais, por exemplo.
Além das alternativas citadas acima, outros técnicos do setor defendem a requalificação de imóveis, através de investimentos na reforma e adaptação de imóveis desocupados para que possam ser utilizados como moradias dignas; incentivos Fiscais, oferecendo benefícios fiscais para proprietários que colocam seus imóveis vagos no mercado de aluguel ou venda a preços acessíveis e uma ocupação planejada, através de programas de ocupação planejada que visam utilizar imóveis vagos em áreas urbanas para reduzir a superlotação em outras regiões e melhorar a distribuição populacional.
Na notícia: “Como incorporar domicílios vagos às políticas habitacionais?”, publicado no site da FNA – Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, no dia 19/08/2024, destaca que o retrato atual da disparidade do acesso à moradia no Brasil carece da unidade de ação dos movimentos populares com os gestores públicos, tendo em vista que muitos desses imóveis vazios poderiam ser desapropriados e destinados para as famílias que moram em domicílios precários, que tem a renda comprometida com aluguel ou que estejam em situação de rua. Logo, a quantidade de domicílios vazios, associada às necessidades habitacionais do país, reforça o papel central dos arquitetos e urbanistas no enfrentamento destas disparidades, a necessidade de parcerias e o diálogo interfederativo, junto às autoridades nos poderes legislativo, executivo e judiciário.
O Acre que conta com um déficit habitacional de 24 mil domicílios e apresenta mais de 57 mil domicílios não ocupados (20,2 mil de uso ocasional e 27,6 mil vagos), precisa pensar em políticas para não só ajudar a reduzir o déficit habitacional, mas também contribuir para a revitalização de áreas urbanas e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Uma boa pauta para os prefeitos eleitos e reeleitos no pleito eleitoral de outubro.
Orlando Sabino escreve às sextas-feiras no Juruá Online.