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Coluna de Vitória Maciel – A prática de correrias no Alto Juruá

As correrias aconteceram em muitos locais e por muitos anos no Alto Juruá e no Acre como um todo. Isso provocou a extinção de povos inteiros e redução significativa das comunidades sobreviventes, além de marcas cruéis na história indígena acreana.

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O povoamento oficial da Alto Juruá começou a ser registrado no século XIX, mas sabe-se que o território já era ocupado por indígenas, descendentes de ancestrais asiáticos que imigraram para a América do Sul há milhares de anos. Com o grande valor comercial da borracha e aumento da industrialização na Europa, a exploração da seringa se tornou uma atividade lucrativa, que atraiu muitas pessoas para o interior amazônico. No Alto Juruá, o cenário encontrado por esses exploradores era de algumas comunidades de nativos, e essa conjuntura desagradava a maioria dos novos habitantes da região por diversos motivos, sendo os principais deles: o preconceito que já era solidificado na sociedade, a resistência desses indivíduos frente a ameaça de sua segurança e bem-estar, e ainda a localização privilegiada dessas comunidades indígenas que eram construídas em terrenos que continham muitas árvores de seringueira, tinham um solo propício para a agricultura, eram lugares “bons de caça”, além possuírem muitos mananciais que eram fonte de água e alimento.

Como forma de combate aos indígenas, dominação de suas terras e supressão de sua cultura, o homem branco tornou popular as práticas de correrias, que consistiam basicamente em ataques organizados por patrões de seringais. Esses ataques ocorriam de surpresa e era claramente uma ação de extermínio. Os poucos nativos que sobreviviam eram presos e se tornavam escravos dos barracões, proibidos de praticar sua cultura, de falar sua própria língua e produzir seu próprio alimento. Essa ação não era vista como crime, pelo contrário, ela legitimada pelas autoridades. É possível encontrar alguns registros historiográficos que diziam que a maioria desses indígenas eram “mansos” e que poderiam viver com os “civilizados”, pois seriam uteis à pátria se fossem aproveitados como hábeis agricultores, caçadores e no transporte fluvial. Leis equiparavam os índios aos menores de idade. O governo propunha políticas paternalistas e na sociedade também era consolidada a visão de que esses sujeitos estariam “no primeiro estágio da humanidade”.

As correrias aconteceram em muitos locais e por muitos anos no Alto Juruá e no Acre como um todo. Isso provocou a extinção de povos inteiros e redução significativa das comunidades sobreviventes, além de marcas cruéis na história indígena acreana. É por esse motivo que é tão importante o resgate histórico sobre indivíduos que foram tão marginalizados pela sociedade e que ainda sofrem pelo preconceito tão latente que possui bases centenárias na história do Brasil. É necessário ressignificação, construção de identidade e abertura para novas narrativas e reparação histórica.

Coluna de Vitória Maciel

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