Orientação dos especialistas é que a criança durma sozinha, em uma superfície firme, até completar um ano de idade.
Amanda Saucedo fez tudo o que os blogs para pais que ela leu indicavam, antes de colocar seu filho recém-nascido, Ben, em uma cama compartilhada com ela, em outubro de 2014.
“Eu era uma mãe solo de duas crianças, então eu dormia da maneira que eu conseguia”, disse Saucedo, que tinha 27 anos, na época. “Eu pensava, ‘Essas pessoas dizem que é seguro, se eu tomar estas precauções’, então foi o que eu fiz – só um travesseiro, um cobertor e só a mãe na cama, com um bebê que mama exclusivamente do peito.”
Saucedo já tinha em sua trajetória uma experiência de sucesso de cama compartilhada com o irmão mais velho de Ben, Trae, que tinha três anos, e pensou que estava sendo até mais cuidadosa com Ben.
Mas na manhã na qual Ben completou 30 dias de vida, Saucedo acordou e o encontrou morto – vítima da Síndrome da Morte Súbita Infantil (SIDS, sigla em inglês para Sudden Infant Death Syndrom).
“Não havia nada em cima dele quando eu acordei”, disse Saucedo. “Nós dormíamos na minha cama, então é claro que o colchão não seria tão firme quanto um colchão de berço. Isto deve ter comprometido sua via aérea, ou talvez eu estivesse exalando em seu rosto e ele não estivesse obtendo oxigênio suficiente. Eu não tenho certeza.”
“Instantaneamente eu me culpei, é claro”, disse ela. “Mesmo na ligação para o 911 (número de emergência), eu disse a eles ‘Eu sei que não se deve dormir com os bebês, mas este era o único jeito que ele dormia’.”
Casos de SIDS não têm baixado
Apesar de o serviço público de saúde dos Estados Unidos enviar mensagens há décadas sobre como prevenir a Morte Súbita e Inesperada do Bebê (SUID, sigla em inglês para Sudden Unexpected Infant Death), cerca de 3,5 mil bebês morrem desta forma no país todos os anos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
O número faz com que a SUID lidere a causa de morte de bebês entre um mês e um ano de idade. SUID é um dos tipos de SIDS. Após uma investigação, uma SUID pode ser identificada como morte por sufocamento acidental ou estrangulamento na cama e nos lençóis, infecção, engasgo, lesão ou disfunção cardíaca ou metabólica. Quando não se consegue descobrir a causa do óbito, se diz que o bebê morreu de SIDS.
“Estas mortes seguem ocorrendo – e ocorrendo com pais bem-intencionados”, disse a médica Rachel Moon, que presidente a força-tarefa de combate à SIDS na Academia Americana de Pediatria e é a autora do documento feito pela entidade com recomendações para um sono infantil seguro.
“Nós seguimos com as mesmas estatísticas de mortes relacionadas ao sono desde cerca de 1998”, ela acrescentou. “E os números nos Estados Unidos são muito maiores do que na maioria dos países desenvolvidos – e mesmo dos não tão desenvolvidos.”
Reconhecido pela primeira vez em 1969, pesquisas sobre o SIDS nos anos 1990 identificaram que ter um bebê dormindo de barriga para cima em um colchão de superfície firme representava um risco menor de morte súbita. Em 1994, uma campanha massiva de conscientização chamada “Back to Sleep” (“Dormir de Costas”, em inglês) buscou convencer os pais a colocar os bebês para dormir de barriga para cima, não para baixo.
Outros pontos trazidos pela campanha foram evitar roupas de cama macias ou cobertores em berços, bem como protetores de berço, travesseiros decorativos, brinquedos ou qualquer outro objeto.
Agora, um novo estudo sobre cerca de 5 mil bebês que morreram repentinamente entre 2011 e 2017 apontou que aproximadamente 70% estavam dormindo em um ambiente inseguro, de acordo com as diretrizes da Academia Americana de Pediatria, em locais com superfície fofa ou com itens que geram risco de sufocamento, como cobertores, travesseiros e decorações de berço colocadas por cuidadores.
“No que se refere a roupas de cama macias, normalmente os objetos causadores da morte são cobertores, travesseiros, protetores e almofadados de berço”, disse Moon, que também é chefe da divisão de pediatria da Escola de Medicina da Universidade de Virginia. Ela não estava envolvida no estudo.
“A cama compartilhada raramente é feita sem travesseiros e cobertores”, disse Moon, acrescentando que camas, sofás e cadeiras podem ser extremamente perigosos, especialmente porque são “muito macios e fofos.”
Mas há muitas situações inseguras de sono que os pais não se dão conta, disse a médica. “Muitos pais focam na posição do sono (que é muito importante), mas não pensam que eliminar a maciez da cama e das roupas de cama é tão importante assim”, relata Moon.
Entretanto, um novo estudo publicado na revista Pediatrics constatou que 75% das mortes de bebês por obstrução aérea ocorrem devido a roupas de cama e colchões fofos. Na verdade, apenas 1% a 2% das mortes sem causa identificada não tiveram a presença de fatores de insegurança no sono.
“Nós sempre orientamos que o bebê fique de barriga para cima, em um berço ou outra superfície plana e firme, que esteja, ao mesmo tempo, perto da cama dos pais, mas não tenha nada dentro ou sobre o berço, exceto um lenço fino e justo e o bebê”, destaca Moon.
“Eu sei que é difícil criar um ambiente seguro em cada sono, mas, por favor, sigam fazendo isso”, acrescentou a médica. “Lembrem que o bebê mais seguro é aquele que está de barriga para cima, em um berço ou outra superfície plana e firme, sem nada dentro.”
“Pesadelo absoluto”
Esta é uma mensagem que Saucedo nunca vai esquecer. Nos seis anos desde a morte de Ben, ela transformou seu luto em uma cruzada para garantir que nenhuma outra mãe cometa seu erro.
Ela se voluntariou na First Candle, uma das mais antigas entidades sem fins lucrativos que atuam em relação à SIDS, educando pais sobre a síndrome e outros fatores de morte de crianças ligados ao sono, enquanto também oferecem suporte para famílias enlutadas que sofreram uma perda.
Saucedo também faz alertas para outras mães pelo Facebook a partir da Benny Bears, uma fundação sem fins lucrativos que ela e sua família criaram para disseminar orientações sobre as práticas de sono seguro recomendadas pela Academia Americana de Pediatria:
- Bebês devem dormir de barriga para cima em todos os cochilos e à noite, até completarem um ano de idade
- Isso se aplica até mesmo a bebês que sofrem de refluxo gastroesofágico. “Alguns pais se preocupam que os bebês se engasguem nessa posição, mas a anatomia das vias aéreas do bebê e o reflexo de vômito impedem que isto aconteça”, esclarece a entidade
- Se o bebê pega no sono em uma cadeirinha de carro, balanço, carrinho de bebê ou sling, transfira a criança para uma superfície firme, o quanto antes.
- Assegure-se de que a superfície do berço ou do cercadinho é firme – tão firme, que o bebê não afunde quando estiver deitado. Procure por uma superfície que esteja de acordo com os padrões de segurança e use apenas um lençol projetado especificamente para bebês
- Nada mais deve ficar dentro do berço, além do bebê. Nem protetores de berço decorativos, nem brinquedinhos, nem travesseiros. “Se você está preocupado que seu bebê fique resfriado, pode colocar pijamas na criança, assim como cobertores vestíveis. Em geral, seu bebê deve estar vestido com apenas uma camada a mais de roupas do que você”, informa a Academia Americana de Pediatria
- Só coloque seu bebê na sua cama para alimentá-lo ou aninhá-lo. Cama compartilhada não é recomendada para nenhum bebê
- Nunca coloque seu bebê para dormir em um sofá ou poltrona, e não permita que ele pegue no sono em travesseiros de amamentação ou almofadas semelhantes a travesseiros
Apesar de seu luto, Saucedo não hesita em contar sua história, que pode salvar vidas. “Mesmo que seja difícil, pratique o sono seguro – todas as vezes – porque você nunca sabe o que acontecerá, até ser você a acordar dentro do pesadelo absoluto de qualquer pai ou mãe.”
CNN