Uma equipe técnica formada por engenheiros e representantes de entidades ligadas ao setor produtivo do Acre realizou, entre os dias 30 de abril e 3 de maio, uma vistoria minuciosa da BR-364, no trecho entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul.
A estrada sofre, atualmente, uma série de problemas, como buracos e erosões nas laterais, o que torna mais lenta a viagem de passageiros, inclusive de pacientes em situação de emergência, e também a condução de cargas para abastecimento intermunicipal.
Essa é a terceira vistoria viabilizada por entidades empresariais na BR-364 em quatro anos. Para o presidente da Federação das Indústrias do Acre (Fieac), José Adriano, os gargalos estruturais chegaram ao ponto de comprometer a segurança dos viajantes, “o que pode trazer a subtração de vidas”.
Em entrevista, ele lamenta a reincidência constante dos problemas enfrentados pelos acreanos em relação à estrada, critica a ausência de fiscalização robusta e promete intensificar, em parceria com outras instituições, a cobrança de soluções a longo prazo para a BR-364, a espinha dorsal do estado. Confira:
ContilNet – Que problemas foram observados nessa terceira vistoria à BR-364?
José Adriano – Para você ter ideia, hoje essa estrada compromete até a segurança das pessoas. A gente acompanhou vários trechos onde o estreitamento da pista em função de erosões sistematicamente aconteceu no mesmo ponto. É uma questão de segurança mesmo, porque aquilo lá é um risco muito grande de desmoronamento. Agora imagine um ônibus, que é um veículo de grande porte, ou uma carreta… Isso pode trazer a subtração de vidas. Tem também o prejuízo que a estrada dá àquelas pessoas que a utilizam para o seu negócio. É o caso das transportadoras. Então é toda essa complexidade do ponto de vista da estrutura dessa BR que nos preocupa. A gente queria ter voltado com informações que dessem um pouco mais de alento, mas, na realidade, a gente encontrou uma situação muito preocupante.
Quais foram os resultados dessa vistoria, até o momento?
Confeccionamos um relatório e vamos levar todas essas informações ao conhecimento do Ministério dos Transportes e do Dnit, através dos nossos parlamentares federais. Nós estamos hoje dentro de uma realidade em termos de orçamento que a previsão de investimento para as duas BRs, a 364 e a 317, é apenas de R$ 93 milhões. E isso já se repete há 2 anos. A gente até entende que a situação em termos de investimentos em infraestrutura pelo Brasil é complexa, mas para nós essa BR significa o ir e vir, que é um direito de to
da a sociedade. No passado, antes de existir uma BR, havia toda uma mobilização de logística que a própria população se virava. Saia-se dos seus municípios de barco, de balsa, de aviãozinho… Dava seu jeito. Quando você tem uma BR, você faz uma proposta que as pessoas abram mão dessa estrutura, e foi isso o que aconteceu. Até para necessidades de saúde essa estrada é essencial.
É um velho problema, concorda?
Sim. Já passa da hora da gente fazer uma reivindicação de forma muito contundente através das nossas lideranças políticas e empresariais. Estamos pedindo apoio dos prefeitos ao longo da BR. Eu acho que é uma questão a ser discutida de forma séria. Mas a gente quer ser propositivo. A gente não quer fazer só crítica, a gente sabe que o país atravessa grande dificuldade, mas nesse momento acho que dá sim para ser realocado recurso para uma recuperação da BR-364 e da 317 sem que haja essa angústia de ficarmos isolados a qualquer momento do restante da população do Acre. Tivemos a grata surpresa de termos sido muito bem recebidos pelos prefeitos e por alguns parlamentares. O Ministério Público também está envolvido nessa proposta. A gente já está agendando uma reunião com o Dnit em Brasília e vamos atrás.
Haverá recomendação em relação à fiscalização constante da BR para evitar que problemas estruturais se acumulem?
Não existe fiscalização nenhuma. O que acontece é a fiscalização em cima de programas de recuperações pontuais que o próprio Dnit tem feito. Então ele cita uma obra, que na verdade são pequenas intervenções, de recuperação, de tapa buraco. Esse formato é um paliativo. Então existe a fiscalização desse serviço, mas não existe uma fiscalização como deveria ser para uma BR, que é o que a gente espera. Um monitoramento que traga um pouco mais de segurança tanto para o transporte de carga como para o próprio transporte de passageiros. Então vamos reivindicar isso também, porque não é justo o que a gente está passando hoje em relação a essa BR-364, sobretudo considerando que 50% da população praticamente está do lado de lá e depende disso. Falo das duas BRs, porque a 307 também teve rompimento no ano passado e isso preocupa.
Como está a 317 atualmente?
A BR-317 a gente separa em dois trechos. Até Brasileia existe uma condição até mais propícia de recuperações constantes. A partir de Brasileia, e isso até Assis Brasil, você já observa que existe uma redução do uso desse trecho em função da população estar pra lá e os negócios são gerados através dos países andinos. Mas não deixa de ser importante também até porque ela é parte do investimento que foi feito da transoceânica. A gente aguarda a ordem de serviço da construção do anel viário de Brasileia, que seria um complemento da interligação dessa proposta com os países andinos, para que tenhamos de fato toda uma estrutura que possa ser observada e que dê realmente condições de você ter ali um corredor comercial de cargas de grande porte. Mas a gente tem um compromisso de chegar com a BR trafegável até o dia da entrega desse último trecho, que é a ponte de Brasileia e o anel viário.
Quais as expectativas do setor produtivo acreano para a entrega da ponte sobre o Rio Madeira?
Total. Em primeiro lugar a gente está muito animado porque é um sonho que a gente tá vivendo. E do ponto de vista do estímulo, a gente tem que se apegar aos pequenos momentos de satisfação, saber que uma obra daquele tamanho está sendo entregue, porque no Brasil tudo a gente desconfia, e estamos desde 2014 nessa luta. Uma hora faltava insumo, outra hora faltava a verba, mas a gente hoje está comemorando, deixando isso pra trás, agradecendo toda a bancada Federal, ao governador Gladson cameli, que era um dos que mais atuava nessa proposta. De uma forma geral a gente tá reconhecendo isso, mas no momento oportuno vamos fazer o agradecimento a todos eles e tentar mobilizá-los para a nossa próxima etapa, que é essa questão da manutenção das BRs.
Como a ponte impacta positivamente no setor produtivo local?
Sob todos os aspectos. O tempo é um deles, porque você reduz 3 horas da sua viagem. Mas hoje, economicamente falando, a primeira coisa que vai melhorar para gente é a parte do turismo doméstico. Hoje você vai conseguir se ver em Rondônia e desfrutar lá da estrutura turística deles, assim como os rondonienses aqui. Mas se você observar que todos os municípios do Acre podem ser também uma proposta viável de turismo doméstico de lá para cá, eu acredito que nós vamos ter um incremento muito maior vindo até o Acre. E isso, lógico, deixa a gente mais animado porque nós temos uma rede hoteleira ociosa, muitos investimento em pousadas. E agora a ponte vai motivar novos investimentos para essa área aí, que é o setor que a gente acredita que o Acre tem muito potencial. Pela nossa história, né.
O que mais o senhor elencaria, presidente?
Nós estamos também fazendo avaliações com relação ao impacto disso em alguns insumos que importamos do Sul e do Sudeste. Isso se deve exatamente ao frete, ao seguro que você pagava. Algumas transportadoras não aceitavam frete para cá, hoje já vai ser diferente. Tudo isso vai impactar. Mas se você observar, a médio e longo prazo nós vamos ter um comportamento de entrada de novos produtos que antes não vinham de forma a não correr risco, por serem produtos perecíveis. Vai haver uma competição melhor, os supermercados vão ter que fazer uma programação mais segura com relação a alguns hortifrutis também. Além disso, a gente não corre aquele risco, que é um pesadelo muito grande, que aconteceu em 2015, que foi o isolamento do estado em função da cheia do Rio Madeira. Quando a gente tinha o agravamento da seca, também ficava ilhado, de certa forma, porque chegou a ter 5 a 6 horas de espera para se entrar na balsa e fazer a travessia.
(Fotos: Sérgio Vale)
POR LEANDRO CHAVES