Clarissa Ward, correspondente da CNN, teve acesso com exclusividade às diversas garagens cheias de carros de luxo que pertenciam a Bashar al-Assad.
Em uma destas garagens, localizadas no complexo do palácio presidencial, a jornalista mostrou a coleção luxuosa do presidente deposto, com modelos de carros como Aston Martin, Lamborghini e Ferrari.
Do lado fora, havia mais estacionamentos com dezenas de carros blindados.
Os carros vistos por Clarissa indicam a profunda corrupção do regime de Assad, sendo estes veículos uma grande parte do motivo pelo qual a revolta na Síria começou a partir de 2011.
“Os carros simbolizam os níveis de corrupção e ganância, mostram a opulência e o estilo de vida luxuoso de Assad, enquanto tantos sírios estavam lutando para colocar comida na mesa”, destacou a correspondente da CNN.
O ex-governante estava no poder desde 2000, quando assumiu o país após a morte do pai, Hafez al-Assad, que liderava a Síria desde da década de 1970.
“Nos últimos 14 anos, os sírios estiveram sob bombardeios, torturas, mutilações, sequestros e mortes, enquanto Assad vivia como um rei, com garagens cheias de carros. E palácios, mosaicos e mármore incríveis”, pontuou Clarissa.
Ao falar sobre o cenário em que via no palácio presidencial, a correspondente da CNN ressaltou que observou alguns civis que invadiram o local ficarem abismados e de “queixo caído”.
Segundo a jornalista, para os sírios não era possível de acreditar que Bashar al-Assad estava vivendo um estilo de vida de luxo em que, ao mesmo tempo, o país sofria uma crise profunda.
“Portanto, essa é realmente uma metáfora da raiz da podridão, de onde tudo começou”, observou.
Ao analisar a situação no país, Clarissa afirmou que, apesar de muitos sírios estarem comemorando o fim do regime Assad, a população continua ansiosa sobre quem controlará o país.
Em esforços para mostrar ser diferente, o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), a principal força rebelde do país, se recusou a usar ou tocar nos veículos de luxo, procurando se diferenciar do ex-presidente.
“No entanto, os rebeldes que estavam vigiando o palácio não olharam para mim nem falaram comigo até eu colocar meu lenço na cabeça, portanto, ainda há tendências extremamente conservadoras na maioria das forças rebeldes que estão controlando o país”, descreveu Clarisa.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.