Os dados do IBGE indicam que a extração de castanha, em 2023, superou a de madeira e já representa 58% do valor da produção extrativa do Acre.
Temos ligações históricas como o extrativismo. Todo movimento de ocupação das terras do Acre, inserido numa nova forma de colonialismo, está ligado à utilização da borracha como matéria-prima de fundamental importância para o desenvolvimento do capitalismo, principalmente para a indústria automobilística. Este período se inicia na segunda metade do século dezenove, quando se deu uma migração em massa de brasileiros, principalmente nordestinos, para as terras amazônicas.
Nesse sentido, é muito importante perceber-se do movimento da atividade econômica do extrativismo no nosso estado. Principalmente agora, quando o mundo se depara com uma crise climática sem precedentes na história da humanidade, cujo novo paradigma é a exigência de novas formas de produzir, exigindo cada vez mais atividades que evitem ao máximo a emissão de carbono na atmosfera.
É sabido também, que Acre inicia a década de setenta do século vinte com a sua economia totalmente desestruturada. Os extrativistas, que secularmente ocupavam as florestas, foram expulsos de suas terras em função da mercantilização de antigos seringais. Um novo modelo econômico surge. Primeiramente com a pecuária bovina, agora com a expansão da pecuária suína e da plantação de soja, do milho e do café, numa ampla conexão com as exigências do mercado nacional e internacional.
Conforme dados do Censo Agropecuário de 2017, o Acre contava naquele ano, com 37.356 estabelecimentos agropecuários, destes, 3.766 estavam localizados em unidades de conservação (RESEX, RDS e Florestas de uso sustentável), valor representa 10% dos estabelecimentos agropecuários no Acre. Esse é um número subestimado, pois temos outras pequenas propriedades fora das unidades de conservação que exercem a atividade da exploração florestal.
Estima-se que, em 2023, o extrativismo vegetal no Acre, conforme os critérios estabelecidos pelo IBGE, alcançou um Valor da Produção – VP de R$ 114 milhões. Esse valor representa um pouco mais de 5% do setor primário acreano, longe de ameaçar o VP das lavouras (34%) e da pecuária (61%).
Destacaremos os números de quatro produtos extrativos com maiores representatividades no extrativismo: açaí, borracha, castanha e madeira em tora. Produtos que juntos, em 2023, representaram mais de 91% o VP do setor extrativista. Destacaremos em tabelas, os números totais do Acre e dos 5 maiores municípios produtores de cada produto, incluindo a quantidade produzida e valor da produção para os anos de 2013 e 2023, um intervalo de 10 anos.
Em 10 anos a extração de Açaí cresceu 32%
No período o valor da produção aumentou 128% e alcançou R$ 6,4 milhões em 2023. Como a quantidade produzida cresceu somente 32%, indica que, no período, tivemos uma alta valorização do produto em face da alta demanda no mercado nacional. Em 2023, o Município de Feijó foi o maior produtor (37,2%) seguido de longe por Cruzeiro do Sul (7,6%) e Tarauacá (6,5%). Mesmo tendo a sua demanda em alta, o produto ainda não aparece nos números das exportações internacionais do estado. O Produto representou em 2023, 5,6% do valor total da extração vegetal do Acre.
Açaí (fruto) (Toneladas) | |||||||
2013 | 2023 | ||||||
Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) | Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) |
Acre | 3 050 | 2 792 | 100,0 | Acre | 4 030 | 6 371 | 100,0 |
Plácido de Castro | 868 | 1 293 | 28,5 | Feijó | 1 500 | 2 175 | 37,2 |
Feijó | 631 | 726 | 20,7 | Cruzeiro do Sul | 308 | 664 | 7,6 |
Marechal Thaumaturgo | 255 | 153 | 8,4 | Tarauacá | 260 | 403 | 6,5 |
Capixaba | 203 | 203 | 6,7 | Marechal Thaumaturgo | 234 | 281 | 5,8 |
Porto Walter | 180 | 117 | 5,9 | Mâncio Lima | 212 | 299 | 5,3 |
Fonte: IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura |
Em 10 anos a Produção de Borracha cresceu 90%
O valor da produção da borracha, em 10 anos, cresceu 525% e atingiu mais de R$ 13 milhões, alcançando uma excelente valorização. Nos últimos anos a produção de borracha (impulsionada pelo contrato do Cooperacre com a marca de tênis Veja), que em 2013 representava somente 2,6%, em 2023, já representava 11,5%, com valor estimado em R$ 13,1 milhões. Em 2023, aparecem como maiores produtores os seguintes municípios: Xapuri (32,8%), Senador Guiomard (19,7%) e Brasiléia (16,8%).
Borrachas (Toneladas) | |||||||
2013 | 2023 | ||||||
Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) | Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) |
Acre | 395 | 2 125 | 100,0 | Acre | 750 | 13 123 | 100,0 |
Xapuri | 134 | 1 048 | 33,9 | Xapuri | 246 | 4 305 | 32,8 |
Brasiléia | 46 | 115 | 11,6 | Senador Guiomard | 148 | 2 589 | 19,7 |
Epitaciolândia | 45 | 142 | 11,4 | Brasiléia | 126 | 2 205 | 16,8 |
Sena Madureira | 30 | 103 | 7,6 | Sena Madureira | 74 | 1 295 | 9,9 |
Feijó | 28 | 125 | 7,1 | Tarauacá | 45 | 788 | 6,0 |
Fonte: IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura |
Em 10 anos, mesmo com queda na extração, a castanha valorizou 191%
O valor da produção da castanha alcançou R$ 66,0 milhões, tornando-se o produto mais expressivo produto extrativo acreano, representando 58% de todo o valor da produção extrativa do Acre, superando a madeira, que líder de produção em 2013. Em termos da quantidade produzida, mesmo com a queda, o produto foi fortemente valorizado no mercado, principalmente no mercado externo. Em 2023, o Município de Xapuri foi o maior produtor (21,2%) seguido por Brasiléia (17,2%) e Rio Branco (16,9%). Nos 10 primeiros meses do ano de 2024, o produto já atingiu um valor de exportações de mais de US$ 8 milhões, representando mais de 11% de todas as exportações do Acre.
Castanha-do-pará (Toneladas) | |||||||
2013 | 2023 | ||||||
Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) | Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) |
Acre | 13 599 | 22 671 | 100,0 | Acre | 9 473 | 65 958 | 100,0 |
Brasiléia | 3 660 | 6 405 | 26,9 | Xapuri | 2 005 | 14 035 | 21,2 |
Rio Branco | 2 310 | 4 089 | 17,0 | Brasiléia | 1 628 | 11 393 | 17,2 |
Xapuri | 2 215 | 3 544 | 16,3 | Rio Branco | 1 600 | 11 200 | 16,9 |
Sena Madureira | 1 619 | 2 347 | 11,9 | Sena Madureira | 1 580 | 11 062 | 16,7 |
Capixaba | 847 | 1 414 | 6,2 | Epitaciolândia | 1 019 | 7 130 | 10,8 |
Fonte: IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura |
Em 10 anos a exploração de madeira caiu 65,6%
Em termos de valor da produção, em 10 anos, a madeira em tora viu o seu valor cair 56,8%. Foi de R$ 44,6 em 2013, para somente R$ 19,2 milhões, em 2023. A sua produção, que representou mais de 54% de toda a produção extrativa do Acre, representava, dez anos depois, somente 17%. O impacto na produção foi sentido nas exportações para o exterior. A madeira e seus derivados, respondeu por 32,5% das exportações acreanas em 2013. Nos10 primeiros meses de 2024, representa somente 6,6%. Os municípios com maiores explorações de madeira em tora em 2023, foram: Feijó (25,6%), Bujarí (13,9%) e Rio Branco (12%).
Madeira em tora (Metros cúbicos) | |||||||
2013 | 2023 | ||||||
Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) | Acre e Municípios | Quantidade | Valor da Produção (Mil Reais) | Participação na produção do Acre (%) |
Acre | 501 260 | 44 606 | 100,0 | Acre | 172 486 | 19 248 | 100,0 |
Sena Madureira | 149 430 | 14 196 | 29,8 | Feijó | 44 195 | 5 125 | 25,6 |
Rio Branco | 102 231 | 9 201 | 20,4 | Bujari | 23 900 | 2 629 | 13,9 |
Porto Acre | 80 187 | 7 618 | 16,0 | Rio Branco | 20 621 | 2 268 | 12,0 |
Bujari | 34 100 | 3 240 | 6,8 | Tarauacá | 19 274 | 2 004 | 11,2 |
Feijó | 33 890 | 1 525 | 6,8 | Sena Madureira | 18 465 | 2 031 | 10,7 |
Fonte: IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura |
Apesar das melhoras da renda gerada pelo extrativismo, estamos longe de ter um efetivo modelo de desenvolvimento com sustentabilidade que inclua a bioeconomia como estratégia de desenvolvimento.
Transcrevo abaixo o entendimento contido no documento “Diagnóstico Socioeconômico do Acre 60 anos”, elaborado pelo CEDEPLAR – UFMG em 2022, contido na página 128 do Livro 1:
“É preciso superar a falsa dicotomia entre desenvolvimento e preservação ambiental. Hoje já é amplamente reconhecida na literatura econômica que a contraposição entre desenvolvimento baseado em uma economia verde/bioeconomia/preservação da natureza/floresta e o desenvolvimento econômico é uma contraposição ultrapassada e não encontra suporte nas evidências científicas. É possível desenvolver modelos de desenvolvimento que aos mesmos tempos que gerem renda, emprego e inclusão e a preservação da floresta e aumento da biodiversidade”.
Precisamos rapidamente desenvolver esses modelos “ganha-ganha”.
Orlando Sabino escreve às sextas-feiras no Juruá Online