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Seca: Agricultores catalães retomam ritual religioso depois de 150 anos para atrair chuva

Desde outubro, departamento dos Pirineus Orientais, um dos mais afetados pela seca na França, registrou apenas 159,4 mm de precipitação, um déficit de 60,8% da precipitação em relação à precipitação sazonal normal.

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Muito preocupados com a forte seca de inverno, agricultores catalães levaram relíquias de seu santo padroeiro até a cidade francesa de Perpignan, nos Pireneus Orientais, e reviveram uma tradição abandonada por mais de um século, na esperança de atrair chuva à região.

“Em um momento em que a situação é tão crítica, trazemos todos os santos possíveis, convocamos todos”, resume em tom de brincadeira Julien Bousquet, 29 anos, jardineiro e arborista, que participou do cortejo, realizado no último sábado (18).

Sob o céu tempestuoso, centenas de pessoas – clero, irmandades religiosas, agricultores e curiosos – participaram da procissão pelas ruas da velha Perpignan, carregando relíquias do padroeiro dos agricultores catalães, Saint-Gauderique.

A procissão católica terminou às margens do Têt, um dos principais rios dos Pirineus Orientais. Quatro agricultores caminharam nas águas rasas, carregando nos ombros um busto-relicário de Saint-Gauderique, para pedir sua intervenção.

“Este ritual não era praticado há quase 150 anos”, disse o sacerdote da catedral de Perpignan, Benoît de Roeck, que liderou a cerimônia organizada a pedido de um viticultor local.

Santo camponês

Saint-Gauderique (Galdéric em catalão), um camponês que viveu no século IX, é um dos santos catalães mais famosos e celebrados, e era “tradicionalmente invocado para problemas de água”, ele explica.

Entre os séculos XI e XIX, foram realizadas na região 800 procissões em sua homenagem, conta Jean-Luc Antonizazzi, historiador especializado em arte barroca catalã, que especifica: “foi invocado por falta ou excesso de água, mas também para a peste”.

Se o ritual “acabou nos anos 1850-1880 com o advento da era industrial”, o santo “não caiu no esquecimento”, ele prossegue, lembrando que sua festa ainda é celebrada em 16 de outubro e que as crianças ainda carregam o nome de Galdéric até hoje.

No entanto, esse retorno da devoção em 2023 coincide com uma situação de crise descrita como inédita pelos agricultores. “Agora estamos agarrados a tudo”, admite André Trives, 40, horticultor em agroecologia, que descreve uma situação “catastrófica”.

“Sabemos que se não houver reabastecimento até abril-maio ​​(…) no dia 15 de agosto não haverá mais água”, teme, dizendo que não esperaram, no entanto, por Saint-Gauderique para rezarem por água”.

Expectativa e esperança

“A Météo-France [agência de meteorologia francesa] anunciou chuva neste fim de semana (…) seriam necessárias semanas inteiras de precipitação para a água penetrar no solo e recarregar os lençóis subterrâneos”, acrescenta Julien Bousquet, observando a procissão religiosa.

Desde outubro, o departamento dos Pirineus Orientais, um dos mais afetados pela seca na França, registrou apenas 159,4 mm de precipitação, um déficit de 60,8% da precipitação em relação à precipitação sazonal normal, de acordo com dados da Météo-France.

Por RFI

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