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Preocupação com saúde mental ultrapassa câncer pela primeira vez no mundo, mostra pesquisa

Quase metade dos brasileiros acredita que as questões psíquicas são um dos principais problemas de saúde do país, proporção acima da média global e menor apenas que à da Covid-19.

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O número de brasileiros que consideram a saúde mental um dos maiores problemas de saúde do país mais que dobrou nos últimos quatro anos, chegando a quase metade da população, e ultrapassou a preocupação com o câncer. É o que mostra o levantamento ‘Monitor Global dos Serviços de Saúde’, de 2022, realizado pela empresa de pesquisa Ipsos em 34 países e divulgado nesta segunda-feira. Em primeiro lugar, a Covid-19 segue sendo a principal questão apontada pelos entrevistados, embora em proporção significativamente menor que nos últimos dois anos.

A pesquisa, conduzida entre os dias 22 de julho e 5 de agosto deste ano, ouviu 23,5 mil pessoas ao redor do mundo. O novo coronavírus foi apontado como um dos principais problemas de saúde por 47% dos indivíduos, uma queda de 23 pontos em relação à proporção de 2021 – quando era de 7 a cada 10 entrevistados. No Brasil, essa oscilação foi de 84% para 62%. Apesar da diminuição, assim como no ano passado, o país foi o quinto com mais pessoas preocupadas com a Covid-19, empatado com o México e atrás apenas de Japão, com 73%; Peru, com 66%; Tailândia, com 64%, e Indonésia, com 63%.

Já a grande mudança revelada pela pesquisa em 2022 foi que, pela primeira vez, a saúde mental ultrapassou o câncer como um dos principais problemas de saúde apontados pela população global. A proporção de pessoas que citou as questões psíquicas, que já vinha em crescimento nos últimos anos, passou de 31%, em 2021, para 36% neste ano. Em relação ao câncer, esse índice, que era de 34% no ano passado, manteve-se estável, caindo para o terceiro lugar do ranking.

No Brasil, a apreensão com a saúde mental é ainda maior que a média global, e já era o segundo maior problema mencionado pelos entrevistados desde o ano passado, quando subiu 13 pontos percentuais na pesquisa em relação a 2020, chegando a 40%. Em 2022, esse índice subiu ainda mais, para 49% – o que representa quase metade dos brasileiros e uma taxa mais de 10 pontos superior à média mundial.

Comparando com a edição da pesquisa de 2018, quando esse índice foi de 18%, a preocupação com a saúde mental mais que dobrou entre os brasileiros, subindo 31 pontos percentuais em quatro anos. Em âmbito mundial, essa escalada foi de apenas 9 pontos no mesmo período. Hoje, o Brasil é o sexto país que mais cita o problema, atrás apenas da Suécia, por 63% da população; do Chile, por 62%; da Irlanda, por 58%; de Portugal, por 55%, e da Espanha e dos Estados Unidos, ambos por 51%.

O câncer continuou sendo apontado por três a cada dez entrevistados brasileiros, uma variação de 31%, em 2021, para 29% neste ano. A apreensão com a doença está em queda acentuada no país desde 2018, quando era a maior preocupação, mencionada em 57% das respostas. Hoje, o Brasil é o 19º no ranking mundial dos que citam os tumores como um dos principais problemas de saúde.

— A queda da preocupação com a Covid-19 reflete uma tentativa de retomada da normalidade, e agora outros fatores gerados pela pandemia passam a ser relevantes ao olhar da população brasileira. Qualitativamente, observamos aspectos relacionados à saúde mental como algo mais relevante na percepção da população. Tanto o isolamento, as perdas e a proximidade com uma pandemia levou a diferentes reflexões sobre saúde. Neste contexto, doenças historicamente relevantes, como câncer, são declaradas menos preocupantes pela população, e uma das hipótese é porque a mortalidade por câncer é mais lenta do que a que foi vista pela Covid-19, então ele se torna um pouco mais secundário — avalia o chefe de cuidados de saúde da Ipsos no Brasil, Cássio Damacena.

Na pesquisa, além de Covid-19, saúde mental e câncer, as outras opções disponíveis foram estresse; obesidade; diabetes; abuso de drogas; abuso de álcool; doenças cardíacas; tabagismo; demência; hospitais superlotados e doenças sexualmente transmissíveis. O estresse e a obesidade vieram em quarto e quinto lugar nas respostas dos entrevistados, sendo o primeiro mencionado por 26% da população global e 27% da brasileira; e o segundo por 22% e 15%, respectivamente.

Serviços de saúde e vacinação

A Ipsos fez ainda outras perguntas relacionadas a temas de saúde. Enquanto 50% da população global afirma que a qualidade dos serviços de saúde é boa ou muito boa, apenas 29% dos brasileiros concordam com a afirmativa – o quinto país mais insatisfeito. Além disso, embora 19% dos entrevistados pelo mundo classifiquem a qualidade como ruim ou muito ruim, o percentual é de 31% no Brasil.

Em relação a custos, 80% concordam que muitas pessoas no país não conseguem sustentar os gastos com a saúde, enquanto 7% discordam. Ainda assim, 62% dos brasileiros acreditam que a qualidade irá melhorar nos próximos anos, e apenas 8% pensam que irá piorar.

Sobre equidade, 3 em cada 10 pessoas não concordam que o serviço de saúde braisileiro oferece o mesmo serviço a toda a população, e 67% acredita que o sistema está sobrecarregado. Os entrevistados também concordaram que o tempo para conseguir agendar uma consulta no país é muito longo.

A empresa também quis saber os maiores desafios para os sistemas de saúde na percepção das pessoas. Para a maioria da população mundial, assim como no Brasil (ambos por 42%), o mais citado foi o acesso a tratamentos / tempo de espera. Porém, enquanto a burocracia foi apenas a quarta questão mais citada em âmbito global, por 25%, esse foi o segundo entrave mais mencionado pelos brasileiros, por 28%. Em seguida vieram o custo das terapias, por 25% dos entrevistados no Brasil, e a falta de profissionais, por 24%.

No momento em que o país e o mundo vivem quedas bruscas na cobertura de diversas vacinas, a Ipsos perguntou também se a imunização contra doenças infecciosas graves deveriam ser obrigatórias ou não. Em média, 6 a cada 10 pessoas no mundo afirmam que sim, enquanto apenas 2 dizem que não. No Brasil, essa proporção chega a ser de 72% a favor da obrigatoriedade, enquanto apenas 13% são contrários. Em todos os países, a maioria foi favorável à vacinação compulsória, à exceção de Portugal, onde a proporção foi de 38% para 41%.

A empresa ouviu quase 24 mil pessoas dos seguintes países: África do Sul, Alemanha, Austrália, Argentina, Arábia Saudita, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Holanda, Hungria, Índia, Indonésia, Irlanda, Itália, Japão, Malásia, México, Peru, Polônia, Portugal, Romênia, Suécia, Suíça, Tailândia e Turquia.

Com informações O Globo

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