Irmão do líder indígena Francisco Piãko, da etnia Ashaninka, o prefeito de Marechal Taumathurgo, no Alto Juruá, Isaac Piãko (PSD), disse à reportagem que seu povo não é contra a construção de uma estrada ligando o Brasil ao Peru, através das cidades de Mâncio Lima e Pucallpa, cujo traçado passaria por dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor. A declaração foi feita em Rio Branco, durante visita do prefeito à capital.
“Meu irmão e o nosso povo não são contra a estrada. Eles só querem é ser ouvidos sobre esta obra”, disse o prefeito. “Temos este posicionamento em função da leitura que fizemos da BR-317, a chamada Estrada do Pacífico. Na nossa análise, muitas coisas nas obras foram projetadas sem que fosse feita análise anterior. E quais foram os resultados e benefícios práticos para a população do Acre? Praticamente nada”, acrescentou.
Francisco Piãko, acompanhado de outras lideranças indígenas do país, esteve, na semana passada, na sede do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para um encontro com o presidente da instituição e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux. No encontro, o líder indígena acreano pediu formalmente que o STF intervenha para não permitir que a obra seja realizada. Segundo Piãko, o traçado da estrada, de cerca de 200 quilômetros, divididos entre Brasil e Peru, por passar pelo Parque da Serra do Divisor, iria destruir a biodiversidade da região, apontada como uma das mais ricas do planeta. “Além de prejudicar povos tradicionais que vivem na região”, denunciou.
“O que meu irmão quer é ser ouvido. Nós não somos contra a estrada. Acesso tem que chegar a todos os lugares, seja pelo rio, pelo ar, mas que as pessoas sejam ouvidas. É preciso que possamos estudar os impactos sociais causados à população pelas obras. Temos que ter a população em primeiro lugar”, disse.
A construção da estrada é defendida pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC). O projeto tem o apoio do governador do Acre, Gladson Cameli, e do presidente Jair Bolsonaro.
Por Tião Maia