Redação Juruá Online – Willamis França
No último sábado (7), o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, celebrou o início das festividades natalinas ao acender as luzes de Natal na praça central da capital acreana. Durante o evento, ele convidou os moradores a comemorarem o brilho das decorações, cujo custo ultrapassou R$ 2 milhões. Enquanto isso, a dura realidade que paira sobre o centro da cidade continua: ruas tomadas por moradores em situação de rua e dependentes químicos, sem qualquer perspectiva de solução.
Embora o espírito natalino seja uma tradição que traz alegria e esperança, a cena de abandono e vulnerabilidade social nas proximidades da praça central expõe as contradições de uma gestão pública que ignora questões fundamentais. No cruzamento da Avenida Floriano Peixoto com uma transversal próxima a um posto de combustível e à antiga sede da Polícia Federal, consolidou-se o que muitos já chamam de “Cracolândia do Acre”. Ali, homens e mulheres em situação de rua, dependentes de drogas, encontram um cenário de exclusão e sofrimento, agravado pela ausência de políticas públicas efetivas.
Luzes de Natal ofuscam a realidade cruel
Com mais de R$ 2 milhões destinados à ornamentação natalina, é inevitável questionar: até que ponto o investimento em decorações é justificável enquanto o centro de Rio Branco enfrenta uma crise social de tamanha proporção? A cada dia, cresce o número de relatos de assaltos e intimidações envolvendo dependentes químicos. A sensação de insegurança já é uma constante para comerciantes, pedestres e motoristas que circulam pela região central.
Há quatro anos, a situação da “Cracolândia do Acre” é um problema conhecido, mas negligenciado. Apesar da urgência de soluções para a questão da dependência química e do apoio aos moradores em situação de rua, o que se vê são ações ineficazes, quando não inexistentes. Em contrapartida, as prioridades da gestão parecem estar voltadas para ações que geram impacto visual, como luzes e decorações, enquanto a sombra do abandono paira sobre a cidade.
O custo da indiferença
A dependência química é uma doença que requer abordagens multidisciplinares, envolvendo saúde mental, reabilitação, políticas de assistência social e reinserção. No entanto, em Rio Branco, a ausência dessas políticas é gritante. Em vez disso, o poder público investe em festividades, ignorando as vozes daqueles que clamam por dignidade. É como se o brilho das luzes de Natal fosse suficiente para esconder a escuridão que toma conta do centro da cidade.
Enquanto a gestão municipal gasta milhões em enfeites, a população vulnerável segue sem amparo, exposta ao frio da indiferença e à violência do vício. Essa escolha de prioridades reforça um ciclo de exclusão e marginalização, deixando claro que os mais necessitados estão fora da pauta política.
Um apelo à reflexão
Ao passear pelo centro de Rio Branco durante o Natal, observe além das luzes. Note as pessoas esquecidas nas calçadas, aquelas que encontram na droga um alívio momentâneo para os seus males. Reflita sobre o significado de investir milhões em decoração enquanto vidas humanas são tratadas com desprezo. Mais do que nunca, é necessário questionar: para quem, de fato, é esse “Viva o Natal”?
Afinal, o brilho do Natal não deveria servir para mascarar problemas, mas para iluminar soluções. Enquanto isso não acontecer, os moradores de Rio Branco devem redobrar sua atenção ao caminhar pelas ruas centrais, pois a dependência química não apenas destrói vidas, mas também compromete a segurança de todos. É hora de exigir uma gestão pública que priorize pessoas, e não apenas o espetáculo visual.