Mostrando a realidade das periferias da capital acreana, o longa “Noites Alienígenas”, produzido pelo diretor Sérgio Carvalho e gravado 100% em Rio Branco, foi exibido no Festival de Cinema de Gotemburgo, na Suécia, entre 30 de janeiro e 6 de fevereiro, e tem no elenco a campeã do Big Brother Brasil 18 e ex-No Limite, Gleici Damasceno.
No filme, ela faz o papel de Sandra, que é moradora da periferia e mãe solo. Diferente da temática ambiental, abordada sempre quando se fala em Amazônia e Acre, o filme mostra uma realidade social que não é muito debatida no âmbito nacional quando se trata do Norte: o impacto da criminalidade na vida dos jovens.
“Noites Alienígenas” é um filme que fala de resistência, juventude e aborda, principalmente, o universo da cultura periférica. Também escancara a realidade da nova rota de tráfico e os impactos sociais desde que o crime organizado passou a atuar no estado.
No centro do enredo encontram-se Rivelino (Gabriel Knoxx), um jovem rapper e grafiteiro que deixa sua arte em forma de nave espacial pelos muros da cidade; Paulo (Adanilo Reis), um jovem indígena, dependente químico, que é assombrado pela ancestralidade do seu povo; e Sandra (Gleici), uma jovem negra e empoderada, mãe do filho de Paulo, que tem no hip-hop um refúgio e espaço de resistência.
Para Gleici, a narrativa do filme não é algo distante da sua realidade. Atualmente, ela tem se dedicado a atuar, fazendo cursos livres e também se dedicando a aprender as técnicas.
O filme ainda não tem data para ser exibido no estado devido ao avanço dos casos de Covid-19.
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Noites Alienígenas foi filmado em 2019 e concluído no final de 2021 — Foto: Arquivo/Ramon Aquim
‘A gente produz coisa boa’
“Foi meu segundo filme, todo gravado no Acre, foi muito importante para mim, e significativo, porque, sendo um longa gravado aqui, minha expectativa é que as pessoas se identifiquem e vejam o Acre neste lugar. Minha expectativa é que as pessoas assistam, vejam a cidade, se vejam e sonhem que é possível fazer as coisas aqui no Acre, que as coisas aqui são boas, que a gente produz coisa boa, que a gente está na cena”, diz.
Antes de ganhar o BBB e se tornar milionária, Gleici morava na Baixada da Sobral, um bairro periférico de Rio Branco. Em 2018, logo após ganhar o programa, ela foi recebida com festa no bairro onde morava.
O filme, para ela, também é uma forma de mostrar o Acre de uma forma diferente do que comumente é divulgado.
“As pessoas criam uma realidade sobre o Acre que não existe, então, quando a gente aborda que aqui existe criminalidade, como as facções se instalaram, como o crime organizado atua, surge um outro lado do estado. Existe periferia em Rio Branco, que é um problema social que precisa ser debatido a nível nacional também. Então, pode ser uma abertura para as pessoas começarem a debater sobre a criminalidade”, destaca.
A ex-BBB hoje se divide entre São Paulo e Rio de Janeiro, mas está no Acre passando alguns dias revendo a família. Ela também gravou o filme “Ninguém é de Ninguém” e acredita que esse contato com atores experientes é uma forma de absorver muito conhecimento.
“Na prática, a gente aprende muito mais, mas, claro que os estudos são importantes. Fiz cursos livres e sempre procuro me atualizar das coisas, porque teatro, cinema, na arte em geral, o ator nunca está preparado, a gente sempre está em busca de ser melhor”, diz.
Sobre a preparação dos personagens, ela fala que é um trabalho de construção. Já sobre os planos, Gleici conta que está decidida do que quer fazer, que mergulhar na arte.
“É o que quero para mim, isso está bem definido na minha cabeça, quero construir minha carreira como atriz. Vou ficar nisso, me dedicar nisso, porque eu adoro contar histórias e, através do cinema, contar essas histórias me realiza. Saber que as pessoas vão olhar para Sandra e vão se identificar, porque estou contando a história de milhares de jovens no Brasil. Isso é o que acredito.”
Sobre futuros trabalhos, o g1 questionou se a ex-BBB já pretende fazer novela, teatro e outras produções audiovisuais, mas ela diz estar tranquila e dando tempo a tempo para que as coisas possam acontecer da melhor forma possível.
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Todo filme foi gravado em espaços urbanos de Rio Branco — Foto: Wesley Barros
Reencontro com a arte
Questionada se o status de ex-BBB a incomoda, a campeã diz que o programa faz parte de sua história e mudou sua vida. Ela afirma que não vê problema nenhum em ser reconhecida como a campeã do reality show mais acompanhado do Brasil, mas quer estender ainda mais esse reconhecimento e chegar mais longe.
“Quero ser, sim, conhecida como a campeã do BBB 18, mas também quero fazer outras coisas, construir novos caminhos e acho que todo mundo é assim. Quando entrei no BBB meu objetivo era ganhar grana para ajudar minha família, melhorar minha vida, então agora tenho outros planos também, outras metas que não fogem da minha essência”, conta.
Digamos que o reencontro de Gleici com a arte foi a continuação de um amor antigo. Quando prestou vestibular pela primeira vez, ela fez artes cênicas, mas o destino a levou por outros caminhos. Hoje, reconhecida nacionalmente, ela diz que quer levar o nome do Acre para o mundo.
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Gleici, em 2018, foi recebida por uma multidão no bairro que morava com a família — Foto: Aline Nascimento/G1
‘Sou da periferia, essa é minha realidade’
Diz ainda que sempre tenta manter viva a ligação com sua origem, mantendo os pés no chão e lembrando de onde veio.
“É minha fortaleza, porque é minha essência, eu sou da periferia, essa é a minha realidade e eu nunca vou deixar de ser do lugar de onde vim. Não tem como isso sair de mim. Eu sou da periferia do Acre e tenho essa função de falar do meu estado, falar da minha realidade e fico muito honrada com isso.”
Como uma porta-voz do estado, ela também pretende mostrar a especificidade do estado acreano, que tanto sofre ainda com alguns estereótipos e diz querer chamar atenção para a cultura do Norte como um todo.
“Em todo lugar que vou, as pessoas perguntam pelo meu estado, e acho importante, porque quando se fala de regionalidade, sempre se fala muito do Nordeste, mas o Norte existe e a gente é muito diferente do Nordeste e isso precisa ser fomentado. No Acre, somos nortistas, ou seja, temos uma cultura riquíssima, muitas histórias que podem ser contadas, e o povo gosta de ser reconhecido”, finaliza.
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Gleici diz que tem orgulho de representar o Acre — Foto: Arquivo pessoal
Por G1