O fortalecimento da cadeia produtiva do café robusta amazônico foi o foco de um encontro realizado nesta quinta-feira (11) no Vale do Juruá, reunindo produtores, técnicos, instituições financeiras e pesquisadores. A atividade teve como objetivo ampliar o acesso a informações econômicas, ambientais e de mercado, além de facilitar o diálogo entre quem produz e quem oferece apoio técnico e crédito.

A pesquisadora Jarlene Gomes, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), destacou que o café é uma cultura em franca expansão na região, mas ainda enfrenta desafios estruturais.
“Hoje a gente está discutindo sobre essa cadeia de valor do café robusto da Amazônia, e o principal objetivo é trazer informações comerciais, econômicas, de logística e principalmente de mercado”, afirmou.
Segundo ela, o IPAM atende mais de 200 produtores no Juruá e trabalha para fortalecer a cadeia produtiva conectando conhecimento técnico, parcerias e políticas públicas.
Jarlene explicou que o encontro busca também construir um plano de ação.
“A ideia é sair daqui com um plano para fortalecer a cadeia do café, alinhado às políticas públicas e às necessidades reais do produtor”, disse.
A pesquisadora reforçou que, por se tratar de uma atividade que depende diretamente do uso do solo, a sustentabilidade é um tema obrigatório na agenda.
“Para uma cadeia econômica que depende dos recursos naturais, é fundamental olhar a sustentabilidade do território. Trabalhamos fortemente a segurança jurídica e ambiental dos empreendimentos, com foco na implementação do Código Florestal”, explicou.
Ela lembrou que o Acre possui um programa de regularização ambiental que incentiva o produtor tanto na adequação quanto no desenvolvimento sustentável de suas áreas.
Informação para entender toda a cadeia
Durante o encontro, foram apresentados estudos que mostram o custo de produção, investimentos necessários e retorno financeiro.
“O produtor precisa olhar não apenas para o valor da saca, mas para todo o processo – do plantio até a exportação. Por isso reunimos aqui produtores, empresas, setor privado e instituições de crédito”, disse Jarlene.

Um dos principais entraves identificados no estudo é a dificuldade de acesso ao crédito rural.
“Estamos em uma região onde os insumos são mais caros, e quando o produtor não tem sua regularidade ambiental e fundiária, o acesso ao crédito se torna um grande desafio”, destacou.
Por isso, representantes de cooperativas e instituições financeiras participaram do encontro para apresentar alternativas de financiamento e comercialização.
O produtor Wilson da Silva Oliveira, morador do Ramal do Zé Alves, localizado as margens da BR-364, avaliou o encontro como essencial para fortalecer a agricultura familiar.
“A agricultura é a base de tudo. Quando chegam políticas públicas voltadas para nós, isso incentiva, dá conhecimento e credibilidade”, afirmou.
Ele contou que já aplica práticas sustentáveis com apoio de instituições:
“Sou o único produtor que implantou o SAF, graças ao IPAM, à Secretaria de Agricultura, à SEMAPA, ao Sebrae, ao Senar e a outras instituições”.
Para Wilson, o acesso à informação reduz riscos no campo:
“Conhecimento nunca é pouco. A agricultura é cheia de desafios, como pragas e doenças. Esses encontros fortalecem o produtor”.
Atualmente, ele cultiva 2,5 hectares de café, mas planeja expandir para 10 hectares.
A produtora Maria Cordélia, de Rodrigues Alves, também participou da atividade e destacou a importância da capacitação.
“O café está no auge, mas muita gente pensa que é só plantar e esperar lucro. Dá trabalho, e muita gente desiste no meio do caminho”, alertou.
Com três anos de cultivo e produção ainda pequena, ela planeja ampliar a área plantada:
“Tenho vontade de crescer. Até chamei meu filho para tocar a plantação com a gente”.
O encontro reforça o papel do Juruá como um dos polos agrícolas em ascensão na Amazônia, evidenciando tanto os desafios quanto as oportunidades para quem investe no café com planejamento, sustentabilidade e apoio técnico.





