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Em 04 anos a produção de soja aumentou 21 mil toneladas e a de mandioca reduziu 164 mil: a produção rural capitalista avança sobre a pequena produção familiar

A produção de soja cresceu no período mais de 1500%, alcançando o maior crescimento dentre os produtos analisados. Por sua vez, a mandioca caiu 24,5% no período, demonstrando que a matéria-prima para a fabricação de farinha, goma, tucupi etc., produtos típicos, da pequena produção rural, continua em queda livre.

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O IBGE divulgou no último dia 14/9 os dados da Produção Agrícola Municipal (PAM), referente ao ano de 2022. Os dados para o Acre demostram claramente um aumento significativo nas culturas de soja, milho e café, em detrimento de uma queda nos produtos, cuja preponderância da produção fica à cargo dos agricultores familiares (feijão, arroz, banana e mandioca). Vamos apresentar os dados da pesquisa, comparando com os valores obtidos pelo estado no ano de 2018. Na análise dos dados, serão comparadas três dimensões das principais cultura agrícolas exploradas no estado: volume da produção (toneladas), valor da produção (Mil reais) e rendimentos médio (kg/ha). No gráfico abaixo temos as variações percentuais dessas dimensões, para os últimos 4 anos.

Em quatro anos a quantidade produzida da soja aumentou 1500% e a de mandioca caiu 24,5%

ACRE: quantidade produzida, das principais lavouras temporárias e permanentes – 2018 e 2022 (toneladas)
Produtos20182022
Arroz (em casca)6.2014.605
Banana (cacho)90.68082.836
Café (em grão) Total1.9692.570
Feijão (em grão)3.4012.930
Mandioca667.700503.862
Milho (em grão)80.631135.276
Soja (em grão)1.41022.667
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

O maior volume da produção em tonelada continua, de longe, sendo a da mandioca, seguida pela de milho que, em quatro anos depois, superou a produção de banana. Conforme pode ser observada no gráfico acima e na tabela ao lado, enquanto a banana reduziu a quantidade produzida em 8,7% nos últimos quatro anos, a quantidade produzida de milho cresceu 67,8%. A produção de soja cresceu no período mais de 1500%, alcançando o maior crescimento dentre os produtos analisados. Por sua vez, a mandioca caiu 24,5% no período, demonstrando que a matéria-prima para a fabricação de farinha, goma, tucupi etc., produtos típicos, da pequena produção rural, continua em queda livre.

A Mandioca com 23.013 kg/ha e o café com 2.573 kg/ha apresentam a terceira maior produtividade do Brasil dentre os estados da federação.

ACRE: Rendimento médio das principais lavouras temporárias e permanentes – 2018 e 2022 – (quilograma por hectares)
Produtos20182022
Arroz (em casca)1.4181.267
Banana (cacho)12.30412.410
Café (em grão) Total1.7182.573
Feijão (em grão)557561
Mandioca23.56023.013
Milho (em grão)2.6753.350
Soja (em grão)2.9383.450
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

Em termos de rendimento médio, medidos em quilograma por hectare, percebe-se um monumental crescimento da produtividade do café (49,8%) foi o maior crescimento dentre as culturas pesquisadas. Em seguida, como segundo maior crescimento de produtividade aparece o milho (25,2%) e, em terceiro a soja com 17,4%. Cresceram levemente a produtividade da banana (0,9%) e do feijão (0,7%).  Já o arroz e a mandioca apresentaram queda na produtividade.

Em 2022, três dos produtos acreanos, pesquisados no presente artigo, apresentaram uma produtividade maior que a do Brasil. Em primeiro lugar, destaca-se a mandioca que durante vários anos foi líder na produtividade do país, caiu para a terceira posição com 23.013 (kg/ha) e foi superada pela do Paraná (23.648) e pela de São Paulo (23.349).

Depois aparece o café que no ano passado apresentou a terceira maior produtividade dentre os estados, com 2.573 (kg/ha), ficando abaixo somente de Rondônia (3.509) e do Distrito Federal (2.883).

Finalmente a soja que ocupa a décima primeira maior produtividade dentre os estados da federação com 3.450 (kg/ha). É a segunda maior produtividade da Região Norte, perdendo apenas para Rondônia (3.575).

Mandioca e milho dominam o valor da produção agrícola do Acre

ACRE: Valor Real Bruto da Produção das principais lavouras temporárias e permanentes – 2018 e 2022 – (Mil Reais) – Preços de dezembro de 2022
Produtos20182022
Arroz (em casca)6.7274.869
Banana (cacho)72.41493.284
Café (em grão) Total11.08227.682
Feijão (em grão)18.36915.168
Mandioca326.090201.887
Milho (em grão)71.869198.670
Soja (em grão)2.20966.396
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

O IBGE calcula o valor da produção pela média ponderada das informações de quantidade e preço médio corrente pago ao produtor, de acordo com os períodos de colheita e comercialização de cada produto. As despesas de frete, taxas e impostos não são incluídas no preço. Para melhor comparar, corrigimos o valor de 2018 para o ano de 2022.

Em 2020 a mandioca apresentou o maior valor da produção com quase 202 milhões de reais, seguido de perto pelo milho (199 milhões de reais). Depois aparecem a banana (93) e a soja com 66 milhões.

O dado marcante da tabela é a queda, em 4 anos, de 38% no valor da produção da mandioca e dos crescimentos da soja (2.900%), milho (176%) e café (150%).

 Portanto, o valor da produção dos sete principais produtos agrícolas do Acre, cresceu 19,5% em 4 anos, saindo de 509 milhões para 608 milhões de reais.

O que podemos observar é uma mudança de posição em várias dimensões da produção agrícolas do Acre. Entre 2018 e 2022, percebe-se um expressivo crescimento da Soja, do milho e do café. Seja na quantidade produzida, no valor da produção e principalmente na produtividade média. Pelos números que apresentam, são produtos competitivos seja no mercado local, nacional e internacional. Porém, os crescimentos desses três produtos, foram realizados de forma concentrada. Realizadas principalmente por grandes e médios produtores, detentores de maior volume de capital, com mais acesso ao crédito e dispondo de novas tecnologias.

Por outro lado, percebe-se uma queda nos indicadores da produção de mandioca, de banana, do feijão e do arroz. Produtos explorados pela pequena produção familiar. As quedas na produção e na produtividade é a que mais preocupam. Para os pequenos, a oferta de acesso ao crédito; a falta de assistência técnica e a novas tecnologias e a falta condições para o escoamento da produção são complicadores amplamente conhecidos. É papel do Estado criar políticas públicas para resolver esses gargalos.

Estive recentemente em uma reunião com Deputado Tchê, atual secretário da SEPA, e percebi as boas intenções demostradas pelo Secretário para alavancar a pequena produção rural do Estado. Que não lhe falte as condições necessárias para reestabelecer o apoio que esses agentes tanto merecem.

Orlando Sabino escreve às sextas-feiras no Juruá Online

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