A infecção por HPV (papilomavírus humano) está associada ao desenvolvimento do câncer de colo de útero e outros tipos de tumores que afetam a região genital da mulher. Nos homens, o vírus está relacionado a cânceres de pênis e reto.
A vacina contra o HPV é eficaz para a prevenção dos sorotipos 16 e 18 do HPV sendo adotada por mais de 100 países como estratégia de imunização de adolescentes. Os tipos 16 e 18 são os principais associados ao câncer de colo do útero.
No entanto, a adesão à vacina permanece baixa, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que a desinformação é um dos fatores que contribuem para a baixa cobertura vacinal contra a infecção.
Para o estudo, pesquisadores da Escola de Enfermagem da UFMG entrevistaram 159.245 estudantes brasileiros de 13 a 17 anos e utilizaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019. Os adolescentes responderam que o principal motivo para não ter se vacinado contra o HPV foi que “não sabiam que tinha que tomar”. Essa foi a resposta de 46,8% dos entrevistados.
De acordo com os especialistas, os resultados da pesquisa poderão subsidiar políticas públicas e estratégias de saúde para o controle e a prevenção do câncer de colo de útero no país. A vacina contra o HPV previne, além do câncer de colo de útero, o câncer de pênis e ainda os cânceres de ânus, garganta e boca, que podem acometer pessoas de ambos os sexos.
A coordenadora do estudo, Tércia Moreira Ribeiro da Silva, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública, afirma que a vacina contra o HPV previne lesões nos órgãos genitais femininos, masculinos e infecções persistentes causadas pelos subtipos 6, 11, 16 e 18 do vírus.
“Em 2019, foram notificados 5.880 mil novos casos dessa forma de câncer no mundo. No Brasil, nos anos de 2018 e 2019, foram detectados aproximadamente 16.370 novos casos de câncer de colo de útero, a terceira maior incidência entre os tumores malignos”, afirma Tércia.
“Distância ou dificuldade para ir até a unidade ou serviço” foi a resposta mais frequente entre os adolescentes matriculados em escolas públicas brasileiras. Entre meninos e meninas de escolas privadas, os motivos mais frequentes para a falta de adesão à vacinação foram: “mãe, pai ou responsável não quis vacinar” e “medo de reação à vacina”.
Os pesquisadores também observaram maior prevalência de adolescentes que não foram vacinados contra o HPV nas capitais e estados das regiões Norte e Nordeste.
A proporção de estudantes que não foram imunizados contra o HPV nas capitais foi maior em Rio Branco (22,1%), Natal (21,3%), Porto Alegre (20,4%) e Macapá (18,8%).
As capitais dos estados das regiões Norte e Nordeste apresentaram maiores proporções da resposta “não sabia que tinha que tomar”, com destaque para Teresina (54,7%), Maceió (54,6%) e Boa Vista (51%).
Por sua vez, Florianópolis (30,9%) Porto Alegre (33,6%) e Vitória (36,6%), capitais do Sul e do Sudeste, registraram as menores prevalências de adolescentes que não sabiam que tinham que tomar a vacina. Dos estados da Região Sudeste, Minas Gerais apresentou a maior proporção (47,1%) da resposta “não sabia que tinha que tomar a vacina contra o HPV”.
Papel da enfermagem
O estudo aponta que o fortalecimento das políticas públicas e das estratégias de saúde, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do país, é essencial para melhorar os indicadores de vacinação contra o HPV entre o público adolescente.
A pesquisadora da UFMG afirma que há evidências de que muitos profissionais de saúde não discutem nem recomendam a vacinação contra o HPV, ou adotam estratégias inadequadas de comunicação, o que compromete a aceitação da vacina pelos adolescentes.
A coordenadora da investigação destaca o papel central do enfermeiro como educador em saúde, estabelecendo um canal de comunicação para a divulgação de informações sobre a vacinação contra o HPV.
“Ressalta-se, ainda, a importância desses estudos para sensibilizar os responsáveis pelos adolescentes acerca dos comportamentos e atitudes que configuram fatores de risco para as infecções sexualmente transmissíveis”, enfatiza Tércia Ribeiro.
A equipe também conta com a participação dos estudantes de graduação em enfermagem Isabella de Alcântara Gomes Silva e Elton Junio Sady Prates, da aluna de pós-doutorado em enfermagem Ana Carolina Micheletti Gomide Nogueira de Sá e dos docentes Deborah Carvalho Malta e Fernanda Penido Matozinhos.
Vacinação no Brasil
A vacinação está disponível para qualquer pessoa de 9 a 14 anos de idade, independentemente do sexo. A vacinação contra o HPV em adolescentes é utilizada por mais de 100 países.
Em julho, a oferta do imunizante foi ampliada para a população masculina imunossuprimida. Homens de até 45 anos transplantados, pacientes oncológicos ou vivendo com HIV/Aids podem se vacinar. De acordo com o ministério, é adotado o esquema tradicional de três doses, independentemente da idade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou as recomendações para a vacina contra o HPV (papilomavírus humano). Em novo documento, a OMS afirma que um esquema de dose única pode oferecer eficácia e durabilidade de proteção comparáveis a um esquema de duas doses.
Com informações CNN