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Crônica de Raimundo Carlos de Lima: Homenagem aos 118 anos de Cruzeiro do Sul

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Por Raimundo Carlos de Lima

Há 118 anos, o dia 28 de Setembro tem sido um dia especial na parte mais ocidental deste imenso Brasil. E, se Deus permitir sempre será. Afinal, muitos brasileiros de outras partes deste País, em especial da Região Nordeste, e também alguns estrangeiros, reconhecendo suas riquezas naturais, incluindo a riqueza hídrica, para cá migraram pelos rios amazônicos, a maioria com suas famílias em busca de uma vida melhor.

E, como é sabido, quando a área geográfica do atual extremo brasileiro, ainda não pertencia nem ao Brasil nem ao vizinho Peru, antes da fundação de Cruzeiro do Sul, ocorrida em 1904, já haviam ocorrido alguns conflitos entre brasileiros e peruanos pela ocupação desse território cheio de riquezas.

Em especial neste ano de 2022, em que nós cruzeirenses já contamos com tanta evolução em vários campos: da saúde, da economia, da educação, do serviço social, da cultura e de outros mais, em um deles ocorreu uma importante evolução. Trata-se do campo cultural, quando, após muitos anos de zelo e preservação de documentos valiosos, a família de um dos mais destacados cidadãos comprometidos com a Educação, Cultura, Direito e Imprensa – o imortal JOÃO MARIANO DA SILVA. À frente das providências tomadas, a filha Gisalda Mariano Coelho Sampaio e seus filhos, com maior envolvimento de João Gutemberg e Plácida Cameli, além da contribuição de muitos munícipes e representantes da Cultura, incluindo o âmbito oficial, foi implantado e inaugurado o rico e valioso ACERVO HISTÓRICO-CULTURAL JOÃO MARIANO DA SILVA, com sua instalação inicialmente no Shopping Copacabana, sito nas Avenidas Boulevard Thaumaturgo e 28 de Setembro – Bairro Copacabana, próximo ao Centro da cidade.

O interesse no conhecimento do acervo tem demonstrado que sua existência já era esperada há bastante tempo e que será de fundamental importância para que seus visitantes, em especial os alunos de Primeiro e Segundo Graus, contem com ricas fontes de pesquisas histórico-culturais.

Esse importante destaque aqui posto, relativo ao Acervo Joao Mariano, serviu de estímulo para que eu utilizasse, neste momento, um de seus documentos que, sem diminuir a importância dos demais, dispõe ele de valiosos dados e informações para que possamos melhor conhecer o 1º meio século (primeiros 50 anos) dessa cidade que tanta gente, como eu, tem motivos de orgulho e amor. Esse documento, que faz parte do Acervo foi denominado por João Mariano de Resenha Comemorativa do Cinquentenário de Cruzeiro do Sul – Território do Acre., impresso nas Oficinas de um de seus dois jornais: “O Juruá”, tendo como Editor o próprio Jornalista João Mariano da Silva e como tipógrafo Rezende de Souza Lima e os auxiliares Francisco Raimundo da Silva e Francisco Gomes da Silva.

A revista (resenha), editada em setembro do ano de 1954, contempla uma homenagem aos fundadores da cidade e também a grandes empreendedores; divulga, com exceção de nomes de seringais, os principais empreendimentos comerciais do momento e, em seguida nos oferece (o editor) uma bela crônica com o título Rosas e Saudades, cujo conteúdo vale a pena aqui transcrever como uma espécie de homenagem ao autor e também mostrar, a quem não teve oportunidade de tomar conhecimento de como se poderia tão bem escrever, já nos idos de 1954, nos confins do extremo ocidente do Brasil, com tanta riqueza e tanto brilho. Eis aqui a parte da resenha que bem resume os primeiros 50 anos de Cruzeiro do Sul:

Rosas e Saudades

Nas aglomerações humanas espalhadas por todo o Orbe, o homem buscou viver em conjunto, erigindo o seu pouso ao lado do vizinho e fixando-se em determinadas áreas, produzindo e importando de outras áreas o necessário à sua subsistência.

Formaram-se as cidades que se acham espalhadas por todo o planeta. Acontece, porém, que somente um limitado número delas conhece a sua história; assim como, mesmo em gerações passadas que não vão muito distantes, o homem ignorando a arte escrita, desconhecia, muitas vezes, a data de seu nascimento, também, as cidades na sua maioria, mesmo as que não nasceram do acaso, tiveram as suas datas perdidas, submergidas no insondável oceano do tempo.

Cruzeiro do Sul, plantada numa clareira aberta na milenária floresta como sentinela avançada do mais distante rincão da pátria brasileira, ao som rítmico e marulhante das pardacentas águas juruaenses, conhece perfeitamente a sua história. Tem ciência de que num pupilo de bravos sertanistas e arrojados desbravadores nordestinos, ladeando a figura máscula e inolvidável de Gregório Thaumaturgo de Azevedo, plantou nestas paragens, onde ainda se viam no solo, as recentes pegadas do tapir e nas árvores os sinais das hervadas flexas dos Nauas, sim, plantou este glorioso marco de civilização brasileira, no dia 28 de setembro de 1904. Cinquenta anos são decorridos… O tufão invulnerável do Tempo na sua faina e ciclópica, fez tombar, um a um, quase todos os que naquele memorável dia, alongando as vistas deste lugar para os quatro pontos cardeais, vislumbraram para esta terra as culminâncias do futuro.

Hoje, 28 de setembro de 1954, aqui, somente, encontramos três sobreviventes daquele ido de meio século: – Da.Gertrudes da Silva Ramos, Francisco Januário de Assis e Francisco Correia Barahuna: – três “cedros” que a “ventania” poupou na escarpa da “montanha” destinados a assistirem às comemorações de hoje. Nas mãos deles depositamos ramalhetes de rosas e jasmins e saudades. (sem grifos no original)

Rosas e jasmins para a mocidade risonha de hoje, cuja visão se espraia para a esmeraldina sifombra do porvir; lírios e saudades para o túmulo dos que se foram, depois de terem legado a esta terra o suor dos seus rostos e partículas de seus corações! Também mandamos, nesta hora, um Adeus fraterno de agradecimento a todos os que se encontram com as frontes ornadas de prateados fios, e que presentes ou já ausentes contribuíram para a melhor existência de Cruzeiro do Sul.

Dito isso, aqui apresentamos ao público a RESENHA COMEMORATIVA DA FUNDAÇÃO desta cidade. Obra despretensiosa e sem arte, mas representa o máximo que, hoje, aqui se pode fazer. Alguns amigos opinaram que mandássemos editá-la noutro meio onde fôsse possível obra de melhor feição; achamos, porém, a “prata de casa” deve ter mais valor. Agradecemos a todos que nos animaram a levar avante este empreendimento e muito particularmente a três amigos que contribuiram de forma expontânea para a edição desta revista: Dr. Abel Pinheiro Maciel Filho, Cel. José Guiomard dos Santos e Pedro de Novais Banittz.

Volvendo os olhos aos Céos fazemos votos que Cruzeiro do Sul ao vencer a outra etapa para o seu CENTENÁRIO possa oferecer ao Brasil e ao mundo melhor panorama, para a glória da TERRA DOS NAUAS!

Centro de Cruzeiro do Sul – zona onde já estava o mercado central
(aos 50 anos da fundação) – Foto: reprodução

Não é possível tratarmos, aqui, de muitos dados que mostram toda a grande evolução ocorrida nos vários setores do município, então, vamos registrar apenas que, perto dos 50 anos (1954) de fundação de Cruzeiro do Sul (Recenseamento de 1950), Cruzeiro do Sul contava com uma população de 21.761 habitantes.

Ao completar 100 anos (um século, em 2004), Cruzeiro do Sul já podia sentir-se mais orgulhosa de sua evolução em vários setores. Tinha uma população total de 78.785 habitantes. Na foto mostrada acima, não aparece a catedral de Nossa Senhora da Glória, que ficava no Morro da Glória, à esquerda de quem olha a foto, cerca 800 metros, e depois fora substituída pela nova catedral, vista na foto seguinte (aos 100 anos da fundação).
E agora, ao completar seus 118 anos (como neste 28 de setembro de 2022, em que o Censo Geral do IBGE ainda não foi concluído, por razões oficiais já justificadas), cabe registrar, provisoriamente, a população estimada em 2021, que é de 89.760 habitantes. Mas, que a população assistida por Cruzeiro do Sul, como cidade-polo, em especial nas áreas educacional, de saúde e atividades bancárias, é estimada em 161.394, além da população dos municípios amazonenses de Guajará e Ipixuna, com população estimada de 48.365, perfazendo um total de 209.759 pessoas que podem demandar assistências em Cruzeiro do Sul-Acre.

Abaixo, vista do setor central aos 100 anos, na parte mostrada na foto acima, dos 50 anos:

Centro de Cruzeiro do Sul – zona onde ficam o mercado central e a nova catedral
Foto: Raimundo Carlos de Lima (jan-2004)

Neste ano de 2022, em que Cruzeiro do Sul completa 118 anos de fundação, embora
seja um ano em que se faz a recuperação de parte dos prejuízos decorrentes da pandemia Covid-19, várias realizações positivas ocorreram no município, dentre elas destacam-se, na infraestrutura:

a) construção da primeira etapa (e principal) da rodovia que liga o município de Porto Walter-AC a Cruzeiro do Sul-AC, com cerca de 84 km de extensão e que tem a previsão de também estender-se até o município Marechal Thaumaturgo, próximo à fronteira Brasil-Peru. A etapa mais difícil, porém a principal, do trecho Porto Walter Cruzeiro do Sul, já tem um bom tráfego, iniciado neste mês de setembro, como se pode ver na foto a seguir e que, num dos eventos de inauguração levou um grande número de veículos com passageiros, de Cruzeiro do Sul para o Festival do Milho realizado em Porto Walter no mês de setembro de 2022.

      1ª etapa da Rodovia Porto Walter-Cruzeiro do Sul (já em uso)
                                              Foto: acervo vereador Robson (Porto Walter)

b) a duplicação da estrada que liga a zona urbana da cidade de Cruzeiro do Sul ao seu aeroporto internacional, em fase final de construção.

        Estrada do Aeroporto Internacional de Cruzeiro do Sul (zona urbana-aeroporto, 14 km)
    Foto: Joaquim Adolfo Bezerra Neto (set-2022)




     Cruzeiro do Sul na atualidade – vista aérea – parte central da cidade

Vista parcial (atual) da cidade de Cruzeiro do Sul-Acre – Foto: Onofre Brito

Então, os votos do imortal João Mariano da Silva, em sua Resenha de 1954, para que Cruzeiro do Sul ao vencer a outra etapa para o seu CENTENÁRIO pudesse oferecer ao Brasil e ao mundo melhor panorama, para a glória da TERRA DOS NAUAS, foram por Deus atendidos.

Parabéns à minha terra natal, Terra dos Nauas e Capital do Alto Juruá, no Extremo Oeste do Brasil, onde “a imagem do Cruzeiro resplandece”, e a todos os seus habitantes, filhos legítimos e adotivos, por seus 118 anos de luta, crescimento e desenvolvimento!

  • Raimundo Carlos de Lima (Dindola) é cruzeirense, autor de:
  • livro NA AMAZÔNIA OCIDENTAL, a cidade-sede do Alto Juruá revelada, lançado em jan 2016;
  • poema Amor à terra do extremo ocidente, de 2017 (homenagem a Cruzeiro do Sul por seus 113 anos);
  • crônica em homenagem aos 114 anos de Cruzeiro do Sul-AC (set-2018);
  • crônica em homenagem aos 115 anos de Cruzeiro do Sul-AC (set-2019).
  • crônica em homenagem aos 116 anos de Cruzeiro do Sul-AC (set-2020).
  • crônica em homenagem aos 117 anos de Cruzeiro do Sul-AC (set-2021).

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