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Comerciantes denunciam a grande concentração de usuários de drogas no centro de Cruzeiro do Sul

Ação não afeta apenas o comércio. A presença dos viciados circulando pelas ruas, alguns seminus e com os aspectos degradáveis, metem medo nas pessoas e afastam até os turistas que, em tempos normais, costumam posar para fotografias diante da Catedral.

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Iniciada em 19567 e concluída em 1965, sob a caprichosa arquitetura europeia influenciada por religiosos católicos alemães, famosa por conter em sua estrutura pelo menos 1 milhão de tijolos maciços, a Catedral Nossa Senhora da Glória, localizada no centro de Cruzeiro do Sul, não é mais só o maior símbolo e referência da região do Vale do Juruá.

Imagem mais reverenciada na segunda cidade mais populosa do Acre, com quase 90 mil habitantes segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), passou, de cartão postal majestoso, à condição de testemunha ocular e impotente da transformação do centro de Cruzeiro do Sul numa espécie de cracolândia acreana, como é definido o fenômeno que começou em São Paulo a partir da concentração de pessoas para uso de crack e outras drogas ilícitas.

A diferença entre os usuários de drogas paulistas e os de Cruzeiro do Sul é que, no Vale do Juruá, ainda que os mesmos traços e circunstâncias sejam mantidos, com as pessoas – homens e mulheres, de várias idades, incluindo pessoas com menos de 18 anos -, agindo como zumbis, é que os viciados do Juruá não se concentram numa rua específica.

“Antes eles ficassem só num único lugar, porque aí a polícia só teria o trabalho de cercá-los e não deixar sair. Mas eles agem em todo o centro, de dia e de noite”, disse um comerciante dono de uma loja na rua Rui Barbosa, a mesma em que está fincada a Catedral, no centro da cidade.

A ação dos viciados não se restringe ao uso de drogas. Eles circulam por toda a área central da cidade em busca de objetos a partir dos quais cometem pequenos furtos a fim de trocar os objetos pela droga que vão consumir. Em buscas de objetos de pequenos valores, eles acabam arrombando lojas e residências e cometendo roubos capazes de grandes prejuízos à comunidade,

Ação não afeta apenas o comércio. A presença dos viciados circulando pelas ruas, alguns seminus e com os aspectos degradáveis, metem medo nas pessoas e afastam até os turistas que, em tempos normais, costumam posar para fotografias diante da Catedral.

As fotos são tiradas, principalmente, no período de preparação do novenário em honra de Nossa Senhora da Glória, a padroeira da cidade, durante os primeiros 15 dias de agosto na segunda maior festa religiosa da Amazônia – a primeira é o Círio de Nazaré, em Belém (PA).

Por isso, na última segunda-feira instituições como a Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac), o governo Estado, a Associação Comercial do Vale do Juruá, além de representantes de órgãos de Segurança Pública e do Poder Judiciário e do Ministério Público do Estado do Acre (MPA) e da Prefeitura Municipal decidiram se reunir para discutir o assunto. A ideia seria tirar daquele encontro estratégias de segurança no sentido de diminuir a violência e a presença dos viciados no centro de Cruzeiro do Sul.

A Secretaria de Segurança Pública emitiu uma informação de que o caso não é apenas de polícia e que o órgão não pode tratar do assunto de forma isolada. “Importa destacar que a criminalidade não pode ser enfrentada apenas pelo sistema repressivo do Estado e sim por toda a sociedade, por isso a importância das parcerias com a Polícia Civil, Ministério Público, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Penal, Assembleia Legislativa do Acre e Prefeitura de Cruzeiro do Sul”, disse um comunicado emitido pelo órgão.

Dentre as medidas adotadas, está a criação do Conselho Municipal de Segurança. Além disso, a Polícia Militar reforçará o policiamento no centro de Cruzeiro do Sul. Outra reunião será realizada, dessa vez apenas com membros das instituições, para que mais dados sejam apresentados e debatidos.

“Cabe à Polícia Militar a preservação ostensiva da ordem pública, protegendo o cidadão, a sociedade e os bens públicos, contribuindo com todos os segmentos, diminuindo conflitos e garantindo a segurança para a população”, destacou o comandante da Polícia Militar em Cruzeiro do Sul, Edvan Rogério.

“A Polícia Civil visa objetivamente diminuir os elevados índices de criminalidade e dar ao povo cruzeirense o sentimento de segurança”, disse o delegado Henrique Maciel, diretor-geral de Polícia Civil.

“A Aleac, juntamente com outras esferas do poder público, irá definir propostas conjuntas que sejam eficazes no combate à criminalidade no centro da cidade de Cruzeiro do Sul”, disse o deputado Luiz Gonzaga, presidente da Assembleia Legislativa do Acre. “Foi uma reunião ampla em que foram discutidas outras pautas na área da Segurança Pública para o Vale do Juruá”, acrescentou o o deputado Nicolau Júnior (PP), primeiro-secetário da Aleac.

“O conceito de ordem pública nos remete a um universo de relações sociais constituídas a partir do ordenamento político e jurídico do Estado, bem como das demandas e expectativas da sociedade. Por isso, nosso objetivo é respondê-las com ações eficazes no controle e combate à criminalidade”, Elves Barros, diretor do Iapen (Instituto de Administração Penitenciária). O prefeito de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima (PP), disse que reuniões como a que ocorreu são importantes mas, segundo ele, é preciso que todos os órgãos se envolvam com a questão e se comprometam com a retirada dos viciados das ruas. Segundo ele, a Prefeitura de Cruzeiro do Sul, em 2022, conseguiu tirar 26 pessoas em situação de rua. “Desses, 13 conseguiram reabilitação e até voltaram seio de suas famílias. Isso, para nós, é uma grande vitória”, disse o prefeito.

Em 2023, o número de internações, segundo o prefeito, já é de 22. O problema é que, para ser retirado da rua para uma casa terapêutica a pessoa precisa, primeiro, aceitar a ideia. “A gente tem que conversar e convencer a pessoa porque ela não pode ser ineternada compulsoriamente, a força. É por isso que é preciso um trabalho assistencial de todos os órgãos envolvidos”, disse o prefeito.

De acordo com dados da Prefeitura, só no centro de Cruzeiro do Sul, hoje há mais de cem pessoas vivendo em situação de ruas, a grande maioria viciadas em drogas e álcool e que, para sustentar seus vícios, cometem a onda de furtos e arrombamentos registrados atualmente na área central da cidade.

Por ContilNet

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