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Com tornozeleira eletrônica, mãe que abandonou gêmeas autistas no AC diz que não tem condições de criar as meninas

‘Já estava difícil antes, agora com esse negócio na minha perna ficou pior’, diz ela sobre a tornozeleira.

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Ainda tentando entender o que aconteceu e tendo que usar tornozeleira eletrônica, a mulher de 34 anos presa por abandonar as filhas gêmeas de 13 anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em Sena Madureira, interior do Acre, na frente da casa do pai diz que não tem condições financeiras de criar as meninas. Ela conversou com a reportagem nesta quinta-feira (21) e relatou o drama para tentar cuidar das filhas após a separação.

Por ser processo envolvendo menores de idade, a reportagem não vai revelar o nome da mãe.

Ela foi presa em Rio Branco no último dia 24 de agosto, pelo Núcleo de Capturas da Polícia Civil, por abandono de incapaz, mas nega que tenha abandonado as filhas. As meninas foram deixadas em frente à casa do pai, que acionou o Conselho Tutelar da cidade e as meninas foram levadas para um abrigo de Rio Branco.

A mulher contou que se separou do pai das crianças em dezembro do ano passado e que, ao sair de casa, levou o filho mais velho, de 16 anos, que é diagnosticado com grau severo do transtorno.

Foi então que foi morar em Rio Branco com o atual companheiro e o filho mais velho, deixando as outras duas filhas, de 13 anos, que também têm autismo, com o pai em Sena Madureira. Após um tempo, o filho teve várias crises e ela então pediu que o ex-marido ficasse com o menino, que ela ficaria com as adolescentes. E o homem teria se negado.

A mulher afirmou ainda que desde que deixou o ex-marido, eles não conseguiam se entender, ele chegou a ameaçá-la e ela então registrou denúncias contra ele, conseguindo uma medida protetiva. Eles ainda não concluíram processo de separação e existe atualmente um processo de guarda dos filhos em tramitação na Justiça.

Os dois não conseguiram entrar em acordo, e por um tempo ela conseguiu ficar só com uma das meninas e os outros dois com o pai. Segundo relato da mãe, passados uns dias, o ex-marido mandou a outra filha para ela em Rio Branco e ficou com o mais velho em Sena Madureira.

“Em fevereiro eu viajei para João Pessoa com elas duas e meu atual marido, o pai delas foi comunicado, teve a despedida. Quando chegamos lá, uma delas começou a ter crises de comportamento, ficou agressiva. Passou por atendimento médico lá, a situação ficou bem complicada e decidimos voltar para o Acre para ela fazer tratamento. Em nenhum momento, ele ofereceu ajuda, nem ele e nem outros familiares. Consegui ficar na casa de uma tia minha com as meninas de favor por um tempo”, contou.

Denúncias

A mãe das crianças contou que chegou a passar por audiência, após denúncias do ex-marido, inclusive, de que as filhas teriam sido vítimas de abuso por parte do atual companheiro da mãe. Ela disse que teve que ir até o Conselho Tutelar de Sena Madureira com as filhas por conta disso. As meninas teriam passado por exames, que deram negativo para abuso.

Em Sena Madureira, a mulher disse que não tinha um local para morar com as filhas e o companheiro e que buscou ajuda de todas as formas. Até que chegou ao ponto de decidir deixar as meninas na casa do pai.

“No dia 21 do mês passado fui ao Conselho Tutelar, fui recebida por dois conselheiros. Eu falei que cheguei em um ponto que não estava mais dando para continuar. Que estava faltando até medicação para minha filha, meu esposo não conseguiu emprego. Contei que estávamos passando privações e que elas tinham um lar, tinham pai. Eles disseram que não tinham mais o que fazer por nós e pra eu entregar as meninas para o pai, até porque a guarda não estava definida ainda. Peguei as meninas, coloquei no carro e fomos até a casa dele, ele viu a gente chegando e fechou o portão”, contou.

Mulher nega abandono

Ela disse que após um tempo na frente da casa, o homem chegou a sair e foi em direção ao carro. Eles discutiram e ela deixou as meninas no local e voltou para Rio Branco, onde ficou até ser presa.

“Em nenhum momento eu abandonei elas. Eu estava precisando de ajuda naquele momento pela situação que a gente estava passando. Meu marido não está trabalhando e a gente estava passando por um momento difícil com elas. Uma coisa é adulto passar, outra coisa é você estar com duas crianças, é uma responsabilidade muito grande. Na verdade, eu reconheço que minha irresponsabilidade foi quando eu fui até o Conselho e eu não pedi um documento para ficar registrado, porque eles negaram que fui lá naquele dia. Eles falaram que eu não estive lá”, disse.

Após ser presa em Rio Branco, a mulher foi levada para a Delegacia de Flagrantes (Defla) e em seguida para o presídio da capital. No mesmo dia, ela passou por audiência de custódia e foi liberada com uso de tornozeleira eletrônica. Ela contou que tem tido liberação para visitar as filhas, que estão em um abrigo em Rio Branco e que ainda não tem condições de tentar reaver a guarda das meninas.

“A situação continua bem difícil. Da mesma forma que eu sofri lá dentro [da prisão], eu sofro aqui fora. Porque as pessoas, querendo ou não, têm um olhar preconceituoso, julgador. Eu estou sem trabalho, o meu esposo também, já deixou o currículo dele em vários lugares. Se já estava difícil antes, agora com esse negócio na minha perna [tornozeleira] ficou pior”, concluiu.

Pai das meninas diz que malas e as duas adolescentes foram deixadas na rua — Foto: Arquivo pessoal

Pai das meninas diz que malas e as duas adolescentes foram deixadas na rua — Foto: Arquivo pessoal

O que diz o pai

O pai das meninas, no entanto, diz que não é a primeira vez que a ex-mulher fez isso. Ele conta que no dia que ela foi deixar as meninas na casa dele, o filho também estava em crise e ele tentava acalmar o adolescente.

“Por isso eu estava do lado de fora da casa, porque ele é autista em nível grave. Essa é a segunda vez, em 20 de dezembro, de madrugada ela fugiu levando nosso de 15 anos enquanto eu trabalhava. Registrei um BO e quatro dias depois ela veio deixar ele de volta à noite, só abriu a grade da área e deixou ele e fugiu novamente deixando as meninas chorando. Não tenho como cuidar dos três por conta da agressão, que já sofro com o menino”, relata.

Ele conta ainda que as meninas estão no abrigo e só pedem para ficar com a mãe. “No abrigo é muito perigoso pra elas estarem lá, ela visita as filhas, mas alega que só vai levá-la para casa se for por ordem judicial.”

O pai diz ainda que tem comprado a medicação do adolescente com ajuda de outras pessoas. “Na verdade ela não deixou as crianças na minha casa, ela deixou as crianças no meio da rua e saiu no carro e elas foram correndo atrás do carro, atrás da mãe delas. Tem um sistema de câmeras na casa do meu vizinho que registrou toda situação. Na primeira audiência ficou certo que elas não poderiam ficar comigo por conta do outro filho”, finaliza.

Investigação

Após o abandono, o Conselho Tutelar de Sena Madureira acionou o Poder Judiciário e o Ministério Público Estadual, que pediu a prisão da mulher à Justiça. O juiz do caso analisou o pedido e se posicionou também a favor da captura da mãe.

Em entrevista à reportagem no dia da prisão da mulher, o delegado responsável pelo caso, Thiago Parente disse que, apesar da negativa da mãe, o abandono está “bem claro nos autos do processo”.

Nesta quinta-feira (21), o delegado disse que o caso foi denunciado pelo Ministério Público do Acre e atualmente tramita no judiciário, portanto, não houve inquérito por parte da Polícia Civil.

“Não temos nada por aqui dessa situação porque o processo partiu do Ministério Público e está em tramitação no Judiciário. Não houve inquérito, partiu direto do MP o pedido de prisão e denúncia”, informou.

Com informações G1 Acre

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