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Brasileiros relatam rotina em estado da Austrália com 7 mortes por Covid em um ano: ‘Vida normal’

Giovanna de Lamos Costa e Rafael de Oliveira Soares Lopes são de Sorocaba, no interior de São Paulo, e contam como é viver em cidades que já liberaram eventos com aglomeração e derrubaram a obrigatoriedade do uso de máscaras.

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Enquanto no Brasil a segunda onda de Covid-19 ainda parece longe do fim, alguns lugares mais distantes já conseguiram controlar a transmissão da doença e, aos poucos, começam a viver uma realidade mais próxima do pós-pandemia. É o caso do estado de Queensland, no nordeste da Austrália, onde vivem os brasileiros Giovanna de Lamos Costa e Rafael de Oliveira Soares Lopes.

Os dois são de Sorocaba, no interior de São Paulo. Giovanna, de 27 anos, mora a três anos e meio na cidade de Gold Coast, onde trabalha como faxineira. Já Rafael, de 33, vive desde 2016 com a mulher em Brisbane, onde tem uma pequena empresa de pintura residencial e comercial – no Brasil, ele era analista financeiro e fiscal.

Segundo a Johns Hopkins University, a Austrália tem mais 29 mil casos e de 900 mortes por Covid-19 desde o início da pandemia. Já o Brasil  passou de 13,6 milhões de casos e de 362 mil óbitos,, conforme levantamento do consórcio de veículos de imprensa divulgado às 20h desta quarta-feira (14).

O governo australiano informa que estado de Queensland – que tem cerca de 5,1 milhões de habitantes – havia contabilizado 1.508 casos e sete mortes pela doença até a última atualização desta reportagem. A título de comparação, em Sorocaba – com população estimada em 690 mil pessoas –, os números de casos e óbitos passaram, respectivamente, de 49,8 mil e 1,4 mil.

Eventos de grande porte

Sem registrar nenhuma morte por Covid-19 desde dezembro de 2020, a Austrália retomou, no fim de março, os eventos de grande porte para milhares de pessoas. O primeiro óbito pela doença em 2021, de um idoso de 80 anos, foi confirmado nesta terça-feira (13).

Diante disso, Rafael e a esposa voltaram a frequentar normalmente a academia, a igreja aos domingos de manhã e festas de aniversário, mas sempre tomando as devidas precauções. Além disso, há alguns dias, assistiram presencialmente a um jogo de rúgbi que reuniu cerca de 25 mil pessoas.

Rafael e a esposa assistiram a um jogo de rúgbi há alguns dias — Foto: Rafael de Oliveira Soares Lopes/Arquivo pessoal

Rafael e a esposa assistiram a um jogo de rúgbi há alguns dias — Foto: Rafael de Oliveira Soares Lopes/Arquivo pessoal

Partida de rúgbi reuniu cerca de 25 mil pessoas em Brisbane — Foto: Rafael de Oliveira Soares Lopes/Arquivo pessoal

Partida de rúgbi reuniu cerca de 25 mil pessoas em Brisbane — Foto: Rafael de Oliveira Soares Lopes/Arquivo pessoal

Como o namorado de Giovanna toca em bandas, ela também tem participado de alguns eventos com aglomerações no país. “Às vezes, os policiais e fiscais vão aos lugares, param os eventos e pedem no microfone para as pessoas se espalharem, mas a gente já está vivendo uma vida normal”, conta.

A jovem explica que, por conta dos baixos números de casos e mortes, o governo de Queensland vem afrouxando algumas restrições desde o fim do ano passado.

Os bares e baladas, por exemplo, que só permitiam clientes sentados no início da pandemia, voltaram a funcionar normalmente, mas com capacidade reduzida e mesas afastadas para manter o distanciamento social. “Em dezembro já permitiram ficar em pé e fazer festas, festivais, feiras, tudo normal”, continua.

Giovanna com as amigas em uma festa de carnaval na Austrália após a liberação dos eventos — Foto: Giovanna de Lamos Costa/Arquivo pessoal

Giovanna com as amigas em uma festa de carnaval na Austrália após a liberação dos eventos — Foto: Giovanna de Lamos Costa/Arquivo pessoal

Fronteiras abertas

Segundo Giovanna, no ano passado, as fronteiras de Queensland foram fechadas, ou seja, quem viesse de outro estado precisava fazer quarentena por conta própria ou preencher um formulário explicando o motivo da visita para ser liberado do período da reclusão.

No fim de janeiro, todas as fronteiras foram abertas, mas, como foram registrados novos casos de coronavírus em outros estados do país, o governo decidiu fechá-las outra vez, reabrindo novamente somente durante a Páscoa.

“Foi o primeiro feriado com todas as fronteiras abertas de toda a Austrália. Teve um caso recente em Brisbane que se espalhou por Gold Coast e Byron Bay, e decretaram lockdown de três dias em Brisbane uma semana antes.”

“Para não precisar fechar as fronteiras no feriado, o uso de máscara passou a ser obrigatório no estado, porque antes a gente não precisava usar. Comprei a minha primeira máscara uma semana atrás”, comenta Giovanna.

Homem caminha em rua vazia de Brisbane, na Austrália, em 30 de março, após imposição de lockdown na cidade — Foto: AAP Image/Darren England via Reuters

Homem caminha em rua vazia de Brisbane, na Austrália, em 30 de março, após imposição de lockdown na cidade — Foto: AAP Image/Darren England via Reuters

De acordo com Rafael, o uso obrigatório de máscaras em lugares públicos e a recomendação de distanciamento social se encerram nesta quinta-feira (15) em Queensland. “É possível dizer que a Austrália praticamente já vive vida normal pós-pandemia”, opina.

Atualmente, as fronteiras da Austrália estão fechadas mais uma vez e só podem entrar no país cidadãos australianos ou residentes, membros imediatos da família ou viajantes que estiveram na Nova Zelândia nos 14 dias anteriores.

Todos aqueles que chegam ao país precisam cumprir uma quarentena de duas semanas. Navios de cruzeiro podem entrar em águas australianas, mas os passageiros e a tripulação não podem desembarcar.

“Ainda que não tenha muitas restrições, a gente sempre tem aquele pé atrás, incerteza, medo, mas aqui, qualquer caso novo, o governo toma algum tipo de medida, como um lockdown na cidade inteira. A gente tem essa segurança, sabe que o governo vai tomar conta de tudo, mas a gente não sabe com o que está lidando. Álcool em gel virou obrigatório independente da pandemia e as pessoas tentam não ficar muito perto umas das outras. A gente sabe que ainda não está tudo 100% bem”, diz Giovanna.

Vacinação em fases

Assim como no Brasil, a vacinação contra a Covid-19 é realizada por fases na Austrália. Estão sendo utilizados os imunizantes da Pfizer/BioNTech e de Oxford/AstraZeneca.

A primeira etapa engloba profissionais da saúde, pessoas que trabalham em locais de quarentena e profissionais de casas de repouso, seguidos de idosos acima de 70 anos, aborígenes em geral e profissionais de alto risco, como policiais, bombeiros e emergência.

Voluntária recebe vacina em testes da Covid-19 em Brisbane, na Austrália, em 2020 — Foto: AAP Image/University of Queensland Pool, Glenn Hunt via Reuters

Voluntária recebe vacina em testes da Covid-19 em Brisbane, na Austrália, em 2020 — Foto: AAP Image/University of Queensland Pool, Glenn Hunt via Reuters

Na segunda fase, serão vacinados adultos acima de 50 anos e, depois, o restante dos adultos. Por fim, na terceira fase, os menores de 20 anos serão contemplados. Até o momento, de acordo com dados do governo, 1.295.672 doses foram aplicadas na Austrália contra  33.078.114 doses no Brasil. Como não fazem parte dos grupos prioritários, Giovanna, Rafael e a esposa ainda não foram imunizados.

“As vacinas chegaram no final de fevereiro. Eles têm um serviço no site do governo para cadastrar os dados e te dão mais ou menos uma data da vacinação e de qual fase você vai participar. Eu vou ser uma das últimas por conta da idade, deram uma previsão de maio a junho”, conta Giovanna.

Controle da pandemia

Para os sorocabanos, a rigidez do governo e a disciplina da população diante das regras foram essenciais para que a Austrália conseguisse controlar a pandemia de maneira mais eficiente do que o Brasil.

Giovanna comenta que o estado de Queensland é visto como um exemplo no país desde o início da pandemia e, por isso, várias pessoas de outros lugares da Austrália acabaram se mudando para lá.

“Foi considerado o estado mais seguro para se estar neste momento. O governo foi muito criticado várias vezes, porque tem muita gente que ainda contesta a pandemia e o uso de máscara, mas não importa se há discussões e pensamentos contrários. Quando não existe respeito às regras, eles impõem, cobram multa de estabelecimentos e pessoas na rua. Isso se vê no resultado, essa é a principal diferença.”

Segundo Giovanna, durante todo o momento, o governo prezou muito pelos cidadãos australianos. Até o dia 28 de março deste ano, por exemplo, eles tiveram direito a um auxílio que variava entre $ 750 e $ 1.200. Além disso, o governo ajudava empresários e comerciantes pagando uma parte dos salários caso eles empregassem australianos que estivessem desempregados.

“Eles deram muito suporte, investiram dinheiro no lugar certo e tentaram ao máximo mapear todos os casos e controlar a situação. Também tinha alguns postos de testes rápidos gratuitos e, se você entrasse em contato com alguém que pegou Covid, eles convocavam para fazer o teste. Do dia para a noite, eles faziam uns 30 mil testes”, explica.

Festa realizada em Gold Coast quando os convidados deveriam ficar sentados — Foto: Giovanna de Lamos Costa/Arquivo pessoal

Festa realizada em Gold Coast quando os convidados deveriam ficar sentados — Foto: Giovanna de Lamos Costa/Arquivo pessoal

Entre os fatores que ajudaram a Austrália a ter sucesso no controle do vírus, Rafael cita a facilidade de controle das fronteiras por ser uma ilha de tamanho continental, a quarentena obrigatória após voos internacionais, o lockdown localizado somente em áreas com casos confirmados, o número de testes realizados e os fatores populacional e cultural.

“O povo australiano, em geral, é bastante consciente em relação às regras, e isso eu vi claramente aqui durante o período mais restritivo no controle do vírus. A população seguiu as orientações de maneira mais disciplinada em comparação com o que eu vi e ouvi do que aconteceu no Brasil”, comenta.

“É muito estranho ver tudo o que está acontecendo no Brasil. Depois de um ano, as coisas estão piores do que deveriam estar, piores do que no começo. É difícil você falar não estando no meio da situação, é difícil julgar, mas não tem como comparar, é muito diferente, as pessoas foram obrigadas a respeitar aqui e realmente respeitaram”, completa Giovanna.

“Aqui há muito um pensamento no próximo que eu não vejo no Brasil. As pessoas têm noção de como é viver em comunidade, de que o que você faz afeta o outro. Isso não começou com a pandemia”, finaliza a jovem.

Via-G1

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