O Acre alcançou em 2023 a menor taxa de mortes violentas intencionais (MVI) da Amazônia Legal, com 25,8 homicídios por 100 mil habitantes, o que representa uma redução de 9,7% em relação ao ano anterior. Os dados são da 3ª edição do Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado nesta quinta-feira, 12.
Os dados, no entanto, revelam um quadro desigual dentro do estado, com algumas cidades, principalmente na região de fronteira, apresentando índices alarmantes de violência, o que mostra que os desafios ainda são profundos, especialmente nas áreas mais vulneráveis ao tráfico de drogas e à presença de facções criminosas.
Brasiléia, localizada na tríplice fronteira com Bolívia e Peru, segue como o município mais violento do Acre, com uma taxa de 57,9 homicídios por 100 mil habitantes no triênio 2021-2023. A cidade, conhecida por ser um ponto estratégico para o tráfico de drogas, tem vivido um conflito constante entre facções criminosas como o Comando Vermelho e a B13, ligada ao PCC. A dinâmica do tráfico internacional de drogas, somada à alta tensão entre grupos criminosos, tem gerado um ciclo de violência que afeta diretamente a população local, que já sofre com os desafios de uma região periférica e com a escassez de políticas públicas de segurança.
Próxima de Brasiléia, Assis Brasil também apresenta taxas de homicídios alarmantes, com 49,6 mortes por 100 mil habitantes. A cidade, com pouco mais de 8 mil habitantes, é uma rota essencial para o tráfico transnacional, dada a sua proximidade com a fronteira com o Peru e a Bolívia. Assis Brasil foi dominada por facções como o Comando Vermelho, mas, até recentemente, também foi alvo de disputas violentas entre diferentes grupos criminosos. A presença de facções oriundas do Sudeste do Brasil, como o PCC, tem intensificado a violência na região desde a década de 2010, transformando a cidade em um campo de batalha para o controle do tráfico de drogas e armas.
Senador Guiomard, com uma taxa de homicídios de 40,4 por 100 mil habitantes no triênio, também está entre as cidades mais violentas do Acre, embora tenha apresentado uma redução de 42,8% nas mortes violentas de 2022 para 2023. O domínio do Comando Vermelho na cidade contribui para a manutenção de uma situação de violência constante, e a redução recente pode ser explicada, em parte, pela repressão policial e o fortalecimento das operações de segurança, mas o município ainda apresenta números alarmantes quando comparado a outras áreas do estado.
Já Epitaciolândia, com uma taxa de 39,3 homicídios por 100 mil habitantes, ocupa a quarta posição entre as cidades mais violentas. A cidade, também na fronteira com a Bolívia, tem enfrentado um aumento de violência nos últimos anos, em grande parte devido a disputas entre facções criminosas, embora o Comando Vermelho ainda não tenha conseguido o controle absoluto da área, como ocorre em outras regiões do estado.
Essas cidades, situadas na linha de fronteira, enfrentam um ciclo de violência que vai além das disputas internas e está diretamente ligado às rotas internacionais de tráfico de drogas e ao domínio de facções criminosas. Apesar da redução nas mortes violentas no Acre como um todo, a realidade dessas localidades evidencia que a segurança pública no estado ainda depende de políticas integradas e específicas para as regiões mais afetadas, especialmente aquelas com alta vulnerabilidade ao crime organizado e ao narcotráfico.
Por A Gazeta do Acre