O Brasil perdeu posições, pelo segundo ano consecutivo, no Anuário de Competitividade Mundial (WCY, sigla para World Competitiveness Ranking). Na edição de 2022, o país ficou em 59º lugar na lista de 63 países, atrás de nações como Malásia (32ª posição), Peru (54ª) e Botswana (58ª).
O Brasil caiu duas posições no ranking deste ano. Em 2021, já hava perdido uma, após quatro anos de sutis avanços na lista. O anuário é elaborado anualmente pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Gestão (IMD, na sigla em inglês) e os dados brasileiros são coletados e analisados pela Fundação Dom Cabral (FDC).
O anuário, que está em sua 34ª edição, analisa um conjunto de 333 indicadores entre dados estatísticos dos países e pesquisas de opinião com executivos e empresários para traçar um índice que mensura que economias têm mais maior chance de alcançar um crescimento de longo prazo. As estatísticas compõem dois terços da nota dada a cada um dos 63 países e as opiniões, um terço.
Para cada nação, são avaliadas quatro grandes categorias: desempenho da economia, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura. O Brasil tem mau desempenho em todas elas.
Neste ano, o primeiro lugar da lista ficou com a Dinamarca, seguida peça Suíça e por Cingapura. As duas maiores economias mundiais, Estados Unidos (EUA) e China, ficaram na 10ª e na 17ª posições, respectivamente. Os EUA ocuparam o mesmo posto do ano passado na lista, já os chineses desceram um degrau.
No caso brasileiro, influenciaram no mau desempenho do país no ranking, principalmente, a inflação em alta (de 3,21% para 8,3% no ano) e o saldo negativo na balança de pagamentos (de -0,86% para -1,74%, em porcentagem do PIB).
Segundo Carlos Arruda, professor da FDC e coordenador do levantamento no Brasil, também impactou negativamente na avaliação local a avaliação feita pela comunidade empresarial da baixa eficiência do governo brasileiro. Foram ouvidos no país 6.000 empresários.
Nesse indicador, o país subiu uma posição: está em 61º lugar.
— O Brasil vai historicamente muito mal nos indicadores de eficiência de governo, que inclui marcos regulatórios e finanças públicas. Nesse conjunto, o país está entre os piores países do mundo. O governo tem feito uma agenda assertiva de simplificação burocrática e de digitalização e o país avançou nessa área. Apesar disso ter sido bem avaliado pela comunicade empresarial, não foi o suficiente para mudar significativamente a posição do país — explica Arruda.
A categoria que mede eficiência dos negócios e do setor produtivo, em que o Brasil costumava estar melhor posicionado, também teve desempenho fraco neste ano. O país caiu da 49ª para a 52ª posição nessa área.
O relatório da FDC destaca a baixa produtividade do país, especialmente no setor de serviços, que corresponde a dois terços do PIB brasileiro.
“A produtividade da força de trabalho também segue sendo umas das menores se comparada com padrões internacionais”, diz o relatório, que ainda ressalta a falta de formação de mão-de-obra qualificada no Brasil.
— O Brasil tem um problema sério de baixa produtividade que está piorando, a qualidade de indicador de mão-de-obra é um gargalo e o país investe muito pouco em educação. A infraestrutura do país também é mal avaliada, está aquém da necessidade das empresas — ressalta Carlos Arruda.
O atual cenário global, com desaceleração de crescimento econômico em grandes economias, em especial da China e dos Estados Unidos, são um desafio maior para economias emergentes e mais vulneráveis, segundo o relatório do IMD.
A perspectiva para o Brasil e outros países da América Latina para os próximos anos, de acordo com Arruda, segue ruim, em especial devido ao baixo investimento em educação, infraestrutura e inovação. Países emergentes do leste europeu como Estônia, Letônia e Eslovênia, por outro lado, têm avançado na área de digitalização e inovação.
— Os países que têm mais mão-de-obra qualificada para explorar inteligência artificial e novas tecnologias, fazem mais investimento em pesquisa e têm políticas públicas voltadas a estimular isso são os que têm melhor perspetiva. Os Estados Unidos e a China se destacam nessas áreas e pode sair bem da crise — diz Arruda.
A lista deste ano teve 63 países. Saíram do anuário Rússia e Ucrânia, em razão da guerra entre os dois países, e estreou no ranking o Bahrain, na 30ª posição.
Por O Globo