As preocupações sobre o custo humanitário do conflito Israel-Palestina continuaram a subir nesta quarta-feira (19), com a informação de que ataques aéreos israelenses mataram 11 crianças em Gaza que estavam sendo tratadas por trauma.
Mais de 60 crianças palestinas e duas em Israel foram mortas desde que a escalada de violência mais recente começou, há mais de uma semana.
O Conselho Norueguês de Refugiados (NRC) disse nesta terça (18) que 11 das vítimas em Gaza —que tinham entre 5 e 15 anos —estavam participando do programa de traumas dele antes dos ataques aéreos que atingiram as casas delas.
O secretário-geral do NRC, Jan Egeland, expressou ultraje pelo que chamou de “troca enlouquecida de foguetes e mísseis” e que tanto os políticos e generais israelenses quanto os militantes do Hamas e da Jihad Islâmica em Gaza deveriam ser responsabilizados.
“O que eles estão fazendo é matar crianças”, disse ele a Zain Asher, da CNN.
Pedidos por um cessar-fogo continuaram a crescer nesta quarta, mas o Exército israelense disse que a operação contra o Hamas em Gaza pode continuar por dias ainda, e foguetes lançados por Gaza mais uma vez dispararam as sirenes em Israel.
Em outro desenvolvimento, quatro foguetes foram lançados em território israelense do Líbano na tarde desta quarta, disseram as Forças de Defesa de Israel (IDF). Eles responderam com fogo de artilharia.
Num aumento de pressão dramático por uma mensagem pública nesta quarta, a Casa Branca disse que o presidente dos EUA Joe Biden disse ao premiê israelense Benjamin Netanyahu que “espera uma redução significante hoje, no caminho para um cessar-fogo” no quarto telefonema entre eles ao longo da última semana.
Um total de 12 pessoas morreram em Israel como resultado dos ataques palestinos, incluindo duas crianças, de acordo com a IDF e o serviço de emergência israelense.
O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, afirmou que os ataques aéreos israelenses mataram 219 pessoas, incluindo 63 crianças, e feriram mais de 1.500 outras nos últimos dias.
Karl Schembri, o conselheiro de mídia regional da NRC, disse à CNN que a organização já lidou com crianças “que tinham pesadelos absolutamente aterrorizantes e violentos, que as incapacitavam”.
“A violência, não há fuga dela. Isso não é como ir até uma linha de frente, que você pode evitar. Essa é a linha de frente vindo para o seu quarto”, disse Schembri.
Em Gaza, mais de 72 mil pessoas são consideradas em deslocamento interno, muitas delas encontrando abrigo em escolas, de acordo com a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
Quatro palestinos, incluindo um jornalista local, foram mortos e outros 10 foram feridos nos ataques noturnos de Israel à Gaza nesta quarta, de acordo com a agência oficial palestina WAFA.
O jornalista, Yusef Abu Hussein, era um locutor da estação de rádio de Gaza Al Aqsa Radio. Ele foi morto em um ataque a uma casa perto do cemitério de Sheikh Radwan, ao norte da Cidade de Gaza, segundo a WAFA.
Na quarta, dezenas de aviões de guerra israelenses lançaram uma série de ataques em vários alvos do Hamas, incluindo um “arsenal de armas” localizado nos escritórios de segurança interna do Hamas em Khan Yunis, e um “centro de comando e controle” em Rafah, disse a Força Aérea Israelense (IAF).
O ataque de 25 minutos de duração destruiu “cerca de 40 alvos embaixo da terra”, disse a IAF em um tweet, acrescentando que 3.750 foguetes foram lançados de Gaza até esta manhã, dos quais 550 falharam e caíram em Gaza. Ainda não é claro quantos desses foguetes foram interceptados pelo sistema de defesa israelense Domo de Ferro. A IDF já disse anteriormente que intercepta mais que 90% dos foguetes.
A IDF também tentou duas vezes alcançar o líder da ala militar do Hamas, Mohammad Deif, ao longo dos últimos 10 dias, uma fonte confirmou à CNN nesta quarta. Em ambas ocasiões, ele fugiu. Não há detalhes sobre as datas ou locais das tentativas de matar Deif.
Deif lidera as brigadas da Izz ad-Din al-Qassam e é um planejador influente dos ataques por mais de 20 anos. Ele é um alvo da IDF há tempos e sofreu vários ferimentos em outras tentativas de matá-lo, incluindo a perda das duas pernas em 2006, de acordo com relatos da mídia israelense.
Numa entrevista coletiva, uma autoridade da IDF disse que estava “se preparando por mais dias” de conflito, em resposta a uma pergunta se um cessar-fogo estava próximo.
A autoridade também deu a explicação mais detalhada até o momento sobre por que Israel destruiu um prédio que abrigava organizações de mídia internacionais, como a Al Jazeera e a Associated Press, no fim de semana.
Ele disse que o prédio Al-Jala’a continha o departamento eletrônico da ala militar do Hamas, que estava pesquisando e desenvolvendo capacidades de alto nível para atacar Israel. O Exército israelense não forneceu evidências da presença do Hamas no prédio, e a CNN não conseguiu verificar a declaração.
A demolição do prédio, ao invés de um ataque mais direcionado, gerou críticas intensas.
A Repórteres Sem Fronteiras, uma ONG que trabalha para proteger jornalistas em todo o mundo, disse estar acionando a Corte Criminal Internacional para investigar se mirar deliberadamente em veículos de mídia constitui crime de guerra.
Porém, Israel já acusou repetidamente o Hamas de operar “deliberadamente” perto de construções como hospitais e escolas, colocando em risco os civis que podem se tornar escudos humanos.
Agora na segunda semana, este é o confronto Israel-Palestino mais fatal desde que os dois lados se enfrentaram em uma guerra em 2014.
Em pronunciamento nesta terça após uma visita a uma base aérea israelense em Hatzerim, o premiê Benjamin Netanyahu disse que as operações continuariam “enquanto for necessário para restaurar a paz para os cidadãos israelenses”.
Referindo-se aos ataques israelenses ao Hamas e à Jihad Islâmica, Netanyahu disse: “Não tenho dúvida que os atrasamos por muitos anos”.
CNN