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Alunos com deficiência rompem barreiras e ingressam na Universidade pública

Suas trajetórias ensinaram professores e alunos que é possível tornar a universidade um espaço mais plural e inclusivo

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Redação Juruá Online

Ingressar na faculdade é um momento de alegria e conquista para centenas de estudantes. Depois de muito estudo e dedicação, receber o diploma traz aos novos profissionais a satisfação do dever cumprido. Mas além da vitória do próprio curso, alguns formandos deram exemplo de que a superação pode ir além dos próprios limites físicos. São alunos que possuem deficiência e se destacam nos estudos, motivando outras pessoas. Suas trajetórias ensinaram professores e alunos que é possível tornar a universidade um espaço mais plural e inclusivo.

O estudante Bruno Feliciano está no sexto período curso de Direito da UFAC. Ele nasceu sem a visão, quando tinha 3 anos recuperou temporariamente sua vista, aprendendo a alfabetização básica, porém,aos 9 anos de idade, perdeu sua visão e permanece até os dias atuais. “Eu me dediquei a aprender braille para continuar estudando”.

Durante sua infância, após perder novamente a visão, Bruno conta que os professores exerciam a oralidade para que ele pudesse acompanhar a educação transmitida. Conta também que sofreu com bullying de seus colegas, por usar óculos especiais.

As técnicas do universitário para a sua aprendizagem na aula vão desde o braille à softwares de voz nos aparelhos eletrônicos. Bruno conta que desde os seus 9 anos ele tem o objetivo de cursar Direito, e que se esforçou muito para conquistar a sua vaga.

Bruno Mesquita

“Quando a gente quer uma coisa, não tem dificuldades nem obstáculos para alcançar”.

Ele relata que sua rotina para de locomoção no dia a dia é bem tranquilo, a única dificuldade que ele enfrenta é a falta de piso tátil dentro do campus de sua faculdade.

“A maioria dos estabelecimentos e vias públicas da cidade não possuem muita acessibilidade para receber algumas pessoas com necessidades especiais”, relata Bruno.

A reitora da UFAC, Guida Aquino, diz que o trabalho de inclusão está sendo reforçado. “Nos primeiros 4 anos da nossa gestão contratou novos interpretes, aumentando a acessibilidade no campus, elevadores, piso tátil”, diz. A expectativa para os próximos anos é cada vez mais fortalecer as políticas de inclusão.

A existência do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI), tem por finalidade executar as políticas e diretrizes de inclusão e acessibilidade de estudantes e servidores com deficiência, garantindo ações de ensino e expansão, além de apoiar o desencontro inclusivo do público-alvo.

Equipe do NAI

Segundo a professora de língua espanhola, Francisca Ramos, as dificuldades para promover a maior acessibilidade na instituição se dá pela falta de recursos financeiros voltados para os núcleos de acessibilidade. “Ainda estamos em um processo de ampliação da equipe do NAI, para que haja um suporte melhor”, relata a reitora. São muitos fatores que necessitam de investimentos.

Políticas de inclusão não se dão apenas por dar nota para alunos de graça, mas sim, adaptar as aulas e projetos para que todos possam participar com suas próprias capacidades e dando o melhor de si.

Rose Quelly

Outra história de superação foi da aluna Rose Queli, recentemente formada no curso de Letras-Espanhol. Rose, ainda na infância, perdeu sua audição, mas isso não barrou suas chances de conquistar seus objetivos. “Com a minha audição não foi fácil, eu pensei muitas vezes em desistir em várias etapas do curso. Quando os professores estavam usando máscara foi muito difícil, eu tinha que fazer leitura labial dos professores para entender”, relata.

Rose Queli, estudante

Rose Queli

“Com essa audição eu não tive só derrotas, também tive muitas vitórias, altos e baixos. A minha família me motivou muito e eu consegui. Passei 7 anos na faculdade, mas eu consegui!”

Ela diz que, assim como Bruno, também sofreu preconceitos de colegas e professores, mas venceu todos eles.

A questão do Capacitismo -discriminação e preconceito contra as pessoas com deficiência- está enraizado na sociedade. Na prática, o capacitismo não envolve apenas termos ofensivos, olhares de julgamento ou invasão de privacidade. Ele está ligado à uma ausência de pessoas com deficiência em diversos espaços da sociedade.

Dados do IBGE de 2012 demonstram que cerca de 24% da população brasileira (46 milhões de pessoas) têm algum tipo de deficiência. E apenas 6% dessas pessoas estão inseridas no mercado de trabalho.

Rose tem o sonho de se tornar professora e ter um futuro melhor, ela diz que mudou sua vida ter a conquistado seu curso. “É só mais um passo que eu estou dando na minha vida”, disse.

A recém-formada relatou que teve o apoio de sua mãe, dona Cleide, e do seu pai, seu Zezin, além do apoio do NAI. Segundo Rose, a questão de alimentação e suporte foi coberta pelo Núcleo. “Eu agradeço a Deus pela minha mãe e pelo meu pai, e pela família do NAI”, disse.

A lei brasileira torna obrigatória às instituições promover monitores dentro da sala de aula para alunos deficientes.

Histórias como as de Bruno e Rose inspiram a superar as dificuldades e fazer a diferença na própria vida e, até mesmo, na do próximo.

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