Acre tem o maior percentual de pessoas diagnosticadas com autismo no Brasil, aponta Censo 2022

Imagem- Ilustrativa (Gettyimagens)

O IBGE divulgou, no último dia 23/5, as informações da publicação Censo Demográfico 2022: Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista – Resultados Preliminares da Amostra. No artigo de hoje, vamos apresentar alguns números do Acre divulgados nessa publicação.

Em 2022, entre as 802,7 mil pessoas com dois anos ou mais de idade no Acre, 59 mil (ou 7,3%) eram pessoas com deficiência.

O número de mulheres com deficiência (32 mil) superava o de homens nessa condição (27 mil). Além disso, enquanto apenas 2% da população de 2 a 14 anos tinham algum tipo de deficiência, esse percentual sobe para 7,51% na faixa dos 15 aos 59 anos e chega a 35,6% entre as pessoas com 70 anos ou mais.

Entre os 59 mil acreanos com deficiência, 37,5 mil tinham dificuldade para enxergar. Em seguida, apareciam as dificuldades para andar ou subir degraus (16,7 mil); para se comunicar, realizar cuidados pessoais, trabalhar ou estudar devido a alguma limitação nas funções mentais (10,3 mil); e para ouvir (9,2 mil).

A tabela a seguir sintetiza os dados do Acre, divididos pelas cinco regionais do estado. Observa-se que 7,3% das pessoas com dois anos ou mais de idade possuem algum tipo de deficiência. Três das cinco regionais acreanas ficaram acima dessa média estadual: Alto Acre (7,9%), Baixo Acre (7,6%) e Tarauacá/Envira (7,4%). Já as regionais do Juruá (6,6%) e do Purus (6,3%) ficaram abaixo da média do estado.

Quanto aos municípios, aqueles com as maiores proporções de pessoas com deficiência foram: Plácido de Castro (10,3%), Porto Acre (8,9%), Brasiléia (8,9%), Bujari (8,6%) e Rodrigues Alves e Feijó (8,1%). Já as menores proporções foram registradas em Santa Rosa do Purus (3,4%), Capixaba (5,1%), Jordão (5,3%), Senador Guiomard (5,8%) e Marechal Thaumaturgo (6,2%).

Entre as regionais, a maior proporção de pessoas com dificuldade para enxergar foi registrada no Purus (52,6%) e a menor no Alto Acre (42,7%). No que se refere à dificuldade para ouvir, a maior proporção também foi no Purus (13,4%) e a menor no Juruá (11%). A maior proporção de pessoas com dificuldade para andar ou subir degraus foi observada no Baixo Acre (22,5%), enquanto a menor ficou no Purus (17,4%). Já em relação às pessoas com dificuldade para se comunicar, realizar cuidados pessoais, trabalhar ou estudar devido a alguma limitação nas funções mentais, a maior proporção foi no Baixo Acre (12,8%) e a menor no Purus (5,3%). Por fim, entre aqueles que tinham dificuldade permanente para pegar pequenos objetos, a maior proporção ocorreu no Baixo Acre (14,6%) e a menor no Juruá (11%).

ACRE E REGIONAIS: Pessoas residentes de 2 anos ou mais de idade com deficiência por tipos de dificuldades funcionais – 2022
População e % de deficientesTipos de dificuldades funcionais
ACRE E REGIONAISTotal de pessoas  2 anos ou mais de idade% de deficientesTotal de deficientesDificuldade permanente para enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de contatoDificuldade permanente para ouvir, mesmo usando aparelhos auditivosDificuldade permanente para andar ou subir degraus, mesmo usando prótese ou outro aparelho de auxílioDificuldade permanente para pegar pequenos objetos, como botão ou lápis, ou abrir e fechar tampas de garrafas, mesmo usando aparelho de auxílioDificuldade permanente para se comunicar, realizar cuidados pessoais, trabalhar ou estudar por causa de alguma limitação nas funções mentais
ALTO ACRE68 7137,95 4133 3479701 6488311 050
BAIXO ACRE443 9817,633 85521 2644 9199 4995 4226 166
TARAUACÁ/ENVIRA84 0147,46 2454 1491 2082 0421 1691 169
JURUÁ148 0196,69 8076 2601 4622 6571 4461 460
PURUS57 9446,33 6642 477629821248535
ACRE802 6717,358 98337 4979 18716 6679 11610 381
Fonte: IBGE – Censo Demográfico – 2022

O Censo 2022 identifica 13,2 mil pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Acre

Esse número corresponde a 1,6% da população acreana. A prevalência foi maior entre os homens (2,1%) do que entre as mulheres (1,1%): 8,7 mil homens e 4,5 mil mulheres foram diagnosticados com autismo por algum profissional de saúde. Entre os grupos etários, aquele com maior prevalência foi o de 5 a 9 anos (4,1%).

Destaca-se que o Acre possui o maior percentual do Brasil de população diagnosticada com autismo em relação ao total de residentes, com 1,6%. Em seguida, aparecem o Amapá (1,5%), o Ceará (1,4%) e, com 1,3%, o Rio de Janeiro, o Espírito Santo e Rondônia

Na tabela a seguir, destaca-se a situação das regionais do Acre. Verifica-se que a maior proporção de pessoas autistas se situa na Regional do Baixo Acre (1,9%), seguida pela do Alto Acre (1,5%). As menores proporções ocorreram em Tarauacá/Envira (0,9%) e no Juruá (1,2%).

Entre os municípios, aqueles que apresentaram as maiores proporções de pessoas diagnosticadas com TEA foram: Rio Branco (2,0%); Plácido de Castro, Senador Guiomard e Porto Acre (1,9%); e Bujari, Epitaciolândia e Manoel Urbano (1,7%).Já aqueles municípios que a presentaram as menores proporções foram: Santa Rosa (0,4%), Mâncio Lima (0,5%) Jordão (0,7%), Tarauacá (0,8%) e Assis Brasil (0,9%).

ACRE E REGIONAIS: População residente maior de 2 anos , total e diagnosticada com autismo – 2022
Acre e RegionaistotalCom autismo%
BAIXO ACRE456 7938 8401,9
ALTO ACRE71 1001 0671,5
PURUS60 0627731,3
JURUÁ153 9481 7831,2
TARAUACÁ/ENVIRA88 1157610,9
Acre830 01813 2241,6
Fonte: IBGE – Censo Demográfico – 2022

Portanto, a realidade revelada pelo censo indica que é necessário amparar, de forma efetiva, as pessoas com deficiência no Acre. Para isso, é fundamental atuar em várias frentes: na formulação de políticas públicas, na conscientização da sociedade, na promoção da inclusão social e na garantia de direitos. Isso se aplica tanto às ações individuais quanto às iniciativas governamentais, empresariais e comunitárias.

A situação das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é ainda mais preocupante. Especialistas da área alertam que é urgente criar uma política pública que funcione de verdade e atenda de forma ampla os jovens autistas. Eles explicam que essa política precisa envolver várias áreas, como educação, saúde, assistência social, trabalho, cultura e lazer. Além disso, é muito importante que as famílias e as próprias pessoas autistas participem ativamente na criação e no acompanhamento dessas ações.

Além disso, os especialistas ouvidos afirmam que é essencial criar conselhos consultivos com a participação direta de pessoas autistas na formulação de políticas públicas.

Chama nossa atenção, também, que, no Acre, os municípios que apresentaram as menores proporções de pessoas autistas são aqueles mais isolados, que muitas vezes enfrentam dificuldades para diagnosticar o TEA. É o caso de Santa Rosa (0,4%), Mâncio Lima (0,5%), Jordão (0,7%), Tarauacá (0,8%), Assis Brasil (0,9%), entre outros.

Quanto mais cedo ocorre o diagnóstico, maiores são os benefícios — já comprovados — tanto para o desenvolvimento da pessoa autista quanto para sua qualidade de vida e a de sua família. Não seria a hora de o governo estabelecer, anualmente, uma força-tarefa ou um mutirão para oferecer atendimento multidisciplinar no interior do Acre, envolvendo psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psiquiatras e outros profissionais, visando ao diagnóstico precoce do TEA?

Orlando Sabino escreve às sextas-feiras no Juruá Online

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