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Acre ocupa terceiro lugar entre estados com maior número de abusos contra meninos

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Por Contilnet

“Eu tinha 9 anos e eu confiava tanto nele que passei a acreditar que ele me amava mais que meus pais e aquela era uma expressão de carinho”, o relato é de um homem [que por razões óbvias não será identificado] que hoje já tem 35 anos. Abusado quando era apenas uma criança, por um tio, irmão de sua mãe, ele disse que esse foi um episódio muito estranho de sua vida. Aconteceu apenas uma vez e ele demorou cinco anos para entender o que tinha acontecido: ele tinha sido abusado por alguém que tanto amou. Ele nunca falou do que aconteceu com nenhum familiar. O tio abusador morreu quando ele tinha 20 anos.

O relato é incômodo, mas é semelhante a muitos. O Acre ocupa o terceiro lugar no ranking de estados com maior número de abusos contra meninos, segundo o Núcleo da Cidadania da Defensoria Pública do Acre.

Cerca de 85% a 90% dos agressores sexuais são pessoas próximas a família: 30% são pais e 60% conhecidos da vítima e de sua família.

Os dados da DPE, mostram que uma em cada três ou quatro meninas e um em cada seis ou 10 meninos serão vítimas de alguma modalidade de abuso sexual até completarem 18 anos.

“Entre março de 2020 e 2021 a capital acreana registrou 133 crimes sexuais praticados contra crianças, 81% dos casos a violência acontece dentro de casa”, disse o defensor Celso Araújo em entrevista recente. Ele reforça ainda que a pandemia traz a subnotificação: “Geralmente é na escola que essas crianças denunciam de alguma forma, estarem em casa faz com que elas não tenham como pedir ajuda”.

Casos de famosos

Recentemente, Diogo Mussi, irmão do participante do BBB 22 Rodrigo Mussi, revelou, em entrevista ao colunista Leo Dias, que ele o irmão teriam sido vítimas de abusos sexuais quando crianças. O abuso cometido foi pela empregada, que, segundo relatos de Diogo, “tirava a roupa e desfilava pela casa, pedia pra gente ficar olhando. A gente tinha quatro, cinco anos de idade”. A narrativa revela outro fator: os abusos não são cometidos apenas por homens.

O humorista carioca Marcelo Adnet, 38 anos, também revelou no ano passado que foi abusado sexualmente durante a infância por duas vezes, aos 7 e aos 11 anos: “Primeira vez foi com 7 anos, e eu tive muita sorte que meus pais e avós voltaram pra casa quando ele estava consumando o ato. Comecei a sentir o desconforto de que estava errado, mas criança não sabe o que é sexo, só que ela sabe que tem algo ali que não é saudável, que não é certo. Teve outro episódio aos 11 anos e aí eu já sabia o que era sexo”.

Subnotificação

De acordo com o relatório anual do Disque 100, canal de denúncias do Governo Federal, somente 18% dos registros de violência sexual contra crianças e adolescentes referiam-se a vítimas do sexo masculino. A subnotificação de abusos contra meninos se torna ainda maior na adolescência. Enquanto 46% dos casos atinge vítimas do sexo feminino entre 12 e 17 anos, a proporção de garotos da mesma faixa etária que denunciam é de apenas 9%.

O fato está ligado a uma cultura machista, se por um lado a família tem resistência em expor casos de violência sexual contra meninas, a sociedade patriarcal tenta acobertar ainda mais os casos que ocorrem com os meninos.

Em recente entrevista recente, a psicóloga Renata Campos falou a respeito da necessidade de as famílias, parentes, professores ou pessoas que tem convivência com as crianças estarem atentas ao sinais de possíveis abusos: “A violência sexual atinge a vítima, mas também todo o seio família então o apoio emocional e psicológico para criança é fundamental, mas também para sua rede de apoio pois ela precisa se munir de possibilidades para dar suporte a esse sofrimento”.

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