A pressão internacional sobre o agronegócio brasileiro tem aumentado nos últimos anos, com notícias de aumento da devastação da Amazônia, onde está grande parte do rebanho bovino do país.
Na cúpula de líderes sobre clima, nesta quinta (22), liderada pelo novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o compromisso de acabar com desmatamento ilegal e reduzir emissões (de gases que causam o aquecimento global) até 2030.
Pecuária X desmatamento
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo. O rebanho se concentra justamente no cerrado e na Amazônia.
A chegada da produção agropecuária na região amazônica foi estimulada pelo governo federal desde a década de 1950, segundo pesquisadores, e isso foi intensificado durante a ditadura militar.
A intenção era ocupar uma região extensa do país, para evitar que fosse invadida por estrangeiros. Na época, não havia a preocupação com o desmatamento e seus efeitos, diferentemente do que ocorre desde os anos 1990.
A plataforma Mapbiomas aponta que, entre 1985 e 2018, 41,9 milhões de hectares de floresta viraram pastagem. Isso significa que 88% do incremento da área de pecuária na região veio da derrubada de florestas.
Criação de gado no Brasil se concentra na Amazônia e no cerrado — Foto: Rodrigo Sanches/G1
Ainda hoje, a pecuária é associada por ambientalistas ao desmatamento ilegal, sendo apontada como razão das queimadas feitas por invasores para abrir novos pastos, derrubando a floresta.
O uso da criação de gado é uma tática comum para a grilagem e para a especulação imobiliária, não sendo, assim, uma atividade ligada ao agronegócio, dizem os pesquisadores.
Com a criação de gado, esses grileiros simulam que área invadida é uma propriedade rural sem registro, a fim de regularizar a posse. A intenção é vendê-la depois, para um produtor ou empresa do setor (leia mais sobre regularização de terras abaixo).
“Desmatar não é fácil e nem barato. A pecuária acaba sendo a forma menos complicada e de baixo investimento para ocupar uma área para especulação e grilagem. É uma desculpa para o grileiro justificar o uso da terra (e conseguir o título da área)”, explicou Marcelo Stabile, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) .
“No fim, o ganho dele (grileiro) não é com a produção de carne, mas com a venda da terra”, disse o pesquisador.
Na cúpula de líderes sobre o clima, nesta quinta (22), Bolsonaro falou sobre “o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030 com a plena e pronta aplicação do nosso Código Florestal”.
O novo código Florestal, que é a legislação ambiental do país, foi aprovado ainda em 2012. Ele trouxe regras para a produção agropecuária na Amazônia. De acordo com a lei, o produtor rural da região tem direito a desmatar 20% da fazenda para a atividade. Os outros 80% devem ser preservados.
O código também deu anistia de multas e punições para produtores rurais que desmataram antes de 2008. Depois desta data, o agropecuarista que desmatou ilegalmente deverá ser punido.
via-G1