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Há 34 anos, Chico Mendes era assassinado em Xapuri

Sindicalista descia a escada de casa para tomar banho num banheiro no quintal quando foi alvejado

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Há exatos 34 anos, no dia 22 de dezembro, uma quinta-feira como hoje, o então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, tombava morto, com um tiro no peito, disparado à queima roupa. Fazia exatamente sete dias que ele havia completado 44 anos de idade. Estava em seu segundo casamento.

Passavam poucos minutos das 18 horas quando a futura viúva Ilzamar Gadelha Mendes, mãe de Helenira e Sandino, os filhos de Chico Mendes ainda crianças, veio pedir que o marido e seus parceiros de dominó desocupassem a única mesa da casa humilde no centro da cidadezinha de Xapuri, já que ela tinha pressa para servir o jantar e ficar livre das obrigações domésticas para poder assistir sossegada ao último capítulo de sua novela preferida.

Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes é assassinado em Xapuri, no Acre |  Acervo
Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado em Xapuri, na casa onde morava com a família/Foto: Reprodução

Era o folhetim “Vale Tudo”, exibida pela rede Globo, que trazia como vilã a personagem da atriz Beatriz Segal, já falecida, que na história havia sido assassinada e, naquela noite, último capítulo da novela, saber-se-ia, enfim, quem havia matado Odete Roitman, o nome da personagem da trama. Na semana anterior, graças à força da audiência da Rede Globo na época, o Brasil interior passara a se preguntar quem havia matado Odete Roitman? Na dura novela da vida real na qual Chico Mendes era personagem central, a partir do início daquela noite, o Brasil e boa parte do mundo passaram a se perguntar quem havia mandado matar Chico Mendes?

Lugar histórico e importante onde Chico Mendes viveu e morreu está fechado em Xapuri/Foto: ContilNet

Porque quem apertara o gatilho, em Xapuri, praticamente todos já sabiam: teria sido o fazendeiro Darli Alves da Silva ou alguém a mando dele. Quem dava conta disso era o próprio Chico Mendes, segundo o próprio afirmara a uma freira ao visitar o Hospital Epaminondas Jácome, naquele dia, lá mesmo em Xapuri. Quando a freira o saudou e o desejou “Um Feliz 1989”, o ano seguinte, Chico Mendes teria arrematado:

– Irmã, acho que não chego nem ao ano que vem.

Não chegaria mesmo.

Naquela noite, ao levantar-se da mesa onde jogava dominó com os policiais militares que cuidavam de sua segurança para ir tomar banho num banheiro improvisado no fundo do quintal da casa. Trazia a toalha no ombro e estava sem camisa, vestindo apenas calção, quando levou uma saraivada de chumbos no peito direito. Peritos da Unicamp (Universidade de Campinas), de São Paulo, ao examinarem o cadáver, constataram que ele levou uma saraivada de 44 caroços de chumbo no peito. Morreu poucos instantes depois, pedindo para morrer dignamente sobre sua cama, no que foi, em parte, atendido.

Cozinha da casa de Chico – o local onde estava minutos antes de ser morto/Foto: Reprodução

O tiro teria sido disparado por Darcy Allves Pereira, um dos filhos de Darli Alves, os quais se entregaram à polícia uma semana após o crime. Nesses 44 anos ainda há dúvidas se foi de fato o filho do fazendeiro quem atirou.

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Darly Alves ao lado do filho Darci durante julgamento pela morte de Chico Mendes, em 1988/Foto: Arquivo TV Acre

A dúvida persiste nesses 44 anos porque Chico Mendes, por causa de seu enfrentamento à UDR (União democrática Ruralista), entidade que congregava fazendeiros no país, tinha interesse em sua morte, já que , por suas relações internacionais, Chico Mendes se tornado uma espécie de peça indesejável ao agronegócio brasileiro.

Militante da reforma agrária e da conservação do meio ambiente, além de fundador de reservas extrativistas não predatórias, Chico Mendes foi assassinado por donos de terras opositores à sua luta.

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Chico Mendes teve três filhos — Angela (da primeira união), Elenira e Sandino/Foto: Reprodução

Chico Mendes nasceu no seringal Porto Rico, localizado na região de Xapuri. Com pai seringueiro, ele acompanhou o trabalho dos seringueiros desde a infância, tornando-se profissional da área. Diferentemente de outros seringueiros, que eram analfabetos devido ao difícil acesso aos estudos na região, Mendes alfabetizou-se aos 16 anos, quando aprendeu a ler e escrever com Euclides Távora, refugiado político que morava próximo de sua casa.

Chico Mendes teve três filhos — Angela (da primeira união), Elenira e Sandino. O ambientalista deixou a viúva Ilzamar Mendes, com quem ficou casado de 1983 a 1988.

Com informações ContilNet

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