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Silêncio de Lula sobre Venezuela na ONU é lamentável, diz diretora da Human Rights Watch | CNN Brasil

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Uma das principais crises atuais da América Latina, agravada nas últimas semanas pelo impasse sobre as eleições presidenciais, cujos resultados oficiais não foram comprovados e portanto, não são reconhecidos pela maioria dos países do mundo, a situação da Venezuela ficou de fora do discurso de Luiz Inácio Lula da Silva, na última terça-feira (26), na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

A omissão da crise venezuelana nos discursos, tanto pelo presidente brasileiro como pelo colombiano Gustavo Petro, dois dos mais ativos na tentativa de mediação entre o governo e a oposição da Venezuela, gerou uma forte reação nas redes sociais da diretora da Divisão das Américas da organização Human Rights Watch, Juanita Goebertus.

“É lamentável que Petro e Lula tenham omitido a gravíssima situação da Venezuela em seus discursos”, escreveu na rede social X, complementando: “Não é momento para manter silêncio. O Brasil e a Colômbia podem e devem fazer muito mais para impulsionar uma transição para a democracia e fazer a vontade popular valer”.

Em entrevista à CNN, a diretora de uma das mais reconhecidas organizações de Direitos Humanos diz que os discursos de Lula e Petro evidenciaram que ambos escolhem não citar a situação venezuelana como um dos principais problemas latino-americanos, e que o silêncio quanto a violações aos direitos humanos e à democracia pelo governo de Nicolás Maduro não deveria ser a única maneira de manter um canal diplomático com o país.

Leia a entrevista:

CNN: O que Lula e Petro podem fazer em relação à Venezuela?

Juanita Goebertus: Lula e Petro, assim como [o presidente mexicano] Andrés Manuel López Obrador, em certa medida, têm um canal privilegiado com Nicolás Maduro e podem usá-lo para impulsionar uma transição para a democracia na Venezuela. Estes presidentes sinalizaram que estão tendo conversas e tentam fazer aproximações, mas já passou muito tempo e continuamos sem ver as atas, sem um escrutínio transparente e a repressão na Venezuela continuou. Desde o dia 28 de julho teve mais de 2.400 prisões, pelo menos 24 pessoas que morreram no contexto dos protestos pós-eleitorais, sem que houvesse justiça por esses casos.

É fundamental que um cenário tão importante como o da Assembleia Geral seja usado para buscar soluções que permitam realmente reconhecer os resultados legítimos das eleições e avançar em um processo de transição a um caminho democrático.

CNN: Lula e Petro realmente podem ter influência sobre Maduro?

JG: Sem dúvida, o próprio Maduro sinalizou que tem uma relação com ambos e reconhece sua liderança no continente, é evidente que podem ter influência.

CNN: Uma fala mais contundente, com Maduro reativo a críticas vindas de fora, não poderia gerar justamente uma interrupção do diálogo com esses presidentes?

JG: É que não pode ser um jogo de soma zero. Não pode ser que a maneira de ter um canal diplomático, de conduzir as relações diplomáticas, seja manter absoluto silêncio e perdoar gravíssimas violações aos direitos humanos e a liberdades, como a de eleições livres e justas. Também não pode ser que o canal diplomático dependa estritamente de se Maduro quer ou não abrir uma porta.

Há formas de gerar uma pressão latino-americana, regional, que não parta simplesmente da boa fé ou não de Maduro de querer usar esse canal diplomático. Num cenário tão importante de política global como a Assembleia Geral, é lamentável que esses países que têm maior influência [sobre Maduro] não coloquem na mesa a situação na Venezuela como um ponto essencial do que acontece na América Latina e que não só afeta os venezuelanos e venezuelanas, mas tem uma implicação regional pelos mais de 7,7 milhões migrantes que saíram do país tentando reconstruir seus projetos de vida.

Tem que haver um processo regional estruturado que ponha muito mais pressão sobre Nicolás Maduro para que as coisas não cheguemos a janeiro [mês de início do novo mandato presidencial na Venezuela] sem que nada mude.

CNN: Então seria necessária uma liderança nesse sentido, de convocar outros países da América Latina para esse diálogo?

JG: Sem dúvidas. Chamar outros é importante, alguns latino-americanos, outros em outras regiões. Mas o que ficou evidente nos discursos tanto do Petro como do Lula é que optam por não mencionar a situação da Venezuela como um dos temas centrais do que está acontecendo na América Latina, e isso é profundamente lamentável e decepcionante.

CNN: O fato de estarem havendo diálogos paralelos, que não sejam mediante uma expressão pública na ONU, não tem seu valor?

JG: Eles poderiam sinalizar quais são os diálogos, sobre os quais até o momento não temos nenhuma informação de se estão avançando, colocar na mesa o que foi feito, qual é a agenda, para onde vai, qual é o progresso. Já estamos a dois meses das eleições e a única coisa que escutamos de maneira reiterada é que nenhum dos dois reconheceu o Maduro como presidente eleito. Isso é positivo, eles insistem que estão buscando diálogo e nada aconteceu nesses dois meses. E é decepcionante que, sendo a Venezuela a situação mais crítica da América Latina ao lado do que acontece no Haiti, este não seja tema central nos discursos do López Obrador, Petro e Lula.

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