A Polícia Civil informou nesta segunda-feira (10), durante uma entrevista coletiva, que os seguranças do supermercado Atakarejo, em Salvador, mentiram no depoimento do caso envolvendo a morte de dois homens, após furto de carne no estabelecimento. A polícia também confirmou que eles pediram R$ 700 para liberar as vítimas.
Três seguranças do estabelecimento foram presos nesta manhã, durante a operação que investiga as mortes de Bruno e Yan Barros da Silva. O gerente do supermercado se apresentou à polícia na tarde desta segunda, mas foi liberado após prestar esclarecimentos.
Tio e sobrinho foram mortos após serem flagrados furtando carne do estabelecimento, no final do mês de abril. A família das vitimas diz que os seguranças do mercado entregaram Bruno e Yan para traficantes da região do Nordeste de Amaralina.
A diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Andréa Ribeiro, revelou que, no depoimento, os seguranças chegaram a negar que teriam entregue as vítimas para traficantes da região. No entanto, as investigações em apontam que eles mentiram.
“Eles foram ouvidos em um primeiro momento aqui na nossa unidade policial, só que no decorrer das investigações, nós fomos trazendo aos autos outros depoimentos, outras testemunhas. Inclusive uma outra vítima que também sofreu violência física no ano passado em circunstâncias muito parecidas. Foi algo determinante na investigação, para que nós pedíssemos a prisão dos seguranças”, disse.
“Começamos a perceber que a ação era algo muito padrão dentro do estabelecimento, não foi uma atuação direta nesse caso que culminou no duplo homicídio. Nós conseguimos identificar, a partir da comparação entre a fala deles [seguranças], o depoimento deles, e a ação anterior a essas falas, de que eles não estariam falando a verdade”, detalhou a delegada Andréa Ribeiro.
Em conversa com o G1 no dia 29 de abril, a mãe de Yan, Elaine Costa Silva revelou áudios em que Bruno pedia dinheiro a uma amiga, para pagar as carnes que eles teriam furtado de um supermercado. No áudio, a vítima relata que os seguranças pediram R$ 700 para liberar tio e sobrinho.
Durante a coletiva desta segunda, a delegada confirmou que um dos seguranças pediu o valor.
“A informação que chegou para a gente e está documentada é de que um dos seguranças, que a gente ainda não consegue identificar qual, pediu o valor. Teria havido pedido esse valor, a fim de liberar as vítimas. Esses valores seriam os valores que cobririam a carne furtada”, disse a diretora do DHPP.
Durante a coletiva, a polícia disse ainda que outras duas pessoas também estavam no estabelecimento junto com Bruno e Yan. Essas pessoas foram ouvidas pela polícia e não tiveram nomes divulgados por questões de segurança.
Um deles chegou a entrar no supermercado, também para furtar carne, mas conseguiu escapar. Já a quarta pessoa ficou no estacionamento para dar apoio ao trio.
‘Tinham dever de comunicar à polícia e não fizeram’
O secretário de Segurança Pública da Bahia, Ricardo César Mandarino, também participou da coletiva e criticou a postura dos seguranças do Atakarejo na ação. Ele chamou a atenção para o fato de que nenhum deles acionou a polícia, apesar de alegar que houve furto dentro do estabelecimento.
“Eles dizem que fizeram ocorrência administrativa, mas em nenhum momento foi registrado oficialmente. Os seguranças não têm poder de polícia, eles podem fazer ocorrência interna para empregados, não podem tomar providência de crimes”, disse o secretário.
“Eles tinham o dever de comunicar à polícia sobre o caso e não fizeram. O supermercado tem obrigação de orientar seus funcionários. E, se contrata empresa para segurança, tem obrigação de saber que empresa é essa, que tipo de atitudes essa empresa toma e tem a obrigação de coibir abusos”, destacou o secretário.
Operação
Além dos três seguranças do mercado, quatro homens – suspeitos de tráfico de drogas – também foram presos na operação da manhã desta segunda. De acordo com a Polícia Civil, eles também têm envolvimento nas mortes. A polícia cumpriu também mandados de busca e apreensão no supermercado e em casas no complexo de bairros que formam o Nordeste de Amaralina.
“No supermercado, estamos colhendo provas através de computadores, documentos, entre outros eletrônicos”, disse a delegada responsável pela investigação, Zaira Pimentel.
Em nota, nesta segunda-feira, o Atakarejo informou que não comenta decisões judiciais e que vai continuar colaborando com as autoridades para que o crime seja esclarecido o mais rapidamente. Disse ainda que reitera a solidariedade aos familiares das vítimas e afirmou que a empresa não tolera qualquer tipo de violência.
Via-G1