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É maravilhoso sentir o pé no chão pela primeira vez e calçar tênis’, diz mulher após tratamento pelo SUS, no DF

Aos 37 anos, Leiliane Melquiades corrigiu malformação congênita que deixava os pés virados. Acompanhamento foi feito pelo Hospital de Base de Brasília, sem necessidade de cirurgia; entenda.

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Foi sentada em um banco do Hospital de Base de Brasília que Leiliane Melquiades sentiu a maior emoção em 37 anos: a de calçar um tênis pela primeira vez. “Eu tentava usar tênis e meus pés ficavam pra fora. Não encaixavam direitinho”, conta a administradora.

“É maravilhoso sentir a planta do pé no chão, pela primeira vez, e calçar o tênis. É como respirar”, diz Leiliane.

Leiliane nasceu em Garanhuns, no interior de Pernambuco, com uma malformação congênita que deixou os pés virados. “Quando era criança meus pais não tinham muito conhecimento sobre o assunto, sem contar a distância para ir até o hospital, e as dificuldades financeiras”, conta.

Com o passar dos anos, as dores para caminhar aumentaram e Leiliane decidiu pesquisar sobre o assunto, na internet. Há sete meses, ela está no DF para fazer o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – e sem cirurgia – com uma técnica que utiliza gesso para que os pés voltem, aos poucos, para a posição certa .

A correção do pé esquerdo está praticamente finalizada. A paciente acredita que em mais duas trocas de gesso também consiga colocar um tênis no pé direito. Para isso, a bota de gesso é trocada a cada semana.

“É uma sensação indescritível você ver o seu pé pra frente, olhar e ver que vai poder ter qualidade de vida, que vai poder pisar sem sentir dor. É o milagre da vida diante dos seus olhos. Tenho uma gratidão imensurável”, diz.

Método Ponseti

Método Ponseti é a terapia usada para corrigir a deformidade congênita nos pés — Foto: Davidyson Damasceno/ IGESDF

Método Ponseti é a terapia usada para corrigir a deformidade congênita nos pés — Foto: Davidyson Damasceno/ IGESDF

Assim como Leiliane, outras seis pessoas, entre 22 e 38 anos, realizaram o sonho de desentortar os pés, nos últimos dois anos, no Hospital de Base de Brasília. O método, chamado Ponseti, foi criado na década de 1950 pelo espanhol Ignacio Ponseti, mas só nos anos 2000 começou a ficar mais popular, em recém-nascidos.

O responsável pela aplicação do método em adultos é o ortopedista Davi Haje, do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGES-DF). Em 2019, ele conseguiu reverter a anomalia congênita de uma mulher de 29 anos.

“Trata-se de uma ação simples de engessamento semanal de membros inferiores para remodelar os pés. Quando necessário, é feita uma pequena incisão para completar correção”, diz o médico.

 Ortopedista Davi Haje no Instituto Hospital de Base, em Brasília  — Foto: Davidyson Damasceno/IGESDF

Ortopedista Davi Haje no Instituto Hospital de Base, em Brasília — Foto: Davidyson Damasceno/IGESDF

A reparação é feita por imobilizadores ortopédicos que posicionam os pés, com a ajuda do ortopedista. “Esse é um processo doloroso, porque o pé da pessoa adulta já está enrijecido. Então, a gente tem que ir forçando o pé para deixá-lo cada vez mais para frente”, diz o técnico Robson Souza Matias.

‘Aprendendo a andar’

Pé de Carlos André Oliveira, de 30 anos, antes de começar o tratamento para corrigir a deformidade no Hospital de Base de Brasília. — Foto: Davidyson Damasceno/ IGESDF

Pé de Carlos André Oliveira, de 30 anos, antes de começar o tratamento para corrigir a deformidade no Hospital de Base de Brasília. — Foto: Davidyson Damasceno/ IGESDF

Carlos André Oliveira, de 30 anos, precisou fazer uma incisão no pé esquerdo para retirar parte do osso, devido a gravidade da deformação. “É uma deficiência que a gente carrega por anos. Então, é uma dor e ao mesmo tempo um alívio. Dá pra suportar”, diz ele, sobre o tratamento.

Carlos conta que sempre quis desentortar o pé, mas nunca teve condições financeiras. “Meu sonho nunca foi ser rico, mas sim fazer a cirurgia no meu pé”, conta.

“Em clínicas particulares eu iria gastar pelo menos R$ 5 mil por mês. Para quem ganha R$ 1 mil pra comer, como que faz? Impossível”, diz o paciente.

Carlos André Oliveira, de 30 anos, faz terapia no Hospital de Base devido deformidade congênita nos pés  — Foto: Davidyson Damasceno/ IGESDF

Carlos André Oliveira, de 30 anos, faz terapia no Hospital de Base devido deformidade congênita nos pés — Foto: Davidyson Damasceno/ IGESDF

Após o procedimento, Carlos destaca uma melhor qualidade de vida, com menos dores e desconfortos na coluna, além do resgate da autoestima.

“Quando eu passava na rua, de sandália – porque eu não podia calçar um sapato –, eu sentia vergonha quando as pessoas olhavam com olhar de desprezo e desconforto. Você não sabe o quanto machuca”, recorda.

“Hoje já estou andando. Meu pé nunca ficou nessa posição [certa]. É como se eu estivesse aprendendo a andar agora. Não tem explicação. É uma sensação maravilhosa”, diz.

Tênis de presente

O barbeiro Iarlen Nascimento, de 22 anos, que corrigiu a deformidade no pé direito saiu do Hospital de Base calçando os tênis que ganhou — Foto: Davidyson Damasceno/Ascom IGESDF

O barbeiro Iarlen Nascimento, de 22 anos, que corrigiu a deformidade no pé direito saiu do Hospital de Base calçando os tênis que ganhou — Foto: Davidyson Damasceno/Ascom IGESDF

Na última sexta-feira (30), o ortopedista Davi Haje doou um par de tênis para Leiliane, um para Carlos e também um para o barbeiro Iarlen Nascimento, de 22 anos, morador do Sol Nascente, no DF. Ele começou a terapia em dezembro passado, para corrigir a deformação no pé direito, e também calçou tênis pela primeira vez.

“Nunca imaginei que iria resolver o problema do meu pé. Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo”, conta Iarlen, que saiu do hospital usando o novo calçado.

“É muito gratificante e especial quando esses pacientes de 20, 30, 40 anos retiram o gesso e, pela primeira vez, e colocam um tênis. Realmente é uma emoção muito grande como médico e é um prazer continuar recebendo esse tipo de paciente. A gente fica muito feliz de poder ajudar”, diz o ortopedista Davi Haje.

Via-G1

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