‘Ficamos nos perguntando que valor a sociedade dá a essas coisas’, diz diretor do Museu ao comparar tragédia, de quase 3 anos atrás, ao incêndio na Cinemateca
Quase três anos depois de o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, ter sido consumido por um incêndio que destruiu a maior parte de sua estrutura e quase todo o acervo, a mais antiga instituição científica do país arrecadou 65% dos R$ 380 milhões avaliados como necessário para sua reconstrução.
A estimativa depende da conclusão de alguns projetos para chegar a um montante final. Os valores foram repassados por meio de doações públicas e privadas, e a previsão é de que as obras sejam concluídas até 2027.PUBLICIDADE
Diretor do Museu Nacional, instituição vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alexander Kellner vê semelhanças entre o incêndio que afetou a instituição e o da noite desta quinta-feira (29), que atingiu um depósito da Cinemateca Brasileira, na Vila Leopoldina, em São Paulo.
“Ficamos assustados em ver a situação da cultura de forma geral, e a situação das instituições científica do país. Temos que aprender com a tragédia de dois de setembro, que completará três anos. Há outras instituições neste caminho. Até hoje o Museu Nacional continua sem água nos hidrantes. Ficamos nos perguntando que valor a sociedade dá a essas coisas. Enquanto isto, vemos a aprovação de um fundo eleitoral bilionário”, afirma.
No momento, o Museu Nacional trabalha para reconstruir os jardins históricos do Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista. A previsão é que o espaço seja entregue à população, junto com uma parte do museu, em 2022, ano simbólico por marcar o bicentenário da Independência do Brasil.
O prédio sede da instituição abrigou a família real portuguesa de 1808 a 1821. O museu foi fundado em 1818, por Dom João VI, e se instalou no edifício, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no final do século XIX.
De acordo com Kellner, já foram realizadas pequenas obras no interior do prédio, para a estabilização dos ornatos. Uma licitação está em andamento para uma obra de recuperação da fachada do primeiro bloco. No último dia seis de junho, aniversário do museu, a direção anunciou a chegada de mais 27 peças greco-romanas para sua coleção. Elas são dos anos 550 a.e.c e 550 e.c, período clássico.
Do acervo original, a maior parte das peças que resistiram fazia parte da coleção de meteorítica. Entre elas, o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no Brasil, com 5,3 toneladas e localizado no sertão da Bahia em 1784.
A licitação para escolha do escritório de arquitetura responsável pela restauração do museu já foi concluída. Agora, a direção trata detalhes e especificidades para dar contornos finais ao projeto, apresentado em fevereiro.
“É a mesma empresa que fez o projeto do Museu do Ipiranga, em São Paulo. Aquele projeto é uma base, não será bem aquilo. Estamos de mãos dadas para adaptá-lo à nossa realidade. Estamos em uma fase de finalização de muitos projetos”, conclui Kellner.
Via – CNN