No ano de 2021 fez 7 anos que Orleir Cameli partiu para o plano espiritual, deixando uma dolorosa saudade para seus familiares. Fatos que irei relatar aqui, foram de arquivos cedidos por Beatriz Cameli.
Minha curiosidade em saber mais um pouco sobre a família Cameli, veio de alguns acervos deixados na Sede da Fundação Elias Mansour de Cruzeiro do Sul. Ao longo de minha vida, foi a primeira vez que vi um trabalho feito com tanto zelo, cuidado e carinho. Beatriz Cameli, deixa viva a lembrança de seu falecido esposo, do pai de família e do ex-governador, em cada detalhe de seu trabalho.
Durante a visita que fizemos a empresa Colorado, conheci Beatriz, a mulher que despertou minha curiosidade por seu trabalho encantador. Pessoa simples, de uma educação excepcional, nos recebeu e mostrou cada detalhe da vida de seu falecido esposo. Em nossas conversas, era notável os olhinhos brilhantes ao falar do marido, do pai e do avô. Tudo para ela tem um pedaço dele, mesmo sendo numa garrafa de café, numa foto ou em comemorações familiares. Também notei a tristeza em falar de sua partida, de seu último abraço e do doloroso adeus.
Na biografia escrita pela ex-primeira dama, ela se refere ao marido como “Um homem além de seu tempo”.
Orleir Messias Cameli, fez parte na construção histórica desta região, desde os seringais do Alto e Baixo Juruá e também na formação da cidade de Cruzeiro do Sul, bem como a integração do Acre aos demais estados da unidade federativa brasileira. Vindo de uma família batalhadora e ousada, que com muita coragem e dignidade, vieram ao mundo para fazer mudança. Mesmo quando o Acre ainda era um espaço considerado desacolhedor, os jovens visionários, netos dos pioneiros, Orleir, Francisco e Eládio, tornaram-se grandes empresários, fazendo diferença em nosso Juruá.
De acordo com a biografia, Orleir Messias Cameli era terceiro filho de Marmud Cameli e de Maria do Patrocínio Carneiro de Messias, nascendo em 16 de março de 1949, no Seringal Belo Horizonte, no município de Cruzeiro do Sul. Seguindo os passos de seu pai, começou a trabalhar muito cedo ao lado dos irmãos. Estudou na Escola São José de Anchieta em Porto Walter. Um homem inteligente, onde se destacava entre as crianças de sua época. Quando adolescente, mudou-se para Cruzeiro do Sul, onde continuou seus estudos, no colégio Marista São José.
Excêntrico, dono de um forte compromisso com o trabalho, construiu vários empreendimentos, marcando assim, ao lado de sua família, a história de Cruzeiro do Sul e do Vale do Juruá. Bastante participativo nas comunidades, foi convidado a ingressar na política. Em 1992, candidatou-se à Prefeitura de Cruzeiro do Sul. Eleito em outubro do mesmo ano, tomou posse em 1º de janeiro de 1993. Promovendo uma mudança radical na administração e na infraestrutura da cidade, ganhou notoriedade em todo o estado. Seu trabalho fez com que seu nome fosse, naturalmente, colocado na esfera política de sua terra natal, como o mais forte para a disputa eleitoral, de 1994, ao governo do Acre.
Em 1º de janeiro de 1995, tomou posse como governador do Acre, contribuiu para mudar a estagnada realidade, implantou programas sociais e priorizou o transporte público, a educação, cultura, saúde, segurança pública, o meio ambiente, agronegócio e as comunicações, possibilitando assim o crescimento do estado e o impulso à economia regional. No ano de 1998 ao terminar seu mandato, ele retomou a suas atividades empresariais, expandiu os negócios, dos quais havia se afastado, devido à dedicação a vida pública. Criou mais empregos, adquiriu equipamentos de ponta e, mais uma vez, impulsionou à economia local.
Falando um pouco de sua vida pessoal, Orleir Cameli, em 1969 contraí matrimônio religioso com D. Izete de Castro Melo, de cuja união nascem os filhos James, Erasmo e Orleir Filho. Alguns anos depois o casal se separa. Em 1975, casa-se em segundas núpcias com a senhora Maria de Fátima Gonçalves, união da qual nascem os filhos Orleilson e Nízia Karine. Alguns anos depois o casal decide pela separação.
(Créditos: Beatriz Barroso Cameli)
Em outubro de 1978, em viagem a Lima, capital peruana, a fim de tratar de negócios, conhece aquela que futuramente seria sua amada esposa, Beatriz Barroso Pardo. Apaixonados, não esperaram muito tempo para confirmação dos elances matrimoniais e firmaram no dia 30 de maio de 1979. Fruto desse amor, nasceu o único filho do casal Linker Cameli.
( Créditos: Beatriz Barroso Cameli)
O início de uma dolorosa luta
Os primeiros indícios de que algo errado estava acontecendo com sua saúde, começaram a surgir em setembro de 2012, quando Orleir passou a enfrentar sérios distúrbios intestinais, acompanhados de constipação, falta de apetite e dores intensas. A princípio, a recomendação foi que fizesse uma dieta rigorosa. Em outubro do mesmo ano, os incômodos persistiram. A esposa e os irmãos o convencem a fazer um check-up. Viaja para São Paulo e realiza diversos exames; alguns específicos, para identificar possível malignidade. O diagnóstico: um tumor no intestino, que foi logo retirado por via cirúrgica.
Aparentemente recuperado, Orleir retorna a Cruzeiro do Sul e retoma a sua rotina de trabalho. Entre os meses de fevereiro e março, de 2013, sob orientação de seu médico, decide fazer sessões de quimioterapia na cidade de Rio Branco. E assim, evitar longas viagens para a realização do tratamento. Na data de seu aniversário, em 16 de março, decide ficar ao lado da família em Cruzeiro do Sul. Em uma cerimônia reservada, revelou sua enfermidade, com palavras de agradecimento e pesar como se fosse uma despedida. Após esta data, viaja novamente a São Paulo para nova avaliação, mas sem grandes avanços, ao que seu médico decide pelo tratamento radioterápico. (Beatriz Cameli)
No início abril, o Dr. Jorge Sabbaga o libera para uns dias de descanso em Manaus. Muito debilitado, Orleir foi acolhido no apartamento da sua mãe, Dona Marieta. Lá, foi improvisada uma mini UTI, onde ele foi monitorado por uma equipe especializada em medicina paliativa de alta qualidade. Apesar dos empenhos médicos, sua saúde foi ficando cada vez mais fragilizada. Não obstante a via crucis pela qual passava, sua fé em Deus era inabalável.
A cada dia, chegavam grupos de oração, rogando por sua saúde, o que muito o fortalecia. Após 22 dias de batalhas e da esperança de cura ter se esgotado, os médicos indagaram sobre o local dos últimos momentos de Orleir. A família opta pelo conforto domiciliar, onde ele tinha o amor dos seus entes queridos. A cada instante, os sinais vitais dele diminuíam. Chegou então a hora de sua esposa pedir que um sacerdote, Frei Faustino, comparecesse ao leito e administrasse a extrema unção, e também o sacramento do matrimônio. Orleir faria essa cerimônia com Beatriz em Cruzeiro do Sul, caso ficasse curado. (Beatriz Cameli).
No dia 08 de maio de 2013, Cruzeiro do Sul amanhece nebuloso, com todas as portas fechadas, e a população sentindo um pesar, pois partia desse mundo o nosso ex-governador Orleir Cameli. A Catedral, local onde seu corpo foi velado e um dos patrimônios da cidade, estava lotada, não havia lugar nem para a família. Todos queriam dar o último adeus ao homem que fez Cruzeiro do sul acontecer. E no meio de todo o tumulto estava Beatriz Cameli, dando seu triste e inevitável adeus, ao seu grande e eterno amor.
Uma história que poderia ter sido bem longa, mas Deus, mesmo sem entendermos, tirou-o deixando uma saudade que Beatriz carrega até hoje. E para não deixar morrer toda uma vida de batalhas e conquistas, a ex- primeira dama deixa um acervo contando todo o legado de Orleir Cameli nos espaços culturais de Cruzeiro do Sul. Fotos da época de campanha, da tradicional festa de debutantes, autoridades que visitaram nosso Acre, reuniões de família e vários fatos históricos realizados. Um trabalho que engrandece nosso conhecimento, e como citado no início, feito com muito cuidado, riqueza de detalhes e o mais importante, com amor. Para ela, além de um homem público, ele foi o escolhido a quem jurou amar até a morte.
“O mundo deve as grandes transformações a pessoas de princípios, fé e ousadia.” ( Ellen White )
Texto escrito por: Louíse I.P.
Fundação de Cultura Elias Mansour.